Lançamento do livro lembra dor e luta dos atingidos por rompimento de barragem
25 de março de 2019
Evento abordou a importância de analisar os desastres para que não se repitam

Dor, luta e esperança. Para os organizadores da obra Mar de Lama da Samarco na Bacia do Rio Doce: em busca de respostas, essas palavras simbolizam tanto os episódios de rompimento de barragens no estado quanto o livro, lançado nesta segunda-feira, 25 de março, na Faculdade de Medicina da UFMG. O evento de lançamento, realizado no dia em que se completa dois meses do rompimento da barragem da Vale no córrego do Feijão, em Brumadinho, apresentou o trabalho de 33 autores. Eles buscaram analisar e registrar os crimes humano e ambiental ocorridos em Mariana (MG), há 3 anos, e a repetição deles em Brumadinho.
Ao dar início ao lançamento, os diretores da Faculdade de Medicina e do Hospital das Clínicas da UFMG, professores Humberto José Alves e Andrea Maria Silveira reforçaram a importância da presença da comunidade acadêmica no evento e na produção das reflexões que estão livro. “Discutir esses crimes é como discutir o holocausto: é triste, mas precisa ser feito. É uma forma de lutar para que não aconteça mais”, afirmou Andrea.
O volume lançado e distribuído gratuitamente entre o público é composto por 19 capítulos, sendo os dois últimos sobre o rompimento da barragem em Brumadinho. Para o coordenador do Observatório em Saúde do Trabalhador e um dos organizadores do livro, Tarcísio Márcio Magalhães, o dia escolhido para o lançamento é simbólico. “É o segundo mês de uma dor que, de certa forma, estamos vivendo”, disse. Por isso, para ele, três palavras resumem o livro: “dor, luta e esperança”.

Autores dos capítulos também estiveram presentes no evento. Dentre eles, a assessora de comunicação do Ministério Público do Trabalho, Lilia Gomes Ferreira, responsável pelo capítulo No Curso da Lama. Ela conta que tentou construir uma etnografia fotográfica sobre o desastre.
“Para produzir uma etnografia, normalmente vamos a campo construir uma narrativa de pessoas vivendo em um espaço temporal, físico e social”, explica Lilia. E continua: “lamentavelmente, no caso do rompimento da barragem de Mariana, foi necessário construir uma narrativa da morte. Da morte e suas múltiplas facetas: ambiental, de seres vivos diversos, o apagamento de subjetividades… Essa etnografia, junto com os artigos do livro, buscam contribuir para que isso tudo não caia no esquecimento coletivo”.
Quanto à busca por respostas, anunciada no título do livro, o professor aposentado do Departamento de Pediatria da Faculdade e um dos organizadores da obra, Eugênio Marcos Andrade, enfatizou a importância de se analisar o trágico. “É preciso olhar desde a prevenção e suas falhas até os impactos. E isso não consegue ser feito só pela ciência. Por isso, no livro, ela se soma à visão dos atingidos”, destaca o professor em menção a autores como os do Movimento dos Atingidos por Barragens.
Ainda segundo Eugênio, o livro também traz contribuições ao pressionar para que rompimentos de barragens não se repitam mais. “Mar de lama nunca mais! Isso pode ser um sonho? Então que a realidade seja, pelo menos, de verdadeira responsabilidade na mineração no estado e no país”, conclui.
Confira a galeria de imagens do evento:
Fotos: Carol Morena