Uso medicinal da Cannabis na recuperação de pacientes
Confira a opinião de especialistas da oncologia, farmacologia e medicina preventiva e social.
19 de maio de 2017
Em programa de rádio, especialistas da oncologia, farmacologia e medicina preventiva e social comentam o uso medicinal da planta
A Cannabis Sativa, planta popularmente conhecida como maconha, foi proibida em meados da década de 1930 na grande maioria dos países ocidentais e suas colônias. Neste contexto, cientistas continuaram pesquisando as propriedades medicinais da planta a fim de estabelecerem algumas possibilidades oferecidas pelos derivados da planta no tratamento de doenças. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) incluiu, em 2017, a Cannabis na farmacopeia brasileira, o código farmacêutico oficial do país. Ainda assim, seu cultivo e uso não prescrito seguem sendo proibidos pela legislação nacional.
Dentre as possibilidades do seu uso medicinal, especialistas citam o tratamento da epilepsia, esclerose múltipla, autismo, anorexia, glaucoma, HIV/Aids, distúrbios do sono, doenças auto-imunes e câncer. Em relação ao câncer, o uso de derivados da Cannabis já é realizado em alguns países, por exemplo, os Estados Unidos, com a finalidade de amenizar efeitos colaterais da quimioterapia, como náuseas, enjoos, vômito, falta de apetite e dores neuropáticas. Vale lembrar que em nenhuma das doenças citadas o tratamento à base da planta é o principal ou o mais efetivo, mas uma possibilidade a mais para o paciente.
Para o oncologista e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, André Murad, ampliar as opções nos tratamentos clínicos pode oferecer mais chances de recuperação ao paciente. “Em Medicina, a gente tem que ter vários produtos com a mesma indicação. Por quê? Porque, às vezes, o paciente não tolera determinada classe de medicamentos e aí você tem a opção de outra”, afirma.
Sobre o câncer, Murad exemplifica um possível benefício do uso de medicamentos com compostos da Cannabis. “Suponhamos que você tenha um paciente que esteja com náuseas e vômitos e que tenha dor neuropática. Se você pode usar um produto que resolva as duas coisas, pra que você vai usar dois?”, questiona.
Sistema endocanabinoide
As substâncias presentes na Cannabis Sativa atuam em um local próprio do cérebro humano, os chamados receptores canabinoides. O cérebro também produz substâncias muito semelhantes às encontradas na planta, que agem nesses receptores. Essas substâncias são conhecidas como endocanabinoides e podem ser moduladores de uma série de atividades do organismo.
A atividade do sistema endocanabinoide mais aceita é a de que ele atua como protetor das atividades neuronais, como resume o professor do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, Fabrício Moreira: “Esses endocanabinoides têm a função de proteger o cérebro contra algum insulto, contra alguma toxicidade”.
Para saber mais sobre o sistema endocanabinoide e outros assuntos relacionados ao uso medicinal da Cannabis, a série do Saúde com Ciência.
Sobre o programa de rádio
O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.
O programa também é veiculado em outras 185 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.
Redação: Bernardo Estillac | Edição: Lucas Rodrigues