Nescon realiza nova fase de pesquisa nacional sobre cobertura vacinal

O estudo foi iniciado em 2021 para analisar as causas da queda dos indicadores de cobertura vacinal no Brasil, com ênfase nos fenômenos da hesitação vacinal e desinformação


25 de julho de 2023


Para 98% dos entrevistados as vacinas são importantes para a própria saúde, enquanto 92% afirmam que todas as vacinas recomendadas pelo SUS são benéficas. Foto: Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG.

O Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon) da Faculdade de Medicina da UFMG vai coletar novos dados para a “Pesquisa Nacional sobre Cobertura Vacinal, seus Múltiplos Determinantes e as Ações de Imunização nos Territórios Municipais Brasileiros”, realizada em parceria com o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). O objetivo é analisar a situação atual, em comparação com os aspectos consultados há dois anos e identificar os principais desafios para a efetividade da política e das ações de imunização no país. 

Chamada de “terceira fase”, a equipe de pesquisadores realizará uma nova rodada de levantamentos para comparar os dois períodos. “Queremos avançar na produção do conhecimento e trazer o debate sobre a hesitação vacinal para o público. Entendemos que é um momento oportuno para reforçar a agenda junto aos agentes responsáveis pela imunização, por meio do Conasems”, afirma Daisy Maria Xavier de Abreu, pesquisadora do Nescon.

“Tivemos um evento muito impactante que foi a pandemia da Covid-19. Ela teve um efeito sobre a vacinação. As pessoas ficaram inseguras. O tipo de vacina, qual o fabricante, questões que não eram consideradas pela população, passaram a ser.”

Daisy Maria Xavier de Abreu

A primeira fase, que aconteceu em 2021, analisou os principais indicadores de cobertura vacinal e entrevistou profissionais de saúde e a população das cidades brasileiras. Sua abrangência foi nacional, sendo que coordenadores de imunização de 4690 municípios (84,2% do total) responderam a um amplo questionário sobre a estruturação das ações de imunização.

Além do levantamento estatístico, a pesquisa nacional realizou surveys, entrevistas e trabalhou com grupos focais para investigar aprofundadamente a percepção da população sobre as vacinas e também dos profissionais de saúde sobre os motivos que podem influenciar a decisão das pessoas de se vacinar. Essa metodologia será retomada na próxima fase do estudo. 

A pesquisa realizou o monitoramento de plataformas digitais de discussões online sobre vacinas no Brasil. “O acompanhamento se mostrou muito importante para a compreensão de fluxos de opinião pública e de posicionamentos singulares”, destaca Daisy Abreu. Segundo a pesquisadora, essa análise viabilizou produção de comunicação mais efetiva para coibir conteúdos que possam acirrar a hesitação vacinal.

Painel compara diversos indicadores de imunização. Na tela, é possível visualizar os idicadores regionais da cobertura da vacina contra Poliomelite em 2012 (à esq.) e 2022 (à dir.). Fonte: Portal Conasems

Já a segunda etapa, desenvolvida em 2022, promoveu oficinas de capacitação com agentes dos municípios participantes da pesquisa e criou-se o Painel dos Indicadores de Imunização, que apresenta um panorama desses indicadores por diferentes dimensões, entre o período 2010 a 2022.

A experiência das oficinas, com formulação de estratégias para o enfrentamento dos problemas de imunização nos municípios foi apresentada pelos participantes das oficinas no XXXVII Congresso Conasems que aconteceu em Goiânia, de 16 a 19 julho deste ano.

O fenômeno da hesitação se dá quando as pessoas atrasam o calendário vacinal ou não se vacinam, explica a pesquisadora. “Percebemos que atualmente existem uma diversidade de fatores que estão influenciando a decisão das pessoas no momento de se vacinar. Esses fatores precisam ser considerados pelos gestores de saúde para planejar as políticas de imunização de forma integrada”, afirma Daisy Abreu.

Resultados da pesquisa

Segundo o estudo, as pessoas continuam acreditando na importância da vacinação. Para 98% dos entrevistados as vacinas são importantes para a própria saúde, enquanto 92% afirmam que todas as vacinas recomendadas pelo SUS são benéficas.

A desinformação em redes sociais e a baixa percepção de risco estão ligados ao fenômeno da hesitação vacinal no país. Quase 20% acreditam que não precisam de vacinas para doenças que não são mais comuns. 72,8% dos entrevistados confirmaram ter medo de efeitos colaterais, enquanto 37,6% afirmaram medo de agulha. Além disso, 24% disseram que consultam fontes das redes sociais antes de tomarem a decisão de se vacinar. 

Para Daisy Abreu, a saúde pública possui desafios complexos pela frente e a comunicação pode ser grande aliada para as autoridades. Além de questões de logística, estrutura de armazenamento, capacitação dos profissionais e fortalecimento da atenção primária, a comunicação com as famílias é ponto sensível encontrado pela pesquisa.

“Precisamos passar a mensagem e combater a desinformação. As pessoas não estão resistentes à vacina. Elas estão inseguras. A desinformação exerce papel preocupante, ela contamina e gera desconfiança. Uma política de imunização articulada precisa contar com a atenção de toda a sociedade”, destaca a especialista. 

O grupo envolvido no estudo vê, agora, uma oportunidade de integrar os entes federativos, movimento sociais e outras lideranças no esforço pela imunização coletiva, tendo como referencial de apoio uma pesquisa de grande fôlego e excelência científica para retomar os altos índices de cobertura vacinal do país.

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