Exposição de fotos aborda a pandemia de covid-19 no contexto de indígenas aldeados

Exposição de trabalhos do estudante de Medicina da UFMG, Otávio Kaxixó, e do professor da Formação Intercultural de Educadores Indígenas, Edgar Kanaykõ, é parte do Abril Indígena UFMG.


13 de abril de 2022 - , , , , ,


Do dia 18 a 29 de abril, a Faculdade de Medicina da UFMG e a Escola de Enfermagem exibirão a exposição “(Re)Tratar – Cura da Terra”, com trabalho de fotografia que ilustra a vida de dois povos indígenas aldeados durante a pandemia de covid-19. As imagens foram feitas em comunidades do povo Xakriabá, no município de São João das Missões (norte de Minas), e do povo Kaxixó, no município de Martinho Campos (centro-oeste mineiro). 

Imagem: Divulgação Exposição (Re)Tratar.

Na Faculdade de Medicina, a exposição estará no Corredor da Memória, organizado pelo Centro de Memória (Cememor) e é aberta para visitas individuais das 8h às 17h. 

Quando recebeu a notícia que a pandemia havia chegado ao Brasil, o estudante de Medicina na UFMG, Otávio Kaxixó, estava em Belo Horizonte. “Tivemos que retornar para nossas comunidades por uma questão de segurança. Meu povo recebeu a covid-19 de forma assustadora, já que a princípio não sabíamos como nos comportar para evitar a infecção. Foi tudo muito instável, assim como foi fora da aldeia”, conta.

As dificuldades aumentaram pela falta de demarcação do território. “Nossa terra não está demarcada e, por isso, fica difícil controlar o fluxo de pessoas que entra e sai das aldeias. Em territórios demarcados, como os do povo Xakriabá, a realidade foi um pouco diferente, já que eles puderam fazer uma barreira de contenção, que foi um ganho diante do enfrentamento da covid”, afirma Otávio. Ele cita, ainda, o descaso político do governo federal em relação aos povos indígenas e à pandemia como outro complicador do enfrentamento no contexto de povos aldeados.

“Nós sempre alertamos para as mudanças climáticas, sempre levamos a mensagem de que a Terra pede socorro. Interferir no meio ambiente como um todo traz para os seres humanos doenças que estão restritas no ecossistema. Sempre alertamos sobre queimadas, desmatamento, e não fomos ouvidos. Precisou acontecer uma pandemia para as pessoas repensarem qual tem sido a nossa relação com o meio ambiente”, denuncia.

Imagem: Divulgação Exposição (Re)Tratar.

Para o estudante do povo Kaxixó, também fomos forçados a refletir sobre o comportamento em relação aos biomas brasileiros. “A pandemia de covid-19 foi trazida de outro continente, mas se no Brasil continuar essa destruição em larga escala, novas pandemias vão surgir em curto espaço de tempo. É o momento de colocar na balança: o lucro ou as vidas”, defende.

A exposição vai retratar um pouco desse contexto. O processo criativo, conta, busca a cura da Terra e a cura de nós mesmos. “No Kaxixó tivemos aumento da exploração de recursos hídricos durante a pandemia, assim como de queimadas para substituição de floresta por lavouras. Foi o agronegócio passando a boiada. Tentamos conter, mas o que mais nos assola é que, ao mesmo tempo, precisamos proteger os nossos parentes da infecção pela covid. Fomos pegos de surpresa. Até hoje tentamos contornar esses abusos”, explica.

Além das fotografias, o material produzido foi base de um documentário. À obra de Otávio, o material soma alguns registros de Emanuel Kaauara, que atuou como videomaker, além de imagens feitas por drone de Marcus Vinicius.“Agora temos como mecanismo de enfrentamento, envolvendo as mídias sociais”, celebra.

“O distanciamento social para nós indígenas é complicado, uma vez que estamos sempre em contato coletivo. É a mesma coisa que nos pedir para deixar de ser indígena”

A exposição faz parte do Abril Indígena UFMG. Com formato inédito, a iniciativa do Programa de Educação Tutorial (PET) Indı́gena, com apoio da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) da UFMG, é divida em quatro temáticas: território, educação, saúde e cultura. “A construção é para mostrar para a comunidade acadêmica um pouco da diversidade dos povos indígenas, quem é o indígena do século XXI e como flutuar nos dois mundos (aldeia e universidade). Precisamos demarcar não só territórios, mas também mentes. E para isso é necessário se aproximar”, completa.

Na UFMG, desde 2010 o Colegiado Especial Vagas Suplementares para Estudantes Indígenas atua na consolidação de políticas voltadas para esses alunos.

“Repensar o que as nossas lentes narram, hoje, através do enfrentamento da pandemia”

Autores

  • Otávio Kaxixó é formado em Enfermagem na UFMG e, atualmente, cursa Medicina. 
  • Edgar Kanaykõ é formado em Ciências Sociais/Humanas, no curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas (FIEI), da Faculdade de Educação da UFMG

Cememor

A fim de manter viva a história da Faculdade de Medicina da UFMG, o Cememor foi criado em 1977 e abriga um vasto acervo de livros, documentos, quadros, esculturas e outras peças fundamentais para a preservação da história da medicina e da saúde.

O Centro é aberto ao público e faz parte da Rede de Museus UFMG.


Atualizada em 28 de abril