Professora comenta série “Pelo fim da natimortalidade evitável”

Foto: Pixabay

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A série
A série “Ending Preventable Stillbirths” (EPS), ou “Pelo fim da natimortalidade evitável” da revista médica The Lancet, lançada mundialmente no dia 19 de janeiro de 2016, é um conjunto de cinco trabalhos escritos com a colaboração de 216 autores e consultores de mais de 40 países, representando mais de 100 organizações, que informa sobre o estado atual da natimortalidade no mundo e sobre o que precisa acontecer para acabar com a natimortalidade evitável até 2030. A série atual é fundada na série “Natimortalidade”, da mesma revista, publicada em 2011.

Revendo onde o progresso foi, ou não, feito desde 2011, a nova série mostra o que deveria ter sido feito para acabar com a natimortalidade evitável até 2030, ano até o qual países do mundo inteiro se comprometeram a melhorar a saúde de mães e bebês. A Série de 2011 fez uma revisão da situação global da natimortalidade e apresentou a matéria do “retorno triplo” – três vezes superior ao investimento – na prevenção da natimortalidade e também da morte materna e neonatal, tendo um grande impacto na mídia e uma resposta sem precedentes. No entanto, apesar dos avanços, a nova série da The Lancet mostra que é preciso mais empenho institucional para integrar a prevenção da natimortalidade em agendas globais e nacionais, a fim de conseguir atendimento de qualidade para mulheres, adolescentes e bebês. Também é necessário mais empenho em compreender o pesado fardo que a perda de um natimorto pode representar e o suporte que deve ser oferecido pelas instituições e pela sociedade, às mães e às famílias.

Natimortalidade
As mensagens-chave da série Pelo Fim da Natimortalidade Evitável são:

• Cerca de 2,6 milhões de natimortos (apenas no terceiro trimestre gestacional) acontecem todos os anos, 98% dos quais em países de baixa e média renda, como os da África subsaariana e do sudeste da Ásia. Quase a metade de todos os natimortos acontece durante o trabalho de parto e o nascimento. A maioria dos óbitos decorre de problemas que podem ser evitados com atendimento materno adequado, como a prevenção ou o tratamento de infecções e complicações da gravidez (por exemplo, hipertensão arterial, diabetes ou retardo do crescimento do bebê antes do nascimento).

• A natimortalidade é uma tragédia para famílias e pode ter efeitos duradouros, sociais, psicológicos e financeiros. O comportamento de médicos, obstetrizes e outros profissionais da saúde pode fazer uma verdadeira diferença e serviços oferecidos com respeito, incluindo boa qualidade na atenção ao luto, podem reduzir os impactos negativos. A atitude da sociedade como um todo é importante. A natimortalidade é estigmatizada e os pais frequentemente se sentem isolados e culpados das mortes de seus bebês. Embora seu impacto atinja principalmente as mulheres e suas famílias, profissionais da saúde, comunidades e setores mais amplos da sociedade também são afetados.

• A maioria das mortes é evitável com o atendimento de boa qualidade durante a gravidez e o parto, o que frequentemente não existe. O empenho na prevenção da natimortalidade deve fazer parte da atenção à saúde da mulher e da criança. A melhoria no atendimento à maternidade também irá prevenir as mortes maternas e dos recém-nascidos e melhorar o desenvolvimento da criança; é o chamado “retorno quádruplo” do investimento financeiro que governos e doadores fazem na atenção à saúde – o que significa quatro tipos de benefício (redução das mortes maternas, neonatais, da natimortalidade e dos problemas de desenvolvimento) para cada único esforço investido na melhoria da atenção à saúde.

• Os natimortos devem ser computados da mesma forma que são computadas as mortes neonatais e maternas. Atualmente, isso não acontece em todos os países, o que torna difícil monitorar o seu número. Essa informação é necessária para manter a responsabilidade de governos e doadores e, consequentemente, a natimortalidade é frequentemente negligenciada nas políticas internacionais. A série “Pelo Fim da Natimortalidade Evitável” conclama a todos os países para reduzir a natimortalidade e assegurar que os natimortos sejam computados e notificados do mesmo modo que as mortes neonatais e maternas e que sejam incluídos nas “Metas de Desenvolvimento Sustentável” da Organização Mundial da Saúde – que já incluem a saúde materna e infantil.

• A natimortalidade afeta particularmente mulheres que são socialmente desfavorecidas ou “marginalizadas”. Mulheres de origem étnica minoritária ou que são pobres e desempregadas têm risco muito maior de ter um natimorto, particularmente nos países subdesenvolvidos, mas mesmo em países mais ricos. Todos os países precisam assegurar que todas as mulheres recebam uma boa qualidade de atenção à maternidade.

• A natimortalidade é frequentemente uma tragédia oculta. O “luto não-autorizado” é comum após a morte não ser reconhecida apropriadamente, ou de forma alguma, pelos profissionais da saúde, por outros membros da família ou pela sociedade, como acontece em todo o mundo. Sintomas de depressão são comuns e duradouros; os autores de um estudo estimam que quase quatro milhões de mulheres em todo o mundo sofrem depressão após darem à luz um natimorto. As mães se sentem estigmatizadas, solitárias e menos valorizadas pela sociedade e, em alguns casos, podem sofrer abuso ou dano por violência. Organizações de pais que trabalham junto a profissionais da saúde podem ajudar a reduzir o estigma e o sentimento de desesperança de que a natimortalidade não possa ser evitável.

Ana Maria Arruda Lana é patologista fetal e perinatal, atuante no suporte ao
luto da perda gestacional e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.

Saiba mais: Um Sumário para a Série Ending Preventable Stillbirth (Pelo Fim Da Natimortalidade Evitável) da revista The Lancet preparado pela International Stillbirth Alliance