Hábitos sedentários derivam de facilidades contemporâneas e organismo poupador

Sedentarismo é tema da nova série do Saúde com Ciência.


12 de março de 2018


Saúde com Ciência apresenta nova série dedicada ao sedentarismo

Marcos Paulo Rodrigues*

Para a melhoria do bem estar e da qualidade de vida, a pessoa deve abandonar o sedentarismo e dar início à prática de exercícios. A falta de atividades físicas afeta o metabolismo e as funções normais do organismo, podendo resultar em obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e musculoesqueléticas crônicas. Começar essa mudança de hábitos, porém, não é fácil e muitas pessoas desistem rapidamente, já que, hoje, é possível gastar menos energia nas atividades diárias e características do organismo humano induzem à manutenção de hábitos sedentários.

O período moderno trouxe avanços tecnológicos que permitiram ao ser humano desenvolver atividades cotidianas gastando menos energia, por exemplo, com aplicativos de celular que possibilitam receber o almoço em casa, sem nenhum esforço físico. Aliado a isso, o próprio organismo humano tem como característica poupar energia, dificultando o abandono do sedentarismo. “É um organismo poupador de energia, então é muito mais simples para nós criar ou manter hábitos sedentários do que manter hábitos ativos”, afirma o mestrando em Ciências do Esporte pela Escola de Educação Física e colaborador do Laboratório do Movimento da UFMG, João Gabriel Rodrigues.

De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, 62,1% dos brasileiros a partir dos 15 anos não praticam esportes ou atividades físicas. Os números indicam que o brasileiro segue uma tendência global: estima-se que seis a cada dez indivíduos são sedentários no mundo. A cardiologista e professora da Faculdade de Medicina da UFMG, Rosália Torres, reforça que o sedentarismo é uma tradução da forma na qual a sociedade se organizou, resultado de facilidades na rotina do indivíduo. “A pessoa tem que fazer menos esforço para a obtenção das coisas, o que diminuiu muito a atividade física cotidiana. E isso se associou a uma má alimentação, que ficou de má qualidade”, ressalta.

Subir escadas em detrimento do elevador: mudanças pontuais no dia a dia que podem fazer diferença. Foto: Carol Morena

Para a cardiologista, a motivação para a mudança dos hábitos sedentários não costuma ser a ideal. Ao invés de compreender a necessidade do exercício diário para o bem estar e melhora da qualidade de vida, o indivíduo muda, em geral, ao ter que lidar com as consequências negativas dos hábitos que incorporou durante a vida, como um infarto. “Isso é um pouco de questão cultural. É preciso alertar as pessoas para os graves problemas que o sedentarismo traz para todos”, resume Rosália Torres.

Na busca dessa mudança de comportamento, uma estratégia indicada por João Gabriel Rodrigues é o indivíduo começar com práticas que lhe proporcionam prazer. “Rotinas que proponham tempos menores de intervenção, como caminhadas de 15 a 20 minutos, ir a pé para o trabalho ou passear com o cachorro, são atividades que vão propiciar um prazer inicial pelo exercício e que, gradualmente, podem ser aumentadas a depender da adaptação do indivíduo”, exemplifica.

Alimentação inadequada

As consequências do sedentarismo não estão associadas somente à falta de exercícios. Conciliar a prática de atividades físicas a uma alimentação equilibrada e saudável é fundamental na luta contra o sedentarismo e manutenção das funções normais do organismo. As pessoas inativas, geralmente, apresentam uma alimentação inadequada, com o consumo em excesso de alimentos ultraprocessados, com muito sal e açúcar. “A pessoa tende a buscar uma alimentação mais rápida, industrializada, quando ela tem esse estilo de vida sedentário que inclui o sedentarismo e a alimentação não saudável”, observa a professora do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem da UFMG, Larissa Mendes.

Para mudar esse hábito, deve-se redobrar a atenção às dietas sem o acompanhamento profissional adequado. Cada indivíduo tem uma necessidade específica de calorias e nutrientes e uma dieta incorreta pode resultar, por exemplo, em anemia ou deficiência de vitaminas. Segundo Larissa, a transformação alimentar deve buscar a substituição dos alimentos industrializados por aqueles in natura ou minimamente processados, com a inclusão de frutas e hortaliças. “Até mesmo a dieta tradicional com arroz, feijão, uma proteína, seja da carne, do ovo ou de origem vegetal, é uma maneira de adotar um padrão de alimentação saudável”, diz a professora.

Sobre o programa de rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 187 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

*Redação: Marcos Paulo Rodrigues – estagiário de Jornalismo

Edição: Lucas Rodrigues