Nesta quarta-feira, UFMG faz balanço dos 30 anos de enfrentamento da Aids


11 de agosto de 2015


Nesta quarta-feira, dia 12 de agosto, será realizado o evento “30 anos de enfrentamento da Aids na Faculdade de Medicina e no Hospital das Clínicas da UFMG”. A reunião será realizada a partir das 19h, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina e a entrada é aberta ao público em geral.

A data marca a criação, em 13 de agosto de 1985, de um setor no Serviço de Doenças Infecciosas, no ambulatório Bias Fortes do Hospital das Clínicas da UFMG, o qual em 1991 foi integrado ao Centro de Treinamento e Referencia de Doenças Infecciosas e Parasitárias (CTR DIP Orestes Diniz), em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte. Este setor foi um dos pioneiros no Brasil e o primeiro em Minas Gerais a atender pessoas em risco ou vivendo com HIV/Aids.

Mesmo com o estabelecimento precoce de um programa nacional para o enfrentamento da epidemia e do número relativamente baixo de pessoas infectadas pelo HIV no Brasil, anualmente, ainda morrem de 10 a 12 mil pessoas no país por causa da doença.

Segundo o secretário Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Fabiano Geraldo Pimenta Júnior, existe um desafio de conscientizar a população de que a Aids pode levar ao óbito. “Os estudos epidemiológicos mostram que temos uma população, principalmente os jovens entre 15 e 24 anos, que não conheceram e vivenciaram a fase inicial da questão da Aids, em que a letalidade era muito elevada e, apesar dos esforços do poder público e de organizações não governamentais, ainda não tem por hábito a questão do sexo seguro, não usam camisinha, tem resistência a esta prática”, explica.

Hoje, mais de 6 mil pessoas vivendo com HIV/Aids estão em acompanhamento no CTR DIP Orestes Diniz.  O atendimento é realizado por docentes da UFMG e por profissionais de saúde da Prefeitura de Belo Horizonte. Com a intenção de melhorar ainda mais o atendimento às pessoas que frequentam o CTR DIP, um projeto está sendo elaborado para a expansão do setor. Segundo Fabiano Pimenta, já existe uma interlocução com a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura de Belo Horizonte e a expectativa é que haja condições de iniciar as obras no primeiro semestre de 2016. “É um objetivo claro que nós temos, tanto os profissionais do CTR, como nós gestores do SUS de Belo Horizonte e da Universidade, através da Faculdade de Medicina. Porque fruto deste bom trabalho que vem sendo realizado, da disponibilidade da atenção médica oportuna, a disponibilidade que o Brasil dá de medicação específica, felizmente as pessoas que vivem com HIV/Aids estão vivendo mais e com mais qualidade de vida”, avalia.

Vivendo com HIV/Aids

Logo após receber o resultado positivo, em 1985, o aposentado Floriano Leite procurou os serviços do ambulatório que, na época, funcionava há menos de dois meses. Ele morava em Brasília, estava dando um curso na capital mineira e recebeu o diagnóstico pelo telefone, através de seu médico. Ainda sem muita informação sobre a Aids, Floriano lembra que os médicos o deram de seis meses a dois anos de vida. “Foi como se o chão saísse debaixo do meu pé. Quando eu cheguei ao Hospital das Clínicas fui recebido pelo psicólogo Edson de Oliveira. Contei o que estava acontecendo, abri a boca a chorar e ele me disse que eu estava no lugar certo, que iam me ajudar”, lembra.

Floriano conta que na época em que descobriu que estava com o vírus, ainda não existia remédio, tudo ainda estava na fase de estudos. “Nove anos depois de receber o diagnóstico que comecei a tomar medicação, eu não tinha adoecido ainda e não tive infecções oportunistas da Aids. Em 1996, comecei com a terapia do coquetel. Teve uma época que eu tomava mais de 20 remédios por dia”, conta.

Como sempre conviveu bem com a doença, em 1990, Floriano aposentou-se e começou uma militância para mostrar que as pessoas que tinham Aids eram pessoas comuns. Também fazia sensibilização em hospitais para mostrar como era uma pessoa com HIV. Durante este tempo, Floriano também participou de diversas pesquisas na área, levantamentos e mapeamentos sobre a doença e pesquisa de medicamentos.

Entretanto, Floriano também passou por dificuldades nos últimos anos. Por consequência da doença, emagreceu, teve problemas de equilíbrio, memória e raciocínio foram afetados e ficou mais de 60 dias internado. Hoje, com 63 anos, Floriano acredita que tem uma vida normal. “Agora eu estou bem outra vez. Com 30 anos de infecção eu estou igualzinho quando descobri que tinha o HIV. São poucas pessoas que tem tantos anos de infecção e que estão bem”, avalia.

Projeto incentiva a prevenção

Em 1986, quando a Aids ainda despertava diversas dúvidas na população, a médica imunologista e oncologista, Irene Adams, chegou à Belo Horizonte para entender mais sobre a doença. Nascida na Holanda, morou por alguns anos no Rio de Janeiro, mas foi na capital mineira que idealizou o Projeto Ammor (Ação Multiprofissional com Meninos em Risco).

O Projeto Ammor é formado por um conjunto de projetos que buscam promover o desenvolvimento humano através do trabalho com pessoas excluídas ou em desvantagem social. A clínica, especializada na prevenção, detecção precoce e acompanhamento da infecção do vírus HIV/Aids entre meninos e meninas em risco social, nasceu através de um projeto de pesquisa com o objetivo de determinar os fatores de risco como base para um trabalho de prevenção da Aids e de doenças sexualmente transmissíveis entre crianças e jovens em situação de rua.

Para Irene é importante fazer este trabalho de prevenção com essas crianças. “O menino de rua, com vida sexual precoce, com nove anos já é sexualmente ativo. Como que alguém vai explicar Aids para ele? Ele perdeu o vínculo com a família, ele não frequenta escola, não assiste televisão”, explica.

Hoje, o Projeto Ammor trabalha em 50 abrigos em Belo Horizonte, realizando consulta médica e exames nas crianças e adolescentes abrigados. Além disso, também há uma equipe que visita os abrigos para aulas de educação sexual, que explicam sobre sexualidade, afetividade, doenças sexualmente transmissíveis, principalmente a Aids, identidade de gênero, diversidade sexual e violência. “Tenho a grata informação de que faz anos que não diagnostico um novo caso”, conta Irene.

Conheça mais sobre o Projeto Ammor.

Facebook_30 anos de enfrentamento da aids30 anos de enfrentamento da Aids na Faculdade de Medicina e no Hospital das Clínicas da UFMG

No evento serão discutidos o que foram esses 30 anos de enfrentamento e a perspectiva do controle da epidemia daqui para frente. Irão compor a mesa do encontro o diretor da Faculdade de Medicina, Tarcizo Nunes; a superintendente do Hospital das Clínicas, Luciana de Gouvêa; o secretário-geral adjunto da ONU  e diretor executivo adjunto do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids, Genebra), Luiz Loures; o diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita; os secretários de Saúde do Estado de Minas Gerais, Fausto Pereira dos Santos e da Prefeitura de Belo Horizonte, Fabiano Pimenta; a idealizadora do Projeto Ammor (Ação Multiprofissional com Meninos em Risco), Irene Adams e uma pessoa vivendo com HIV/Aids, Floriano Leite. O encontro será mediado pelo professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Dirceu Greco.

Também haverá uma apresentação artística do Grupo Musical do Centro de Convivência Cesar Campos da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Além disso, será realizada a entrega de uma placa para dez pessoas que foram e tem sido importantes no funcionamento das atividades do CTR DIP.

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