Fumantes têm mais chance de desenvolver formas graves de covid-19, segundo OMS

Especialistas avaliam o efeito do coronavírus no corpo de quem fuma


01 de junho de 2020 - , , , , , ,


Em material informativo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o uso de produtos do tabaco, como cigarros, cigarros de palha e cachimbos, danifica pulmões e outras partes do corpo e que, além disso, fumar aumenta o risco de desenvolvimento da forma grave da covid-19. De acordo com pesquisa publicada no Chinese Medical Journal, fumantes têm 14% mais de chances de desenvolver pneumonia por coronavírus.

O pneumologista e professor do departamento de clínica médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Ricardo de Amorim Corrêa, explica que as pesquisas ainda não são conclusivas, devido à metodologia adotada. “De fato, há algumas evidências na literatura a respeito da relação entre o cigarro e a covid-19. Entretanto, essa relação tem sido controversa, muito em função do fato de que esses estudos [que apontam a relação] são observacionais, com números de pacientes incluídos muito heterogêneos em cada estudo”, analisa. “Os estudos apontam o aumento da chance dessas pessoas fumantes contraírem doença pelo Sars-CoV-2, no estudo chinês, 14%. Mas outros estudos não mostraram essa relação de forma tão direta. De maneira que ainda não está estabelecido que a forma grave da covid-19 é um produto de fumar. É preciso mais evidências a esse respeito na literatura”, completa.

O vírus age de forma semelhante no organismo de fumantes e não-fumantes. De acordo com o professor Ricardo de Amorim, o coronavírus tem atração pela superfície de diversas células, entre elas as células pulmonares e as células da parede vascular das artérias. “é uma doença sistêmica, não é específica do pulmão. Pode acometer também os rins e o sistema nervoso central. Os pulmões, como têm uma grande rede vascular, sofrem bastante com a inflamação que advém desse vírus. Mas isso ocorre também entre os não-fumantes”, esclarece. 

Ação benéfica?

Na contramão de estudos como o publicado pelo Chinese Medical Journal, um artigo francês sugere ação benéfica e protetora da nicotina – substância presente no tabaco e responsável pela dependência química – em casos de covid-19.

Segundo o professor Ricardo de Amorim, para o vírus adentrar nas células, é necessário que haja um receptor que leve o invasor para dentro. A partir daí, o coronavírus vai ser replicado e liberado para o organismo, o que vai desencadear a doença. Essa proteína da superfície celular tem uma atração por esse vírus e alguns estudos mostram que essa ligação pode ter relação com a doença, mas não necessariamente com a gravidade dela. “Alguns estudos mostraram que a ocupação dessa enzima por alguns medicamentos, como o da hipertensão, e outras drogas, como a nicotina, pode segurar a ação da enzima e impedir a entrada do vírus nas células endoteliais e pulmonares. Mas isso não está comprovado e nós estamos longe de estimular o tabagismo como forma de proteção da doença”, elucida.

“É apenas um mecanismo metabólico celular do vírus junto às células, mas que não tem nenhuma comprovação de proteção definitiva da ligação da nicotina com esse receptor celular e desenvolvimento de formas graves da covid-19. A indicação de parar de fumar continua valendo.”

professor Ricardo de Amorim Corrêa

Danos no sistema respiratório

O fumo afeta todo o sistema respiratório, principalmente o pulmão. O tabagismo é a principal causa de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e de doenças cardiovasculares. “Uma das complicações importantes do cigarro é que ele dificulta a limpeza ciliar do pulmão, facilitando a manutenção da secreção pulmonar e aumenta a quantidade de muco com dificuldade a ser expelida. Pode haver a DPOC e, certamente, numa patologia que atinge tanto o pulmão quanto a covid-19,é esperado que a gravidade fosse maior”, detalha o infectologista e professor emérito da Faculdade de Medicina da UFMG, Dirceu Greco.

O docente aponta, ainda, que quem fuma há mais tempo, por ter mais danos no organismo causados pelo tabaco, corre mais risco. “A pessoa que já é fumante inveterado, que fuma há muitos anos, vai ter que tomar mais cuidado preventivo, evidentemente. É melhor que não tenha infecção pelo Sars-CoV-2. É um momento importante para pensar em suspender o cigarro, não que vá ter efeito imediato, mas pensando em médio e longo prazo sobre várias patologias associadas com o hábito de fumar”, aconselha.

“O que o cigarro faz é um processo crônico. Hoje, é contado o número de maços fumados na vida para avaliar a gravidade dos danos. Mas, se tem uma hora boa de parar de fumar, essa é mais uma. Porque diminui o risco de patologias, inclusive para infecções bacterianas que podem ser associadas ao vírus Sars-CoV-2.”

professor Dirceu Greco

Se há fumaça…

De acordo com o Ministério da Saúde, 19 milhões de brasileiros acima de 18 anos são fumantes. A fumaça do cigarro contém cerca de 4.700 substâncias tóxicas que estão ligadas ao desenvolvimento de quase 50 doenças, entre elas: vários tipos de câncer, problemas respiratórios e cardiovasculares, impotência sexual, osteoporose e até catarata. Em comemoração ao Dia Mundial sem Tabaco, o Saúde com Ciência exibe série especial sobre o assunto. Confira a programação:

:: Por que o cigarro vicia?
:: Mais risco de contrair o coronavírus
:: Efeitos do cigarro no sistema respiratório
:: Efeitos do fumo na boca
:: Como parar de fumar?

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