Mamografia é método seguro para diagnóstico do câncer de mama

Medo da radiação e da dor não devem ser impedimentos para realizar o exame


08 de outubro de 2019 - , , ,


*Laryssa Campos

O câncer de mama é responsável pela maior taxa de mortalidade das mulheres entre os cânceres ginecológicos, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Por outro lado, o diagnóstico precoce dessa doença aumenta em 90% as chances de cura. Para as mulheres entre 50 e 69 anos, o exame de rotina recomendado pelo Ministério da Saúde é a mamografia. Porém, os receios e a falta de informação em relação ao procedimento afastam as pacientes desse exame.

A radiologista e professora do Departamento de Anatomia e Imagem (IMA) da Faculdade de Medicina da UFMG, Críssia Carem Fontainha, explica que a mamografia é adotada por diversos países, pois sua eficácia e segurança são comprovadas. “A radiação é ionizante sim, mas o benefício dela, por ser capaz de identificar um câncer em estágio inicial, é muito maior do que a dose absorvida pelo paciente”, explica a professora.

Além disso, a especialista garante não haver nenhuma evidência científica que contraindique o procedimento, uma vez que as doses de radiação da mamografia são muito baixas e calculadas para não trazer prejuízos. “A quantidade de radiação é calculada para que não seja diferente dos outros efeitos que temos no dia a dia, como o da luz solar”, esclarece.

Mais de 90% da população acima dos 40 anos não corre o risco de desenvolver tumor devido a dose da mamografia, assim como os indivíduos sem histórico familiar de câncer de mama, ou seja, a maioria.

E para a população com menos de 40 anos?
Em caso de suspeita de câncer de mama, esses pacientes devem realizar ultrassom das mamas ou ressonância magnética. Isso porque a mamografia é pouco efetiva nesse público, pois as mamas jovens são muito densas.

Já as mulheres com histórico familiar da doença, são preferíveis outros métodos para o diagnóstico do câncer. Isso porque, esse pequeno grupo é considerado mais suscetível, mesmo às doses baixas. “Para essa população, os médicos procuram outras alternativas para detectar o câncer, como ressonância magnética e estudo genético”, explica a professora.

Mamógrafo Móvel na Rodoviária de Belo Horizonte

Como fazer a mamografia

O professor Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade Medicina da UFMG e mastologista, Clécio Ênio de Lucena, explica que o intervalo para realização da mamografia é anual ou bianual, dependendo do caso de cada paciente. “Cabe ao profissional individualizar para cada um o risco potencial para a doença. Aqueles que tem o risco maior devem ser rastreados num intervalo de tempo mais curto”, argumenta. 

A professora Críssia Fontainha acrescenta que raramente é necessário repetir o exame em pouco espaço de tempo. “Na maioria das vezes só repete a mamografia se houver uma suspeita na primeira imagem que foi gerada”, pontua. Já as pessoas curadas do câncer costumam fazer o exame de seis em seis meses para controle e verificar se houve alguma metástase.

É Fake: mamografia não causa câncer de tireoide

Clécio Ênio de Lucena desmente informações compartilhadas nas redes sociais que relacionam o desenvolvimento do câncer de tireoide com a radiação da mamografia. “Pessoas que fazem mamografia não têm mais chance ter essa doença do que aquelas que não fazem. Essa exposição que a paciente recebe de tempos em tempos é extremamente baixa e não é capaz de desenvolver câncer e nem outras doenças”, enfatiza. 

Essa notícia falsa fez com que pacientes começassem a solicitar o protetor cervical de chumbo para realizar a mamografia. Mas a radiologista adverte: o uso do acessório atrapalha o desempenho do exame de rastreamento. “Se não houver indicação médica, o protetor vai atrapalhar o exame porque ele sobrepõe parte da mama e impede a mobilidade do posicionamento”, alerta.  

5 minutos pela saúde

Durante a mamografia, a dor é uma reclamação comum entre as mulheres. A professora Críssia Fontainha conta que muitas acreditam que a dor é consequência de um trabalho mal executado dos técnicos em radiologia, o que não é verdade. “Os tecidos da mama estão sobrepostos. Assim, quando ocorre a compressão, essa sobreposição é reduzida. Então, se a paciente tiver algo encoberto na mama, a pressão garante maior homogeneidade ao tecido e melhor visibilidade”, continua. 

O professor Clécio Ênio de Lucena explica que a mamografia é um exame rápido, no qual comprime-se a mama de cima pra baixo e na lateral para um exame completo. “Isso não dura mais de 5 minutos, pois cada exame dura cerca de 50 segundos”, assegura. No total, são realizados quatro exames, ou seja, duas mamografias de cada mama.

Se conhecer

Clécio Ênio também reforça a importância do autoexame. Ele explica que, comprovadamente, esse método não é eficiente no combate à mortalidade pelo câncer de mama. Contudo, é um aliado no acompanhamento da saúde pelas próprias mulheres, principalmente, as que não têm acesso ao exame da mamografia. “A grande maioria das lesões, não só os nódulos benignos e maligno, foram identificadas pelas próprias pacientes. O autoexame tem um papel e é muito interessante instigar a mulher ao autocuidado e a preocupação com a própria saúde”, recomenda.

Como fazer o autoexame?

Foto: Carol Morena.

Autoexame em três etapas:
1) Observação: Observe a mama de frente para o espelho. Alterações como ferida na auréola ou bico do peito; mudança do formato da mama com estufamentos ou partes mais fundas devem receber atenção.
2) Toque: Crie o hábito de analisar e tocar as mamas. Caso tenha dúvidas se o que está tocando é uma alteração, compare com a área respectiva da outra mama.
3) Percepção: Esteja atento para secreções espontâneas que saem das mamas. A mama produz secreção naturalmente. Portanto, não comprima as mamas para analisar esse sintoma, pois esse líquido pode não significar nada.
Em caso de alterações como essas procure um especialista.

*Laryssa Campos – estagiária de jornalismo
edição: Karla Scarmigliat