Obesidade infantil: um assunto de família
19 de abril de 2013
*Notícia publicada no Saúde Informa
Mudanças na economia, maior facilidade de obter alimentos, urbanização, mídia, diminuição de atividades físicas e novos hábitos alimentares. Todos esses fatores contribuíram para uma espécie de inversão no perfil das crianças brasileiras. “Antes tínhamos uma alta prevalência de desnutrição e agora temos uma crescente obesidade infantil”, compara o pediatra Paulo Pimenta de Figueiredo Filho, professor da Faculdade de Medicina e coordenador do Setor de Nutrição Pediátrica do Hospital das Clínicas da UFMG. “Aqui em Minas, tínhamos o tradicional arroz, feijão, carne, verdura. Agora temos o fast food, as lanchonetes e a alimentação rápida, que geralmente têm alto teor energético-protéico”, exemplifica.
Na verdade, trata-se de um fenômeno global. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a obesidade dobrou no mundo, entre 1980 e 2008. Doze por cento da população mundial, o equivalente a 500 milhões de pessoas, estão acima do peso. Uma tendência que pode ter origem na infância e se perpetuar na fase adulta, explica Paulo Pimenta. “As estatísticas mostram que uma criança obesa, que muitas vezes tem algum dos pais ou ambos obesos, possui chances maiores de ser um adulto obeso. Isso é devido a um mecanismo de uma sistêmica familiar relacionada a hábitos que contribuem para o ganho de peso”.
No Brasil, a Pesquisa de Orçamento Familiar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2009, mostrou que 34,8% das crianças com idade entre cinco e nove anos estavam acima do peso recomendado pelo Ministério da Saúde. E dos que tinham entre 10 e 19 anos, 21,7% estavam com sobrepeso. A origem do problema é evidente na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), realizada no mesmo ano. Os resultados mostram que apenas um terço dos alunos matriculados no ensino fundamental da rede privada consome frutas e hortaliças em cinco dias ou mais na semana. Refrigerantes e frituras fazem parte da rotina alimentar de 40% dos alunos.
“Além da mudança do padrão alimentar da população, a obesidade em crianças e adolescentes tem uma forte relação com a família. A criança não está desgarrada do seu contexto familiar, da nossa carga familiar. A nossa história se perpetua nas crianças”, observa Paulo Pimenta. Uma das preocupações com relação à obesidade infantil são as consequências de curto e longo prazo. Meninos e meninas acima do peso têm maiores chances de desenvolver doenças cardiovasculares e diabetes ainda jovens. Além disso, reduções na qualidade de vida são observadas na infância, já que é comum sofrer provocações dos colegas e ser isolado socialmente.
Quanto antes, melhor
Por outro lado, o tratamento iniciado mais cedo é mais eficaz. Em comparação com o adulto obeso, a criança obesa tem maior facilidade para perder peso, porque mudar os hábitos na infância é menos complicado do que na fase adulta. Além disso, no período de crescimento, o controle do peso se torna mais eficaz. “Se você trabalhar bem uma criança, a família dela, fica mais fácil tratá-la do que o adulto. O adulto tem que restringir. No caso da criança, por estar em crescimento, é só controlar sua alimentação”, compara o pediatra.
Em ambos os casos, a recomendação do especialista é a mesma. “Uma abordagem correta para tratar a obesidade é uma equipe multiprofissional, adoção de hábitos de vida saudável, como andar, movimentar, comer alimentos com alto teor de vitaminas e de fibras, que são as frutas, os vegetais, arroz e feijão também”. E, lembrando, Hipócrates, o pai da Medicina, ele conclui: “não tem alimento ruim, comer de tudo um pouco, nem muito nem pouco”.