‘Período crítico’ da resposta ao implante coclear é discutido em Simpósio de Audição


31 de agosto de 2018


Pesquisador relaciona idade das crianças com implante coclear com a eficácia do tratamento.

Qual a idade certa para realizar o implante coclear? Quando relacionado à surdez congênita, existe um prazo para a maior efetividade do tratamento, que vai dos 12 aos 18 meses de idade. Para explicar porque os benefícios reduzem progressivamente após esse período, o professor da Universidade de Hannover, na Alemanha, Andrej Kral, foi buscar evidências no córtex, uma parte específica do cérebro.

Andrej Kral, professor da Universidade de Hannover, na Alemanha. Foto: Carol Morena.

Os achados dessa pesquisa foram relatados na palestra “O papel da audição no desenvolvimento e plasticidade cerebral”, realizada nesta sexta-feira, 31 de agosto, durante o “Simpósio Franco-Brasileiro sobre audição: desafios para Saúde Pública”.

“Queríamos saber as razões de existir esse ‘período crítico’. Por que a dificuldade de melhora e resposta do cérebro após determinada idade?”, instiga o professor. Segundo ele, existe uma relação com o córtex auditivo, isto é, o local do cérebro que corresponde ao processamento de neurônios relacionados a audição. Outra explicação seria a maior plasticidade cerebral das crianças, que corresponde a capacidade desse órgão de se remodelar em função das experiências do sujeito e fatores do meio ambiente.

“Provavelmente é o córtex que causa esse período crítico, mas não é suficiente para explica-la como fator isolado”, conta Andrej Kral. De acordo com ele, dos quatro anos à idade adulta acontece uma ‘poda’, na qual o poder do cérebro de computar informações muda.

Percepção diferente com o mesmo estímulo

Durante a palestra, o professor deu exemplos para a plateia da decodificação de estímulos nos sistemas visual e auditivo. Primeiro, ele mostrou uma imagem confusa e pediu que os ouvintes encontrassem um animal nela. Depois de avisar que o animal era um sapo, encontra-lo na imagem ficou mais fácil. Em seguida, o professor colocou um áudio confuso e inteligível. Após contar o que havia sido dito, as palavras ficaram compreensíveis. De acordo com Andrej, a percepção muda, mas o estimulo é o mesmo.

Professor exemplifica percepção de estímulos pelo cérebro. Foto: Carol Morena .

“O córtex decodifica. O que eu ouvi? Eu ouvi a buzina de um carro, foi o miado de um gato ou foi algo que caiu no chão? Os objetos e as características dependem um do outro. Isso porque o ambiente, de certa forma, pré-determina as características que são importantes. Esse aspecto é muito importante na percepção e na aprendizagem”, explica.

Segundo o pesquisador, o mesmo se aplica ao aprendizado de novos idiomas, assim como no uso de um aparelho auditivo. “Você pode imaginar como esse efeito de comunicação é importante. Mais do que a plasticidade e a rede de representações no córtex, temos que levar isso (a decodificação de estímulos) em conta. O que não é tão fácil de fazer, já que nesse processo de aprendizagem isso acontece passo a passo, diferente de quando implantamos um aparelho em uma criança. Nem todos os passos acontecem ao mesmo tempo”, conclui.

Simpósio 

O “Simpósio Franco-Brasileiro sobre audição: desafios para Saúde Pública” prossegue até 1º de setembro, na Faculdade de Medicina da UFMG. O evento é promovido pelo Departamento de Fonoaudiologia e o curso de pós-graduação em Ciências Fonoaudiológicas da Faculdade de Medicina da UFMG em parceria com a Université Clermont Auvergne (UCA), da França.

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