Medicina da UFMG inicia estudo com anticorpos monoclonais para tratamento da covid-19

Podem participar voluntários maiores de 18 anos, que tiveram infecção pelo vírus SARS-CoV-2 há menos de 10 dias e não foram hospitalizados.


26 de julho de 2021 - , ,


A Faculdade de Medicina da UFMG inicia o estudo ACTIV-2, um tratamento promissor para a doença causada pelo novo coronavírus que utiliza anticorpos monoclonais (mAbs=monoclonal antibodies). Indivíduos maiores de 18 anos, que tiveram infecção pelo vírus SARS-CoV-2 há menos de 10 dias e não foram hospitalizados podem participar da pesquisa, que acompanhará até 20 voluntários na universidade.

O estudo internacional Accelerating COVID-19 Therapeutic Interventions and Vaccines (ACTIV-2) é uma plataforma de tratamento para pacientes ambulatoriais com Covid-19, coordenada pela National Institutes of Health (NIH), e que utiliza anticorpos derivados de pessoas que tiveram a infecção pelo novo coronavírus. Além da Faculdade de Medicina da UFMG, a pesquisa envolve múltiplos centros nos EUA, Argentina, Peru, África do Sul e outras regiões do Brasil, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Serão incluídos 700 participantes no total, sendo que 450 já estão em acompanhamento.  

COMO FUNCIONA?

Na UFMG, dois participantes já integram o estudo, que recrutará até 20 voluntários a fim de verificar a evolução clínica com o tratamento, transmissão para os contatos e tempo de duração para a excreção dos vírus.

Nessa primeira fase, os voluntários irão receber o tratamento com os mAbs BRII-196 e BRII-198 produzidos pela Brii Bioscience. Os anticorpos serão aplicados em dose única, por infusão venosa (diretamente em uma veia, por meio de uma agulha ou de um cateter esterilizado), na unidade de Covid do ambulatório São Vicente, do Hospital das Clínicas da UFMG.

De acordo com o professor da Faculdade de Medicina da UFMG e imunologista Jorge Andrade Pinto, líder da equipe que conduzirá o estudo na instituição, o primeiro passo é demonstrar que os mAbs são seguros e eficazes para tratamento de pacientes de alto risco não hospitalizados.

“É importante dispormos de tratamentos efetivos e cientificamente, comprovados que possam ser utilizados nas fases iniciais da COVID-19, prevenindo a progressão da doença para formas graves e a necessidade de tratamento hospitalar”, ressalta o professor.

TRATAMENTO

Os mAbs atuam bloqueando a ligação do vírus ao receptor celular. E já receberam aprovação de uso emergencial pelas agências regulatórias (FDA, EMEA), para uso em pacientes de alto risco na fase inicial da doença (não hospitalizados). 

No laboratório, os anticorpos passam por processos de purificação e expansão e quando aplicados, conseguem aderir à espícula da superfície do vírus que causa o Covid-19. Com isso, impedem que o vírus entre nas células e as infecte.

Esse avanço é importante principalmente para pessoas com comorbidades que têm risco aumentado de evoluir para formas graves da Covid-19. Isso porque pode funcionar como tratamento para prevenir o aparecimento da doença e sua progressão.

COMO PARTICIPAR?

Os voluntários devem ter idade acima de 18 anos, apresentarem documentação de infecção pelo SARS-CoV-2 há menos de 10 dias, sem indicação de hospitalização e com saturação de oxigênio acima de 92%. Os selecionados serão acompanhados por 72 semanas por meio de visitas remotas, em chamadas telefônicas e entrevistas com vídeo com os pesquisadores. Visitas presenciais ocorrerão nas semanas 4, 12 e 24 após a infusão.

Ao assinar um termo de consentimento livre e esclarecido, os voluntários passam por alguns exames para verificar coração, pulmões e saúde geral, bem como um exame de sangue e um esfregaço de nariz. Por fim, cada voluntário é alocado aleatoriamente para  receber o mAb ou o  placebo.

Os interessados podem contatar a equipe do estudo através do telefone/whatsapp: (031) 981091143 ou pelo e-mail: cov3001.ufmg@gmail.com

SEGURANÇA

Ao longo da história, os mAbs humanizados que foram desenvolvidos mostraram uma eficácia considerável para as infecções virais. O primeiro foi o Palivizumabe em 1998, o qual é usado para o RSV. Os anticorpos monoclonais também foram desenvolvidos rapidamente para infecções emergentes, como Ebola.

O professor Jorge Pinto explica que os testes com os anticorpos são seguros, uma vez que a tecnologia atual permite que mAbs sejam produzidos exigindo apenas a cultura de tecidos ou sistemas de expressão microbiana.

“Deste modo, a potencial toxicidade de mAbs humanizados é comparável à dos antibióticos”, completa.

Há pelo menos 25 companhias desenvolvendo produtos baseados em mAbs para o tratamento da Covid-19, em diferentes estágios de desenvolvimento. O estudo ACTIV-2, coordenado pela NIH, integra o mesmo programa responsável pela Covid-19 Prevention Network (CoVPN), rede que realizou teste com a vacina contra o novo coronavírus do grupo Johnson & Johnson, e pela Rede HVTN, responsável pela Pesquisa Mosaico, que desenvolve vacina contra o HIV.

Uma equipe do centro de pesquisa do Hospital das Clínicas da UFMG realizará um estudo idêntico, porém com grupos diferentes de pesquisadores e de maneira separada da pesquisa coordenada pela Faculdade de Medicina da UFMG. Outras modalidades terapêuticas, incluindo drogas de administração subcutânea, oral ou por via inalatória estão previstas para os próximos meses por esse mesmo programa.