Incorporar tecnologia com ética e racionalidade


05 de setembro de 2014


Não é possível garantir a toda a população todas as intervenções na área da Saúde. Isso porque, entre outros fatores, os recursos são escassos e as tomadas de decisão envolvem desde um médico até um gestor de política, por exemplo, que incorpora ou não dada tecnologia.

Palestrante Mônica Viegas abriu o debate sobre a incorporação de tecnologias à saúde. Foto: Bruna Carvalho

Palestrante Mônica Viegas abriu o debate sobre a incorporação de tecnologias à saúde. Foto: Bruna Carvalho

Isso é algo que também motiva questões relativas à sustentabilidade e bem-estar, debate proposto pela professora da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, Mônica Viegas Andrade. Com a necessidade de mecanismos de racionamento no uso dos serviços médicos monetários ou não, a professora garante que “o objetivo é restaurar o estado de saúde do indivíduo”.

Entre as possíveis explicações para aumentar o investimento na saúde, destacam-se o envelhecimento populacional, uso do tabaco, obesidade e estresse provenientes do estilo de vida atual. Lembrando que a tecnologia melhora a saúde da população, mas pressiona os gastos.

Por isso, a importância de criar critérios para evitar a incorporação indiscriminada de tecnologia, que tem como consequências o impacto orçamentário e a restrição de acesso aos serviços de saúde.

Dicotomias

Foi na década de 1980, após parceria entre a Organização Panamericana de Saúde e o governo brasileiro, que o país implementou a Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS). Hoje, já existe uma lei institucional que regulamenta as tomadas de decisão referentes às ações do Sistema Único de Saúde (SUS).

Para Mônica Viegas, há uma idiossincrasia no caso brasileiro, já que apesar da ampliação da participação do Estado no setor, existe uma rede privada, que é descentralizadora, atuando no SUS. “Os próprios pacientes pedem que os médicos realizem exames antes de uma anamnese mais aprofundada”, relacionou.

Outro exemplo de dicotomia foi dado pela doutora em Clínica Médica pela UFMG e médica do Hospital das Clínicas, Silvana Márcia Bruschi Kelles. Ela revelou algumas estatísticas sobre o exame PSA, que serve para rastrear o câncer de próstata. Em 2006, 95% dos urologistas americanos faziam seu próprio exame e, no ano atual, 56% recomendavam para seus pacientes; em 2010, 57% dos urologistas do Reino Unido também faziam seu próprio PSA.

No entanto, em pesquisa recente, foi constatado que o exame não fazia diferença para o diagnóstico da doença em boa parte dos pacientes com idade avançada. “A gente ainda insiste em atitudes que vão causar mais danos do que benefícios em termos populacionais”, advertiu a médica.

Analogias

Ao apresentar imagens de pontes e outras construções, Silvana Kelles ainda propôs: “E se as intervenções em saúde fossem como estruturas viárias?”

“É em pequenas ruas que os carros e conceitos se perdem. São ‘locais’ onde a cura e a prevenção das doenças ocorrem”, sugeriu.

A mesa-redonda “Incorporação de tecnologias à saúde” foi presidida na manhã desta sexta, 5, pelo coordenador do curso de Tecnologia em Radiologia, Paulo Márcio Campos de Oliveira, e fez parte da programação do eixo 5 – Bioética, Ética e Profissionalismo.

3º Congresso

A programação do 3º Congresso Nacional da Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG reúne sete conferências, mais de 10 palestras e 40 mesas-redondas em torno do tema “Cenários da Saúde na Contemporaneidade”.

O Congresso vai até 5 de setembro, com atividades de 8h às 18h, diariamente, divididas em oito eixos temáticos. O Congresso conta ainda com programação cultural, com exibição de filmes, exposições, lançamento de livros e apresentações ao longo da programação.

A Secretaria executiva do 3º Congresso Nacional da Faculdade de Medicina da UFMG atende na sala Oswaldo Costa, 21, térreo da Unidade.

Acesse a programação completa.

Acesse a página eletrônica do 3º Congresso Nacional de Saúde.

Mais informações: 3409 9105 ou 3409 8055, ou ainda pelo e-mail 3congresso@medicina.ufmg.br.

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