Marlise Matos, da UFMG, alerta para violência contra mulheres na política
08 de março de 2019
Professora e cientista política ministrou palestra no evento Seminário Mulheres em Foco – recortes na contemporaneidade, promovido pela Faculdade de Medicina.
O dia é de luta e de luto, segundo a professora e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (Nepem) da UFMG, Marlise Matos, em referência ao Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta sexta-feira, 8 de março. Durante participação no seminário “Mulheres em foco – recortes na contemporaneidade”, promovido pela Faculdade de Medicina da UFMG, a professora chamou atenção para a baixa representatividade das mulheres na política, ocasionada pelo machismo cultural. “Eu preciso dar essa péssima notícia para vocês: nós somos o terceiro pior país em representação política de mulheres”, afirma a especialista.
Dado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), monitorado pela Inter-Parliamentary Union – IPU, mostra que em um ranking de 190 países, o Brasil ocupa a 152ª posição em relação ao percentual de parlamentares homens e mulheres na Câmara dos Deputados. “Todos os demais países da América Latina têm mais representação feminina. Estamos amargando 15% de representatividade, perdemos inclusive para o Haiti e Belize”, informa Marlise.
Apesar de ser um grupo minoritário politicamente, a presença numérica das mulheres é massiva: elas são a maioria da população, no mercado de trabalho e, atualmente, constituem 40% do grupo de pessoas que são referência em seus lares. Porém, de acordo com a professora, com o processo de desdemocratização vivenciado no país, esse grupo fica mais suscetível à violência política. Exemplo, segundo Marlise, foi o tratamento recebido pela ex-presidente, Dilma Rousseff, que teve sua imagem associada a situações em que sofria assédio durante seu processo de impeachment.
Ainda de acordo com a especialista, essa violência política é reflexo da perda cotidiana da autonomia das mulheres, que ocorre em diversos países do mundo. “Eu, por exemplo, trabalhei compilando dados de mídia e de manifestações públicas sobre violência política exercida contra as presidentas Dilma, Michelle Bachelet e Cristina Kirchner. Identifiquei, nos três países, 11 mecanismos idênticos de violência política e sexista contra as mulheres que conseguiram chegar à presidência”, argumenta.
Mas não sem luta
Apesar de ainda ter muito a ser conquistado para a igualdade de direitos entre os gêneros, Marlise Matos destacou avanços no Brasil, como a luta do movimento “Quem ama não mata”. Criado no final dos anos de 1980, o movimento tem um longo histórico de vitórias, como a construção de delegacias especializadas no atendimento à mulher, criação de conselhos de direitos para esse grupo, programas de assistência à saúde, pacto nacional de enfrentamento à violência contra as mulheres, e a criação de uma rede complexa de políticas públicas para enfrentar a violência contra essa população, o disque denúncia 180.
Mulheres em foco
A palestra “Autonomia das mulheres x violência política: a linguagem da desdemocratização do Brasil” fez parte da programação do seminário “Mulheres em foco – recortes na contemporaneidade”, promovido nesta sexta-feira, 11 de março, pela Faculdade de Medicina da UFMG, com os departamentos de Ginecologia e Obstetrícia e o de Medicina Preventiva e Social e o Diretório Acadêmico Alfredo Balena (DAAB).
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