Médicos vão precisar oferecer teste de HIV durante consulta

Recomendação do Conselho Federal de Medicina será publicada neste mês


01 de dezembro de 2015


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Foto: reprodução/internet

A partir desse mês de dezembro, o Conselho Federal de Medicina (CFM) fará uma recomendação para que todos os médicos, durante encontros clínicos, ofereçam ao paciente quatro testes: HIV, Hepatite B, Hepatite C e Sífilis.

A recomendação, que já foi aprovada pelo Conselho, deve ser publicada em reunião plenária na próxima segunda-feira, dia 7. A proposta foi feita pela Câmara Técnica de Bioética do CFM e começa a ser implantada a partir da publicação. Durante a consulta, o médico pode oferecer os testes e, caso o paciente concorde, ele fará os pedidos para exame.

Segundo o infectologista e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Dirceu Greco, um dos principais desafios é alcançar as cerca de 150 mil pessoas que vivem com o HIV no Brasil, mas que ainda não sabem que estão infectadas. “É esperado que os testes sejam negativos na maioria das vezes e a entrega dos resultados será uma grande oportunidade para reforçar a necessidade de prevenção aos riscos das doenças sexualmente transmissíveis. Por outro lado, aquelas que tiverem o resultado positivo para o HIV ou para sífilis, por exemplo, serão imediatamente encaminhadas para tratamento e já se sabe que o tratamento eficaz aumenta a sobrevida e a qualidade de vida, além de diminuir exponencialmente o risco de transmissão”, explica Greco.

A Aids

Segundo relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), divulgado em julho deste ano, o número de novas infecções por HIV no mundo diminuiu 35,5% entre 2000 e 2014. Em 2000, a estimativa era de 3,1 milhões de pessoas infectadas no mundo que, em 2014, caiu para 2 milhões. Entretanto, no Brasil o número de novos casos aumentou no mesmo período. Em 2000, a estimativa era de 29 mil a 51 mil novos casos de HIV, número que subiu de 31 mil a 57 mil novos casos em 2014.

Segundo Dirceu Greco, este é um quadro com números do mundo inteiro e há lugares com maior concentração de pacientes. “Só na África do Sul são quase 7 milhões de pessoas infectadas, das 32 milhões em todo o mundo. África e, especialmente a região subsaariana, levou muito tempo para realmente disponibilizar o tratamento.  Assim, quando o tratamento passa a ser mais disponível é esperada queda inicial significativa e é exatamente o que está acontecendo nestas regiões. Países e regiões onde o enfrentamento do HIV/Aids foi precoce, como o Brasil, os Estados Unidos e a Europa Ocidental foram capazes de impedir que houvesse grande número de pessoas infectadas, sem entretanto controlar completamente a transmissão do vírus. Nesta situação, torna-se mais visível qualquer aumento, o que justifica ainda maior empenho para combatê-lo”, argumenta.

Mesmo com o estabelecimento precoce de um programa nacional para o enfrentamento da epidemia e do número relativamente baixo de pessoas infectadas pelo HIV no Brasil, quando comparado com a África do Sul, por exemplo, vale lembrar que, anualmente, ainda morrem de 10 a 12 mil pessoas no país por causa da doença. A Aids tem métodos eficazes de prevenção e de tratamento, mas ainda não desapareceu e tem aumentado entre os jovens,  principalmente os homossexuais. “Há diversas explicações para este aumento, entre elas que a doença está menos visível. O jovem de hoje não viu a fase mais complexa da infecção do HIV, quando a mortalidade era maior, hospitais não atendiam e médicos e enfermeiros não queriam chegar perto. Hoje, há a falsa sensação que já não é mais problema, pois o lado positivo da existência de tratamento eficaz veio associado à diminuição da discussão sobre a necessidade de prevenção e com pouca visibilidade na mídia”, explica Greco.

Tratamento

O diagnóstico e tratamento para as pessoas vivendo com HIV/Aids no Brasil é todo disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). São 21 tipos diferentes de medicamentos existentes. Greco lembra que, em 1996, quando começaram a aparecer os “coquetéis”, as pessoas chegavam a tomar até 18 comprimidos por dia. Hoje, o Brasil já disponibiliza para o início do tratamento uma associação com três medicamentos em um comprimido único para ser tomado uma vez ao dia. “É realmente um grande progresso, facilitando a aderência ao tratamento, que deverá ser mantido pelo resto da vida ou até que se descubra a cura da infecção. Hoje é possível afirmar que as pessoas que vivem com HIV/Aids no Brasil, onde existe o acesso à tratamento eficaz e que tomam os medicamentos de maneira correta têm toda a chance de sobreviver”, afirma Greco.

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Foto: reprodução/internet

Prevenção

A principal forma de prevenção para não ser infectado pelo vírus é o uso do preservativo durante a relação sexual. No Brasil, cerca de 800 milhões de preservativos são distribuídos anualmente pelo SUS.

Outro caminho para o controle da epidemia é o desenvolvimento de vacina eficaz, como acontece em relação a outras doenças infecciosas. Entretanto, até hoje os esforços para este desenvolvimento não tiveram sucesso e mesmo os mais otimistas temem que uma vacina contra a Aids não seja capaz de conferir imunidade esterilizante, ou seja, não será capaz de proteger 100% o organismo do vírus. “É possível que mesmo com o desenvolvimento de uma vacina ainda haverá pessoas que se infectarão. Além disto, esta tão esperada vacina prevenirá apenas uma das doenças sexualmente transmissíveis, ou seja, a pessoa continuará exposta, entre outros, ao HPV, sífilis, hepatite B e a gonorreia. Isto significa a necessidade de reforçar o uso do preservativo mesmo que uma vacina seja desenvolvida e disponibilizada”, avalia Greco.

Atualmente, existe a prevenção com o uso de preservativo, prevenção com medicamento, possibilidade de vacina e o tratamento em si como prevenção, pois a diminuição da carga de vírus diminui o risco de transmissão. “Temos hoje em mãos todos os instrumentos necessários para acabar com a infecção, mesmo que ainda não consigamos eliminar o vírus”, explica Greco.