Faculdade homenageia quatro mulheres com nomes de auditórios e sala

Processo visa reparar desigualdade de gênero em espaços de homenagem.


25 de setembro de 2024 - , , , , , ,


Dora Barcellos, Elza Melo, Ana Margarida Nogueira e Ercília de Souza são as homenageadas. Montagem: CCS/Faculdade de Medicina da UFMG. 

A Congregação da Faculdade de Medicina da UFMG aprovou em reunião hoje, 25 de setembro, a nomeação de quatro espaços na unidade. As homenageadas são duas professoras, uma ex-aluna e uma servidora técnico-administrativa. Os espaços nomeados são os auditórios do 6º andar (614), do 4º andar (463) e do 3º andar (dentro do Laboratório de Simulação), além de uma sala de amamentação e descompressão sensorial (030, térreo) que ainda será inaugurada. 

O processo de escolha para as homenagens póstumas envolveu a coleta de sugestões de nomes de mulheres e seguiu o Artigo 1º da Lei Nº 6.454/1977, que regula a denominação de espaços públicos. 

Segundo levantamento do Setor de Arquitetura e Engenharia, dos 13 espaços denominados oficialmente na Faculdade, apenas três eram com nomes de mulheres. “Realizamos uma consulta pública à nossa comunidade em junho e julho e recebemos a proposta de nomes de três professoras, duas servidoras TAE e uma estudante. A Diretoria analisou as indicações, com base na história dessas mulheres, e apresentou a proposta aprovada por unanimidade pela Congregação”, celebra a diretora da Faculdade, Alamanda Kfoury.

A vice-diretora da Faculdade, professora Cristina Alvim, reforça que, “historicamente, a mulher que trabalha e estuda não o faz em condições de igualdade com seus colegas homens”. Ela cita o artigo Desigualdade de gênero na academia: precisamos falar sobre isso, da docente e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), Fernanda Paulini, que destaca que até o início do século XX a carreira científica era considerada imprópria para as mulheres.

Estudos de Aristóteles e Nietzsche colocavam a mulher como biologicamente inapta para as ciências. “A autora afirma – e nós concordamos -, que não basta ser mulher, é necessário ocupar os lugares de decisão para pensar políticas, subverter as desigualdades e promover a transformação de estruturas sociais opressoras”, pontua a vice-diretora.

Com a nomeação, a diretora espera que essa iniciativa simbolize a importância de valorizar e dar visibilidade a participação essencial e relevante de mulheres na história da Faculdade de Medicina. “Acreditamos que conhecer a vida, o trabalho e a luta dessas quatro mulheres maravilhosas irá inspirar colegas e estudantes em seus caminhos na nossa instituição e além dela”, conclui Alamanda.

Conheça as homenageadas de cada espaço:

AUDITÓRIO ANA MARGARIDA NOGUEIRA (6º andar)

Nascida em Portugal em 1955, Ana Margarida mudou-se para o Brasil em 1973 e se naturalizou brasileira, dedicando sua vida à carreira acadêmica e à pesquisa em Anatomia Patológica. 

Foto: VI Encontro de Patologia da UFMG.

Formada pela Faculdade de Medicina de Barbacena, especializou-se em Anatomia Patológica com residência no Hospital das Clínicas da UFMG, Universidade em que também concluiu seu mestrado e doutorado. Ingressou como professora no Departamento de Anatomia Patológica e Medicina Legal da Faculdade de Medicina em 1987, atuando com dedicação exclusiva no ensino, pesquisa e extensão.

Ao longo de sua trajetória, Ana Margarida publicou 83 artigos científicos, sendo 52 em periódicos internacionais, e apresentou 126 trabalhos em congressos, recebendo diversos prêmios. Também contribuiu com dez capítulos de livros e foi uma influente professora e coordenadora dos cursos de graduação e pós-graduação em Patologia na UFMG. Com sua presença marcante e dedicação, deixou uma impressão duradoura em todos que tiveram a oportunidade de conhecê-la e aprender com sua paixão pela ciência e pela educação.

AUDITÓRIO DORA BARCELLOS (4º andar)

Foto: Exposição “Quem é Dôra – Sensibilidade Social e Rumos Políticos” (CEMEMOR).

Aprovada em terceiro lugar no vestibular da Faculdade de Medicina da UFMG em 1965, Maria Auxiliadora Lara Barcellos, também conhecida como Dora, é lembrada por seus colegas como uma pessoa alegre, comunicativa, estudiosa e inteligente. Foi militante política e lutou contra a ditadura civil-militar brasileira nos anos 1960.

Se destacou em suas apresentações no Show Medicina e também por meio de seus escritos. A estudante deixou o curso para se engajar na luta armada e, como integrante da VAR Palmares, foi perseguida, presa, torturada, condenada e exilada do país para o Chile em janeiro de 1971, e posteriormente para a República Federal da Alemanha. Foi internada com depressão e amnésia, morrendo em Berlim Ocidental no ano de 1976.

ESPAÇO ELZA MELO (Térreo)

Foto: CCS/Faculdade de Medicina da UFMG.

Graduada em Medicina pela UFMG em 1980, Elza Machado de Melo cursou mestrado em Ciência Política também pela UFMG em 1994 e doutorado em Medicina Social pela Universidade de São Paulo (USP) em 1999. Atuou na área de Saúde Coletiva, desenvolvendo atividades de ensino, pesquisa e extensão nas áreas de cidadania e democracia, políticas públicas, promoção de saúde e violência contra a mulher.

Elza foi coordenadora fundadora do Núcleo de Promoção de Saúde e Paz da Faculdade de Medicina e do Projeto Para Ela, Por Elas, Por Eles, Por Nós. A professora era considerada uma importante liderança no desenvolvimento de iniciativas de acolhimento a mulheres em situação de violência e vulnerabilidade. Foi uma referência na área de Saúde Pública e uma inspiração para os que a conheceram. Faleceu em maio de 2023, deixando um legado para a Universidade e para as políticas de proteção e acolhimento de mulheres.

AUDITÓRIO ERCÍLIA DE SOUZA (Labsim 3º andar)

Foto: Acervo pessoal.

Foi uma técnica em educação que atuou como assistente de administração do Centro de Graduação (Cegrad) da Faculdade de Medicina da UFMG. Ingressou na Universidade como secretária no Hospital das Clínicas. 

Foi transferida para a Faculdade de Medicina e atuou no Colegiado até meados de 2005. Foi a servidora homenageada da unidade durante a Semana do Servidor de 2007, como parte das comemorações de 80 anos da Universidade. Ercília faleceu em novembro de 2020 vítima da pandemia de covid-19.