Morte por doenças cardiovasculares aumentaram durante pandemia

Sobrecarga no sistema de saúde e abandono de tratamento são principais motivações


28 de março de 2022 - , ,


*Maria Beatriz Aquino

A pandemia ainda não terminou, mas já é possível observar as sequelas para a saúde. Uma delas diz respeito à saúde de um dos órgãos mais importantes do corpo humano: o coração. Uma pesquisa feita pela UFMG, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Sociedade Brasileira de Cardiologia, apontou que o número de mortes por doenças cardiovasculares no Brasil cresceu até 132% durante a pandemia.

Entre as enfermidades, o infarto e o Acidente Vascular Cerebral (AVC) foram aquelas que mais se destacaram. Somente o AVC levou a mais de 230 mil óbitos no país em 2021. A maior parte foi na faixa-etária entre 70 e 79 anos.

“O que a gente viu foi que: aumentou muito o número de mortes domiciliares, justamente porque a pessoa não ia aos serviços de saúde ou não conseguia ser atendida. Também aumentou muito o número de óbitos por causas inespecíficas, como parada cardíaca”, avalia o professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Bruno Nascimento, um dos responsáveis pelo estudo. Ele também é cardiologista intervencionista do Hospital das Clínicas. 

Além das dificuldades de acesso aos serviços de saúde durante a pandemia, outro fator para o afastamento de pessoas com comorbidades, como hipertensão e diabetes, foi o medo de se contaminarem pelo vírus. Isso porque elas têm mais chances de desenvolverem casos mais graves da covid.

Relação entre doenças e covid

A infecção pela covid-19 pode agravar algumas doenças cardiovasculares pré-existentes ou levar ao desenvolvimento de enfermidades nesse órgão em pessoas com predisposição genética. Esse é o caso da miocardite. A doença é conhecida por causar inflamação no tecido muscular do coração – o miocárdio – e provocar o inchaço do órgão. Além da covid, outros vírus comuns, como da gripe, também podem levar ao desenvolvimento da miocardite, o que exige ainda mais cuidados. 

Para tornar o cenário um pouco mais preocupante, os sintomas da miocardite podem se assemelhar aos mesmos do novo coronavírus e dificultar o diagnóstico. Alguns desses sintomas são falta de ar, cansaço fácil, tosse seca e limitações físicas. Quando a doença está em sua fase aguda, o professor Bruno Nascimento explica que o coração para de exercer sua principal função, que é a de bombear o sangue para o corpo. Com isso, o órgão passa a sofrer de insuficiência cardíaca. 

A notícia relativamente boa é que a miocardite é, em sua maioria, reversível quando os sintomas são tratados. Isso significa que, quanto mais rápido é feito o diagnóstico, maiores as chances de cura da doença. Já no caso das pessoas que descobriram ou desenvolveram a miocardite durante a infecção pela covid, os tratamentos são focados nos sintomas do novo coronavírus, o que exige controle de pressão e suporte circulatório adequado, por exemplo. O professor ressalta, no entanto, que mesmo após a melhora dos sintomas e controlada a situação, é fundamental o acompanhamento com o cardiologista.

“Isso é para que ele veja se, realmente, essas alterações cardíacas regrediram ou se [o paciente] vai precisar de uma medicação específica para o coração no pós-covid e, ainda, se existe alguma sequela que precisa de uma intervenção específica”, explica. 

Por um coração saudável

Levar uma vida saudável pode ser um desafio para muitos brasileiros e isso pode trazer impactos ao desempenho cardíaco. Um levantamento feito pelo instituto de pesquisa Ipsos indicou que o Brasil está em primeiro lugar no ranking mundial de países que menos fazem exercícios físicos.

“Apesar do sedentarismo e da inatividade física não serem fatores independentes, preditores da doença cardíaca, eles se somam a outros fatores e aumentam muito o risco cardiovascular. E foi isso que, junto com as outras diversas situações que comentamos [sobre a pandemia] resultou no aumento numérico de mortes nas nossas pesquisas”, acrescenta Bruno. 

Para o professor, este é o momento ideal para governantes investirem em campanhas publicitárias que incentivem o retorno das atividades físicas em academias populares e reeducação alimentar. Além disso, o professor acredita que os próprios médicos e profissionais da saúde, durante as consultas eletivas e visitas domiciliares, estimulem os pacientes às práticas saudáveis.

Saúde com Ciência

Para saber como prevenir e tratar doenças cardiovasculares e a relação delas com a infecção pela covid-19, acesse o programa “Saúde com Ciência”.

Saúde com Ciência”  é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a quinta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.