Perfil dos alunos de Medicina muda nos últimos 10 anos
Relatório de estudo inédito traz um novo perfil socioeconômico
30 de janeiro de 2019
Relatório de estudo inédito traz um novo perfil socioeconômico

Mais democrática e inclusiva. É o que mostra o relatório sobre o perfil do estudante do curso de Medicina da Faculdade de Medicina da UFMG. O estudo inédito, realizado pela Pró-reitoria de Graduação (Prograd), analisou o período de 2008 a 2017. O recorte perpassa a adoção de diferentes políticas afirmativas como a Lei de Cotas, em 2013, e o Sisu, em 2014. “As mudanças possibilitaram a maior entrada de alunos com renda familiar de até cinco salários mínimos”, analisa a Pró-reitora de Graduação da UFMG, Benigna Maria de Oliveira.
Todos os anos, o Setor de Estatística da Prograd elabora o relatório do perfil agregado dos estudantes de graduação, isto é, com dados gerais de todos os cursos. Porém, especificamente para o curso de Medicina, foi elaborado um estudo do perfil dos alunos, em 2017, para apresentação ao Ministério da Educação (MEC). Por isso, a análise não foi em todos os cursos da Faculdade.
Os dados mostram que em dez anos o percentual de estudantes de Medicina, com renda familiar de até cinco salários mínimos, passou de 15,31% para 34,68%. Para a Pró-reitora de Graduação da UFMG, essa mudança mostra que as políticas de ações afirmativas têm contribuído para uma universidade mais inclusiva. No entanto, ela observa que a democratização também traz desafios.
“A universidade tem que cumprir com a sua função pública, que é a de democratizar o acesso e promover essa troca de diferentes culturas e visões. Mas precisamos também de garantir a permanência de estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica e temos atuado com esse objetivo”, frisa Benigna Maria.
O relatório aponta também crescimento percentual de alunos que cursaram o ensino médio integralmente em escolas públicas. Em 2008, eles representavam 14,37% do corpo discente. Uma década depois, já são metade: o patamar é de 50% dos alunos, conforme prevê a Lei de Cotas Nº 12.711/2012. Universidades e institutos federais, segundo a lei, devem reservar metade das vagas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.
Além disso, o percentual de alunos oriundos de outros estados mais do que dobrou, passando de 6,88% para 27,81%. O número de ingressantes provenientes de cidades da Grande BH também cresceu de 0,94% para 3,12%.

Permanência
O relatório, de acordo com a Pró-Reitora, possibilita conhecer o perfil dos alunos para identificar onde há situações de vulnerabilidade socioeconômica e quais projetos e ações podem ajudar na permanência deles na universidade.
“A cada ano, a UFMG busca melhor se preparar para receber esses alunos, que precisam participar de políticas de assistências estudantis o mais cedo possível. Principalmente para que eles possam entrar e ficar”, ressalta Benigna.
Para ela, incluir vai além de questões financeiras. “Também temos que pensar no ponto de vista acadêmico, para que o estudante tenha acesso a outro idioma, como o Inglês, e participe de atividades da universidade, como de pesquisa, ensino e extensão. Temos feito projetos nesse sentido”, assegura.
Ações preventivas
A professora e coordenadora do Colegiado da Faculdade de Medicina, Taciana de Figueiredo Soares, também enfatiza a importância da intervenção precoce. “A ideia é fazer uma recepção ampliada para esses calouros, para tentar identificar suas necessidades e pensar em estratégias para dar maior suporte”, pondera.
Taciana destaca o trabalho que tem sido realizado com a Escuta Acadêmica da Faculdade. “Atuamos para uma atenção mais individualizada aos alunos e também para prevenir que sofram qualquer tipo de discriminação. Somos vigilantes no que se refere a essa situação”, acrescenta.
Mais diversidade
O curso de Medicina também está mais diverso em relação ao perfil étnico-racial. Em dez anos, o percentual de alunos que se autodeclaram pretos e pardos passou de 24,38% para 41,56%. Pelo Sisu, desde 2014, as vagas para egressos de escola pública se dividem entre autodeclarados pretos, pardos e indígenas e as pessoas com deficiência.
Para a psicóloga da Assessoria de Escuta Acadêmica da Faculdade de Medicina, Maria das Graças Santos, a diversidade pluraliza a comunidade acadêmica tanto culturalmente quanto em relação a expectativas e sonhos.
“Para muitos, é oportunidade de autoconhecimento, amadurecimento e crescimento; também pode suscitar fragilidades, que com o tempo vão se superando”, comenta.
As dificuldades que podem surgir devido à maior vulnerabilidade socioeconômica não são empecilhos para o bom desempenho desses alunos. “Esse desempenho equivale ou até supera ao dos demais e temos estudos que comprovam isto”, afirma Maria. (Veja o estudo aqui).
A professora Taciana Figueiredo destaca também a importância da diversidade para profissionais mais completos. “Esse contato permite compreender um mundo que vai além das janelas, formando profissionais preparados para atuarem em benefício da sociedade”, conclui.