Grupo de extensão da Faculdade de Medicina promove evento para conscientizar sobre HTLV

Programação será realizada no Dia Mundial do HTLV e conta com apresentação para população geral, estudantes e profissionais da saúde


05 de novembro de 2021 - , , ,


O HTLV (vírus T-linfotrópico humano) tem uma prevalência de 0,66 % na população de Minas Gerais, o que significa cerca de 140 mil pessoas infectadas no estado. Embora esse seja um número significativo e já ter passado mais de 40 anos desde a descoberta, o vírus ainda é pouco conhecido, seja pela população geral ou pelos profissionais da saúde. Pensando nisso, o grupo Cuidar HTLV, projeto de extensão da Faculdade de Medicina da UFMG, promove o Simpósio Ato do Dia Mundial do HTLV 2021 – Conhecer para Cuidar, no dia 10 de novembro, das 18h às 20h.

De acordo com a coordenadora do grupo, Júlia Caporali, professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade, o HTLV leva a alterações degenerativas e progressivas no sistema imunológico, sendo, também, o mais carcinogênico dos vírus conhecidos atualmente. A grande maioria das pessoas infectadas não desenvolvem nenhum sintoma da doença, mas cerca de 5% dos pacientes têm consequências que podem ser graves, por isso é importante prevenir e diagnosticar. Doenças como leucemia/linfoma, mielopatia motora, alterações de memória, artrite, uveíte, dermatites, são alguns exemplos dessas ocorrências.  

Neste Dia de Conscientização do HTLV, o Simpósio se junta no objetivo das iniciativas mundiais para promover mais conhecimento sobre o vírus, “visando à sensibilização da sociedade para prevenção da transmissão, melhoria da assistência aos portadores e avanço das pesquisas na área”. A programação será online, com apresentação de pesquisas, novidades sobre a doença e um espaço para tirar dúvidas, permitindo a troca entre especialistas e população geral.

As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até o dia do evento: bit.ly/simposiohtlv.

Entendendo mais sobre o HTLV e a importância do diagnóstico

A professora Júlia conta que os avanços em pesquisas sobre o vírus T-linfotrópico humano são menores quando comparados a outros como HIV, vírus da hepatite B e C. “Essa realidade decorre do fato que a linha de pesquisa e a assistência em HTLV foi negligenciada por muitos anos, com recebimento de poucos recursos. O cenário, felizmente, tem se modificado um pouco nos últimos dois anos, com envolvimento da OMS e do Ministério da Saúde. Mesmo assim, há ainda uma enorme lacuna na promoção do conhecimento e do cuidado em HTLV”.

“O Grupo Cuidar HTLV” existe desde 2018, mas desde 1997 há o Grupo Interdisciplinar de Pesquisas em HTLV (GIPH), em que a UFMG é parceira, e ainda assim muita gente da comunidade universitária, e fora dos muros da UFMG, que desconhece a doença. Por isso, estamos em uma luta contínua contra a desinformação”, acrescenta Caporali.

“É uma doença desconhecida e as pessoas têm medo do desconhecido. Então é comum que os pacientes sofram com o preconceito. Mas preconceito a gente combate com conhecimento”

Ela também relata que esse medo dificulta o rastreamento da doença, já que frequentemente as pessoas não querem se testar, por desconhecimento, preconceito ou por não entenderem a importância do diagnóstico. “Há um subdiagnóstico do HTLV na população. Se as pessoas não sabem que são portadoras, elas continuam transmitindo o vírus, inclusive de mães para os filhos durante a gravidez ou amamentação”, alerta.

“O HTLV não causa nenhuma doença em até 90% dos casos, ou seja, não terá nenhum impacto na vida. Mas a pessoa infectada pode transmitir para quem vai ter sintomas graves, como uma leucemia aguda que pode matar ou uma doença neurológica que causa impacto e leva a pessoa necessitar de cadeira de rodas, por exemplo”

ressalta Júlia Caporali, que lembra que a prevenção é a mesma do HIV ou das hepatites virais.

O teste de triagem é ofertado no SUS. Qualquer pessoa pode realizar o exame a partir do pedido médico, mas a recomendação principal é que todas os pacientes com alguma IST sejam rastreados para HTLV. As grávidas também estão dentro do público principal para rastreio, inclusive, a professora informa que a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte está debatendo realizar o teste em todas as gestantes da capital. Caso sejam diagnosticadas com a infecção, elas receberão a recomendação para não amamentar e, assim, diminuir consideravelmente as chances de transmissão do vírus para o bebê

“Às vezes a pessoa tem bexiga ou intestino preso, dificuldade motora para correr ou subir escada, problema cognitivo como memória ruim e depressão, cai frequentemente, tem alterações nos exames de sangue, doenças de pele ou outros sintomas que persistem por um tempo e só após diagnosticada para HTLV sabem que é uma manifestação do vírus”, pontua Júlia, explicando a importância de se fazer o diagnóstico. “Outra vantagem é que os pacientes com a infecção serão cadastrados no ambulatório especializado em HTLV, situado no CTR Orestes Diniz. Como o serviço está ligado aos grupos de pesquisa do mundo todo, caso haja algum tratamento específico, como eliminar o vírus, por exemplo, as pessoas cadastradas podem ser convidadas a ter acesso a essa possibilidade”.

O Ambulatório especializado em HTLV do Hospital das Clínicas da UFMG é referência em Belo Horizonte.
Está localizado no CTR Orestes Diniz (Alameda Vereador Álvaro Celso, 241 – Centro) e realiza atendimento às quintas-feiras, pela manhã.
Este é o serviço para o qual as pessoas diagnosticadas com o vírus HTLV são encaminhadas e realizam o teste de confirmação para a infecção. Se o resultado for positivo novamente, elas são acolhidas pela equipe de saúde, têm acesso a mais informações e podem tirar as dúvidas, além de continuarem sendo acompanhadas desde então.

Simpósio Ato do Dia Mundial do HTLV 2021

De acordo com Júlia Caporali, o objetivo do Grupo Cuidar HTLV é proporcionar conhecimento em dois níveis de saberes, envolvendo pacientes, professores, profissionais de saúde, estudantes e população geral, por exemplo. E o evento também foi pensado assim. “As apresentações serão feitas em uma linguagem popular e uma linguagem técnica para atender os diversos públicos. Será uma troca mútua”, discorre.

A programação trará novidades sobre o HTLV, com três pesquisadoras da Faculdade de Medicina que desenvolveram estudos recentes e vão apresentar os resultados mais relevantes para o público. Carolina Miranda falará sobre a prevalência da doença, se houve aumento da infecção na população brasileira geral ou em grupos específicos nos últimos anos. Olívia Pena vai abordar sobre um inovador e promissor protocolo de fisioterapia, específico para as manifestações motoras do HTLV. E a Tatiana Racha apresentará um tratamento vestibular, uma reabilitação de equilíbrio para a tontura que os pacientes de HTLV costumam manifestar, o que também é inovador e tem possibilidade de resultar em patente.

Outras duas convidadas falarão sobre políticas públicas em HTLV: Tatiane Assone, representante do Ministério da Saúde, e Carolina Rosadas, pesquisadora do Imperial College London

Como nesse mesmo dia vai ter um congresso Internacional de políticas de saúde em HTLV, o simpósio trará as novidades que foram apresentadas durante o evento. Além disso, haverá um momento aberto para que os pacientes se manifestem, inclusive de forma artística. Também terá o tira-dúvidas com os especialistas da Faculdade, na área de Neurologia, Dermatologia, Otoneurologia e Infectologia. As perguntas podem ser enviadas durante a inscrição ou no chat da transmissão no YouTube.

Confira a programação em bit.ly/simposiohtlv.

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