Malária: entenda a importância do diagnóstico precoce

Diagnóstico rápido e preciso é fundamental, mas pode ser difícil em áreas não endêmicas. Minas apresenta somente casos importados


10 de setembro de 2018


Diagnóstico rápido e preciso é fundamental, mas pode ser difícil em áreas não endêmicas. Casos em Minas Gerais são importados

Marcos Paulo Rodrigues*

A malária é uma doença infecciosa febril aguda, causada por protozoários transmitidos pela picada da fêmea infectada do mosquito Anopheles. Em áreas não endêmicas, ou seja, menos sujeitas à transmissão da doença, seus sintomas podem ser facilmente confundidos com outras doenças infecciosas. Em alguns casos, portanto, há dificuldades relacionadas ao diagnóstico da malária, que quanto mais precoce aumenta as chances de cura e impede o desenvolvimento do quadro.

Os sintomas da doença tendem a surgir entre oito e trinta dias após a infecção. Dentre eles, febre alta acompanhada de calafrios – diária ou intermitente –, dores de cabeça, muscular ou articular e sudorese, além de náuseas, vômitos e diarreia. No exame físico do paciente, a professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Marise Fonseca, afirma que também é possível perceber fígado e baço aumentados. “Junto a esses sintomas, o mais importante é ter a informação de que a pessoa esteve em área de risco para a malária”, pontua a infectologista.

De acordo com Marise, em geral, o profissional da saúde investiga as atividades recentes do indivíduo, inclusive se ele viajou. Mas é importante que esse indivíduo lembre de confirmar uma possível visita a áreas endêmicas ou, fortuitamente, a regiões de matas em áreas não endêmicas, o que caracteriza uma situação não urbana. A malária tem transmissão rara em ambientes urbanos, exceto em regiões de mata. “Isso salva vidas: toda pessoa que é moradora ou tenha viajado para área endêmica, diante de febre, corre para o serviço médico e fala que está com febre, que esteve em área de malária, e o diagnóstico é feito em meia hora”, resume a professora.

Malária é transmitida pela picada da fêmea do mosquito Anopheles. Foto: Divulgação Inpa

Um diagnóstico preciso e imediato é o primeiro passo na estratégia para o controle da doença. Normalmente, quadros mais graves acontecem por diagnósticos demorados. Segundo Marise, como ela infecta as hemácias, uma repercussão importante é a anemia. Além disso, a doença também pode levar a sangramentos, acometer o cérebro e até evoluir para óbito. “O plasmódio se multiplica, invade hemácias e vai se localizar no cérebro. Aí a pessoa pode entrar em coma, ter convulsão, assim como também pode atingir o pulmão, o rim. A malária é uma condição que se dissemina”, alerta.

Panorama em Minas

A malária é prevalente em países de clima tropical e subtropical da América do Sul e África, dentre outros. No período de 2010 a 2017, Minas Gerais registrou 655 casos confirmados de malária, dos quais em mais de 400 os indivíduos se infectaram em estados da região amazônica do país, sendo cerca de 200 procedentes do continente africano. Neste ano, 20 casos importados da doença foram confirmados no estado e mais de 100 casos no Espírito Santo.

No Brasil, áreas não endêmicas registram cerca de 1% do total de casos no país. Minas tem o mosquito transmissor no seu território, mas não tem a doença, uma vez que o vetor não se encontra infectado. Para o surgimento de um foco de malária, a pessoa infectada traz o protozoário de outra região e, caso o mosquito pique essa pessoa, ele poderá infectar outro indivíduo, o que exige vigilância constante para o controle da doença.

É o que pondera o infectologista responsável pelo diagnóstico e tratamento da malária do Centro de Referência em Malária do Estado, José Francisco Zumpano. Segundo ele, a vigilância, tratamento e diagnóstico devem ser bem estruturados para que as pessoas não morram de malária e a doença não volte a locais onde estava extinta. “A atenção é grande para todos os suspeitos de malária e para a região onde existem os anofelinos. O controle entomológico, saber onde existe a espécie, é de extrema importância para uma vigilância epidemiológica”, destaca o especialista. Ele ainda lembra a relevância de planejar cada viagem, buscando conhecer as doenças existentes na região a ser visitada e as medidas preventivas adequadas, durante e depois da viagem.

Sobre o programa de rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 187 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

*Redação: Marcos Paulo Rodrigues – estagiário de Jornalismo

Edição: Lucas Rodrigues