Novo radiofármaco será testado em humanos


27 de junho de 2013


*Notícia publicada no Saúde Informa

Substância será usada na tomografia por emissão de pósitrons,exame capaz de identificar tumores ainda na fase inicial

Pacientes voluntários com câncer de próstata serão submetidos a exames de imagem com uma substância radioativa que será testada pela primeira vez no Brasil em humanos– a [18F]Fluorcolina. Os testes serão feitos pelo Centro de Imagem Molecular (Cimol) do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Medicina Molecular (INCT-MM) da Faculdade de Medicina da UFMG, em parceria com o Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN) – instituição vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Foto: Cimol

Segundo o professor Marcelo Mamede, coordenador de Medicina Nuclear do Cimol, a toxicidade e a biodisponibilidade da substância radioativa já foram avaliadas e aprovadas na primeira fase das pesquisas, realizada com animais. Tudo correu como esperado. A próxima fase, prevista para começar em junho de 2013, vai avaliar seus efeitos em voluntários humanos. Os protocolos já foram aprovados no Comitê de Ética de Pesquisa em Seres Humanos da UFMG.

“Podem participar pacientes encaminhados do Hospital das Clínicas da UFMG e do Hospital Luxemburgo,que possam se beneficiar dessa tecnologia para visualização”, avisa Marcelo Mamede. Inicialmente,de casos de câncer de próstata, em determinados estágios da doença, pré-definidos. Mas a expectativa é de que sejam realizados outros avanços com a substância radioativa.

O objetivo da parceria interinstitucional é alavancar o desenvolvimento da tecnologia necessária para produção nacional de radiofármacos, incentivar pesquisas e buscar a aprovação do uso rotineiro no país desse marcador de tumores. “Estudos na área também permitem a qualificação de profissionais e o avanço do conhecimento com técnicas diagnósticas dinâmicas”.

Atualmente, o país só dispõe de um radiofármaco que pode ser usado em exames de imagem molecular com tomografia por emissão de pósitrons(PET/CT): o [18F]FDG, ou F-18 Fluordeoxiglicose. O marcador é absorvido por certos órgãos do corpo, que “entendem” a substância como glicose, a qual é imprescindível para a produção de energia e sobrevivência das células.

Essa técnica, porém, é inespecífica para certos tipos de câncer, como o de próstata e da glia, um determinado tipo de tumor cerebral. “Nesses casos,estudos mostram melhores resultados com o uso do radiofármaco à base de colina”, esclarece Mamede.

O [18F]Fluorcolina é indicado para vários tipos de câncer, mas no caso do câncer de próstata,por exemplo, quando há aumento da produção das membranas celulares, a substância é melhor absorvida pela área afetada e permite visualização mais evidente da proliferação das células cancerosas pelo composto marcado por um isótopo radioativamente. Metaforicamente é como se o órgão afetado “brilhasse” e desse a posição exata do sinal emitido pela radiação. Mais ou menos igual às canetas marca-texto fluorescentes.

PET/CT

Exames de imagem convencionais, como tomografia e ressonância magnética, se baseiam na observação de alterações morfológicas. O problema é que esses métodos podem não ser eficazes em estágios iniciais do câncer ou quando o resultado se apresenta normal, afirma o radiologista.

“Com o PET/CT é possível visualizar essas alterações, mas desde que utilizado o radiofármaco específico. Daí a necessidade de o Brasil alcançar a independência na produção de radiofármacos”, esclarece,chamando a atenção para a necessidade de linhas específicas de financiamento para essa área.

O Cimol/UFMG está equipado com um dos mais avançados equipamentos de PET/CT da América Latina, o GE Discovery 690. A tecnologia permite detectar os fótons emitidos por partículas radioativas,usadas não só em exames oncológicos, mas também cardiológicos, psiquiátricos e neurológicos.

Ao combinar duas técnicas de tomografia em um só exame, as tomografias computadorizada e por emissão de pósitrons, o PET/CT permite precisão na localização anatômica da imagem funcional. “Isso por sua vez propicia a identificação de tumores ainda muito pequenos para serem detectados pelos exames convencionais,representando não só aumento na chance de sobrevida, como também na qualidade de vida dessas pessoas”, afirma o médico nuclear.