Faculdade de Medicina da UFMG participa de testes de vacina contra HIV

Podem participar homens cisgênero ou pessoas trans que fazem sexo com homens cisgênero e/ou pessoas trans.


01 de fevereiro de 2021


A Faculdade de Medicina da UFMG se junta a instituições de oito países no estudo de fase 3 que está testando a eficácia e segurança de vacinas contra o HIV. Os testes já começaram, mas ainda é possível se candidatar, desde que sejam homens cisgênero ou pessoas trans que fazem sexo com homens cisgênero e/ou pessoas trans. Além disso, devem ter entre 18 e 60 anos de idade, não estar infectados pelo HIV e não usar profilaxia pré-exposição (PrEP). As inscrições são feitas pelo telefone 31 99331-3658 ou pelo e-mail mosaico.minasgerais@gmail.com.

A pesquisa, chamada Mosaico, é desenvolvida no âmbito da Rede HVTN e financiada em colaboração com a Johnson & Johnson. Seu principal diferencial é o objetivo de abarcar a proteção para o HIV-1, o mais comum, e seus diversos subtipos. Segundo o professor Titular da Faculdade, Jorge Andrade Pinto, pesquisador responsável pelo estudo na UFMG, esse desafio é a razão de não haver uma vacina passado mais de 30 anos desde o primeiro caso de Aids. “Há a dificuldade de desenvolver uma vacina e depois a necessidade de cobrir essa diversidade de vírus. E é justamente essa a proposta do Mosaico, de ser multivalente”, ressalta.

Outro destaque do estudo é que vai associar duas vacinas:  uma mesma pessoa receberá a vacina de vetor viral e a contendo a proteína gp140 do HIV. A primeira tem o adenovírus 26 (Ad26), usado como vetor e onde são inseridas sequências específicas de partes do HIV. Essa é a inovação. Com essas partes inseridas, pretende-se que seja induzida imunidade a diversos subtipos do vírus.

As vacinas testadas nesse estudo não causam a infecção por HIV ou Aids, porque utilizam apenas fragmentos do vírus. Espera-se que quando o indivíduo vacinado for exposto ao vírus, nos contatos eventuais de aquisição do HIV, o sistema imune esteja habilitado a reconhecer e eliminá-lo antes que cause uma infecção disseminada. Alcançar esse resultado de impacto global pode salvar milhões de vidas das consequências desse vírus pandêmico.

“Como o HIV é tão disseminado e de controle tão difícil, várias estimativas indicam que mesmo que a vacina não seja altamente eficaz, ainda vai poder diminuir bastante o impacto da epidemia”, afirma Jorge Pinto. “Por exemplo, se você tiver considerando que tenha uma vacina que seja 30% eficaz, mas que seja capaz de vacinar 20% da população em risco de aquisição do HIV, você previne cerca de 5 milhões de casos no intervalo projetado de 10 anos. Agora, se você tiver uma vacina que seja 70% eficaz, no outro extremo, e com uma cobertura de 40% da população, o número de infecções prevenidas no intervalo de 10 anos, vai a 28 milhões”, acrescenta.

Ele ainda lembra que, atualmente, só há prevenções medicamentosas, como a profilaxia pré-exposição (PrEP) ou a profilaxia pós-exposição (PEP), além dos métodos de barreira, sendo que a manutenção da adesão é um desafio real. Por isso, também, a vacina contra o HIV é necessária.  Mas não se trata de uma medida de prevenção contra a outra. Como a doença envolve questões comportamentais de longo prazo, o professor defende que “quanto mais estratégias de prevenção tivermos e em modalidades diferentes, melhor será para atingirmos nosso objetivo”.

Jorge explica que o Mosaico é um estudo duplo cego que terá a participação total de 3.800 pessoas, sorteadas e divididas igualmente entre grupo placebo e grupo ativo. Na Faculdade de Medicina, especificamente, está previsto o recrutamento de 120 participantes e isso será feito até julho deste ano. Apenas um comitê externo saberá quem recebeu placebo e quem recebeu vacina, sendo responsável por avaliar a segurança da vacina e o número de novas infecções entre os participantes.

Os candidatos passam por avaliação clínica, incluindo exames. Se aprovada a participação, a pessoa recebe quatro doses, as duas primeiras apenas com vacina de vetor viral e as demais contendo ambas vacinas (vetor viral e proteica), aplicadas no intervalo de três meses. O acompanhamento é feito a cada três meses e depois a cada seis meses. Nos 30 meses totais, será preciso ir à clínica por 14 vezes. Ou seja, a participação requer um comprometimento do voluntário com o centro de estudo e, por isso, é importante que ele permaneça em Belo Horizonte ou na região geográfica acessível para comparecer às avaliações.

O professor Jorge Pinto finaliza destacando o papel da Faculdade de Medicina da UFMG em duas iniciativas tão críticas: a de prevenção do HIV; e a atuação na pandemia do novo coronavírus, incluindo a participação da Instituição no estudo de fase 3 da vacina candidata da Johnson & Johnson contra a covid-19. “Denota a importância estratégica de grupos de pesquisa sediados na Faculdade de Medicina da UFMG. É importante dizer que isso é só mais um exemplo da relevância da Instituição no cenário científico brasileiro e internacional”, conclui.

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