Importância da espiritualidade na saúde é abordada em Conferência Magna

Espiritualidade é reconhecida na saúde, entretanto, há uma lacuna entre a importância e a real abordagem na prática clínica.


29 de agosto de 2017


Professores, alunos e profissionais da saúde participam da Conferência Magna. Foto: Carol Morena.

“Cuidando do Corpo e do Espírito na Promoção da Saúde” foi o tema da Conferência Magna da abertura do 4º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG. O tema foi abordado pelo coordenador das Sessões de Espiritualidade e de Psiquiatria da Associação Mundial de Psiquiatria e da Associação Brasileira de Psiquiatria e do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Alexander Moreira.

De acordo com Alexander Moreira, pacientes, médicos e educadores reconhecem a importância da espiritualidade na saúde, entretanto, há uma lacuna entre o reconhecimento dessa importância e a real abordagem na prática clínica. “Vários estudos realizados no Brasil e no exterior mostram que a população reconhece isso como importante, os médicos também. Porém, apenas 10%, efetivamente, abordam o tema”, comentou. Ainda segundo o professor, a falta de treinamento, a não abordagem pelas instituições e a ausência de autores ou teorias desqualificam a experiência religiosa. “Várias pessoas não conhecem o conjunto robusto de evidências que existem”, avaliou.

Sobre os conceitos, Alexander explicou que a espiritualidade é a busca pessoal por questões fundamentais sobre a vida, significado e relação com o sagrado ou transcendente, o que pode ou não levar à formação de uma comunidade. E a religião é uma instituição com práticas e crenças, com o objetivo de aproximar do sagrado.

O professor também mostrou um panorama geral de como estão as pesquisas em relação à espiritualidade e saúde. Pesquisa realizada pela UFJF e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostrou que mais de 90% da população brasileira tem alguma religião e um terço frequenta grupo religioso, pelo menos, uma vez por semana.

“Vários estudos realizados no Brasil e no exterior mostram que a população reconhece isso como importante, os médicos também. Porém, apenas 10%, efetivamente, abordam o tema”, comentou Alexander Moreira.

Segundo Alexander, de um modo geral, pesquisas mostram que pessoas com maiores níveis de envolvimento em grupos religiosos, têm menores níveis de depressão, menos usos de álcool e outras drogas, menos taxas de suicídio, menor mortalidade e  melhor qualidade de vida.

Como a maioria da população do Brasil e do mundo tem uma religiosidade ou espiritualidade, ela impacta na saúde do paciente. Alexander lembra que não se pode negar os aspectos físicos, biológicos, sociais ou psíquicos das pessoas. “A gente tem que parar com essa mania de separar, ou olhar a parte física ou a parte psíquica. Por que eu não posso olhar tudo isso? Ver as várias dimensões de um paciente com excelência, ao mesmo tempo? Este é o aspecto central”, questionou. Para o professor, enquanto profissional de saúde, é preciso valorizar o ser humano, o que auxilia a pessoa a ser melhor, saudável e mais plena.

Várias associações médicas do mundo têm recomendado uma avaliação abrangente e a religiosidade é um tema que os pacientes desejam que seja abordado. A Associação Mundial de Psiquiatria publicou, no ano passado, uma declaração formal sobre a importância de se levar em consideração a espiritualidade dos pacientes, ou seja, é dever ético do profissional saber o que impacta essa pessoa.

De acordo com o professor, há evidências que conhecer a influência espiritual e perguntar ao paciente se ele tem alguma religiosidade pode impactar na saúde desta pessoa e aumentar a sua qualidade de vida. Como exemplo de modos de avaliação, ele citou o questionário FICA, que pode ser aplicado em pacientes. F de Fé, para saber se a pessoa tem alguma fé ou crença. I de Importância, da importância que a religiosidade tem para o paciente. C de Comunidade, para saber se a pessoa faz parte de alguma comunidade ou grupo religioso. A de abordar, como a pessoa gostaria de abordar o tema em seu tratamento. “Não pode querer converter o paciente ou negligenciar, ignorar ou desqualificar a vivência dele. Já se sabe que isso importa para a maioria, impacto na saúde física e mental. Pode ser positivo ou negativo, mas pode compreender sua mente”, argumentou.

Para Alexander, o momento é para entender as origens e significados dessas vivências espirituais e expandir e avançar na discussão sobre o tema. A mesa foi presidida pelo coordenador do Eixo Transversal – Práticas Integrativas e Complementares: Saúde e Espiritualidade e professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade, Rubens Tavares.


Abertura do Congresso

Na noite dessa segunda-feira, 28 de agosto, foi realizada a Sessão Solene de Abertura do 4º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG, com o tema “Promoção da Saúde: Interfaces, Impasses e Perspectivas”.

Mesa de honra da Sessão Solene de Abertura do 4º Congresso. Foto: Carol Morena.

Durante a abertura, o reitor da Universidade Federal de Minas Gerais, Jaime Ramírez, comentou sobre a característica humanística e integradora da Faculdade de Medicina. “A discussão destes assuntos só encontra em uma instituição de ensino comprometida com a formação das pessoas e que tem a saúde como exemplo de cidadania”, afirmou.

O diretor da Faculdade de Medicina da UFMG, Tarcizo Nunes, apresentou números da Unidade aos presentes. Atualmente, com 106 anos, o curso de Medicina tem 1950 alunos. O de Fonoaudiologia, com 17 anos de existência, tem 230 alunos e o de Tecnologia em Radiologia, criado há 7 anos, 250 alunos. Além disso, são cerca de 700 alunos na Pós-Graduação. O corpo docente conta com 405 professores, além de 123 servidores técnico-administrativos em educação e outros 90 prestadores de serviços. Nos anos de 2008, 2011 e 2014 foram realizados o 1º, o 2º e o 3º Congresso Nacional da Instituição, respectivamente. “Em 2007, na gestão minha e do professor Francisco Penna, surgiu a ideia de fazermos um Congresso na Faculdade de Medicina com a intenção de discutir temas relevantes para a saúde”, lembrou.

O Congresso conta com três eixos temáticos: “Atenção Primária: Medicina de Família e Comunidade”, “Violência na sociedade contemporânea”, “Qualidade de Morte e estratégia de valorização da vida”, além do eixo transversal “Práticas integrativas e complementares Saúde e espiritualidade. Para a coordenadora executiva do 4º Congresso, professora Cecília Nogueira, a programação foi desenvolvida para atender as várias dimensões da área da saúde. “As questões aqui tratadas no Congresso são, de fato, interdependentes e dialogam entre si. Apontando, inclusive, para novos horizontes, permitindo novos questionamentos e possivelmente novas soluções”, explicou.

De acordo com Samuel Flam presidente da Unimed-BH, uma das patrocinadoras do evento, é uma honra representar a rede de assistência médica em um evento essencial para o desenvolvimento e a construção do conhecimento em saúde. “Acreditamos que a qualidade em medicina é uma construção diária e discutir temas que perpassam o dia a dia da saúde é, sem dúvida, muito importante”, avaliou.

Também compuseram a mesa de honra a vice-reitora da UFMG, Sandra Goulart; o vice-diretor da Faculdade de Medicina, Humberto Alves; a superintendente do Hospital das Clínicas, Luciana de Gouvêa; a diretora da Escola de Enfermagem da UFMG, Eliane Palhares; o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais, Fábio Guerra; e o representante da Associação Médica de Minas Gerais, Luiz Carlos Malinari.


Medalha Cícero Ferreira

A cada gestão de diretoria, a Medalha Cícero Ferreira é concedida a apenas um servidor aposentado do corpo docente ou do corpo técnico e administrativo em educação.  A escolha é feita pelo mérito e relevância da pessoa para a Faculdade de Medicina da UFMG. Durante a aberta do Congresso, a servidora Emely Salazar foi a primeira servidora a ser agraciada com a medalha.

Professora Maria Mônica Freitas durante homenagem. Foto: Carol Morena.

A professora do Departamento de Clínica Médica da Unidade, Maria Mônica Freitas, fez uma saudação à Emely e lembrou a importância da servidora em sua trajetória enquanto aluna e professora. “Emely sempre mostrou preocupação com os estudantes, estando sempre disposta a nos acolher com nossas queixas. Quando voltei à Faculdade como professora, Emely muito me acolheu em minhas dificuldades no início de profissão. Quando me sentia angustiada com meu desempenho ou tinha dúvidas sobre a melhor conduta a tomar em situação difíceis com estudantes, era ela, sempre disponível para ouvir, uma referência para mim e outros professores”, lembrou.

Tarcizo Nunes, Emely Salazar e Jaime Ramírez durante entrega da medalha. Foto: Carol Morena.

Após a entrega da medalha por Jaime Ramírez e Tarcizo Nunes, Emely relembrou sua trajetória na Faculdade e agradeceu a homenagem. “Esta casa é a minha casa. Vocês são a minha família, os meus amigos. Esse agradecimento que eu faço é com o coração transbordando de alegria e com a alma repleta de satisfação. Em nome de todos os servidores daqui eu deixo, com afeto, o meu muito obrigada”, disse.

Conheça a trajetória de Emely Salazar.

 


Apresentação musical

Durante a abertura do 4º Congresso Nacional, também houve a apresentação do grupo Tambor Mineiro, com Maurício Tizumba, do Projeto Para Elas da Faculdade de Medicina da UFMG e do Bloco Saúde da Unimed.

Confira:

Vídeo: Carol Morena

Congresso Nacional de Saúde
A programação da 4ª edição do Congresso reúne mais de 10 mesas-redondas, workshops e oficinas em torno do tema “Promoção da Saúde: Interfaces, Impasses e Perspectivas”, além de três simpósios internacionais nas áreas de prática e ensino de Saúde.

O Congresso Nacional de Saúde vai até 30 de agosto de 2017, com atividades pela manhã e à tarde, divididas em três eixos temáticos e um eixo transversal. O evento conta ainda com atividades culturais, com exposições, apresentações, lançamentos de livros e intervenções durante toda a programação, que integra ainda a programação das comemorações dos 90 anos da UFMG, celebrados em 2017.

A Secretaria executiva do 4º Congresso Nacional da Saúde atende na sala 5, no térreo  da Unidade.

Confira a programação completa na página do Congresso Nacional de Saúde.

Mais informações: 3409 8053, ou ainda pelo e-mail 4congresso@medicina.ufmg.br

Leia também
4º Congresso prioriza áreas da Saúde de maior relevância na atualidade
Simpósio: múltiplas abordagens da violência
Simpósio: formação médica em contexto internacional
Simpósio: novas propostas para enfrentar casos crescentes de obesidade

Acesse todas as notícias e coberturas de eventos sobre o 4º Congresso Nacional de Saúde.