Excesso de preocupação e mudanças de hábitos na pandemia aumentam queixas de insônia
Mudanças comportamentais e acompanhamento terapêutico ajudam a melhorar a qualidade do sono
06 de abril de 2021 - dificuldade para dormir, pandemia

*Maria Beatriz Aquino
Uma noite mal dormida deixa qualquer um irritado. E essa realidade tem se tornado cada vez mais presente na vida dos brasileiros. Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas, do Ministério da Saúde, realizada em 2020, mostra que cerca de 42% da população relatou alguma alteração do sono, como dificuldade para dormir ou dormir mais do que de costume, e baixa produtividade pelo cansaço gerado pela pandemia. Por isso, o programa de rádio Saúde com Ciência apresenta série que alerta para os cuidados com a saúde do sono e a importância do acompanhamento profissional, uma vez que esse problema pode trazer repercussões para a saúde.
Preocupações diárias, depressão, ansiedade e excesso de tempo cedido ao home office são algumas causas da insônia neste atual cenário. A doença, que ganhou o apelido “corona-insônia” na pandemia, é percebida quando, além da dificuldade de iniciar ou manter o sono durante a noite, apresenta outros sintomas durante o dia, como irritabilidade, sonolência e propensão a erros.
Mas é importante frisar que o comprometimento da qualidade do sono pode estar relacionado à presença de um ou mais distúrbios do sono, além da insônia, como a apneia do sono, privação do sono e transtornos de ritmo circadiano.
O professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Rogério Beato, especialista em Neurologia Cognitiva e Medicina do Sono, explica que é preciso tratar o quadro de insônia, uma vez que uma boa noite de sono é necessária para a manutenção da saúde.
“Nós estamos falando de controle de glicemia, das funções cognitivas com relação à atenção, à memória e do sistema imunológico. Tem vários trabalhos mostrando a relação entre dormir mal com algumas vacinas que demoram produzir anticorpos em pessoas que têm piores noites de sono”, aponta.
O professor ressalta que seguir um padrão entre sete e nove horas de sono pode ajudar, mas essa não é uma regra para todos. Isso porque as necessidades individuais variam de acordo com cada pessoa.
Tratamentos para insônia
O tratamento não medicamentoso deve ser a primeira opção, como a busca por mudanças de hábitos e tratamento terapêutico, como a linha de Terapia Cognitiva Comportamental (TCCI). Essa linha terapêutica atua na modificação de comportamentos disfuncionais que atrapalham o sono, com resultados especialmente a médio e longo prazo.
“Além de se trabalhar hábitos de sono, práticas de sono, trabalha-se também mudanças em relação à própria cognição que a pessoa tem em relação ao sono”, afirma Rogério Beato.
O professor aponta que tratamento à base de remédios deve ser utilizado apenas em último caso e sempre com acompanhamento médico individualizado, para que seja possível reconhecer as necessidades do paciente.

Mudanças de comportamentos para dormir melhor
Mudanças no estilo de vida, quando somadas a outras estratégias, podem ajudar a combater a insônia. Por exemplo, evitar uso exagerado dos eletrônicos, como TV, celular e computador, especialmente durante a noite. Outra dica é limitar o número de horas que fica na cama durante o dia e descobrir atividades que causem bem-estar e relaxamento antes de dormir, como ouvir músicas que despertem esse sentimento de maior tranquilidade e até mesmo um banho quente antes de ir para a cama.
O consumo de cafeína e álcool antes de dormir não são recomendados, já que funcionam como estimulante e podem alterar a distribuição dos estágios do sono. Além disso, é preciso evitar alimentação pesada e não ingerir muito líquido antes de dormir para que o sono não seja interrompido pela necessidade de ir ao banheiro.
Quem procurar?

Mas qual profissional é especialista em insônia? Quem pode ajudar no tratamento dessa doença? Como identificar a insônia desde o início? Essas e outras dicas você confere no programa Saúde com Ciência desta semana.
O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a quinta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.
*Maria Beatriz Aquino – estagiária de Jornalismo
Edição – Karla Scarmigliat