Pesquisa alerta para relação entre tempo de tela e desenvolvimento de doenças como diabetes e câncer

Exposição prolongada a telas está associada a alimentação não saudável.


07 de outubro de 2022 - , , ,


* Maria Eduarda Andrade Mendonça

As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) são a principal causa de morte no mundo, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) deste ano. Essas doenças estão diretamente associadas a fatores de risco comportamentais, como tabagismo, sedentarismo e alimentação não saudável. Agora, pesquisa da Faculdade de Medicina da UFMG alerta que o tempo de exposição a telas também pode contribuir para seu desenvolvimento.

Esse estudo foi realizado durante o mestrado da nutricionista Rayssa Cristina Martins no Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da Faculdade. Nele, foram relacionados dados sobre o tempo de exposição a celulares, computadores e televisores à qualidade da alimentação de 88 mil adultos brasileiros.

A alimentação não saudável, definida como aquela rica em ultraprocessados, é um fator de risco para diversas DCNT, como diabetes, câncer e doenças cardiovasculares. O estudo demonstrou que as pessoas que passaram por exposição prolongada a qualquer tipo de telas (mais de três horas por dia em atividades de lazer) apresentaram consumo alimentar não saudável 32% superior às demais.

De acordo com a pesquisadora Rayssa Martins, esse estudo é um alerta para a população geral quanto aos impactos negativos da exposição prolongada a telas, em especial, sobre seus efeitos para o consumo alimentar dos brasileiros.

Sedentarismo

A nutricionista ainda destaca que o tempo de tela também pode estar associado à inatividade física. Segundo ela, atividades sedentárias frente às telas ganham cada vez mais espaço no cotidiano e essa prática atrelada a uma má alimentação contribui para o aumento das doenças crônicas. “Esse padrão alimentar e de atividade física favorece a transição nutricional, marcada pela gradativa substituição da desnutrição pelo excesso de peso e obesidade, agentes centrais no complexo quadro de determinantes das DCNT”, explica.

“O menor gasto energético devido ao maior tempo despendido em atividades sedentárias está diretamente relacionado ao aumento da incidência de DCNT em todas as faixas de idade”

Outras pesquisas já alertavam sobre os prejuízos das telas à saúde das crianças e adolescentes. Mas este estudo demonstrou que os adultos também estão suscetíveis a essa influência. Por isso, a pesquisadora explica que os brasileiros devem se preocupar com a redução do tempo de tela, substituindo essa prática por atividades físicas, como caminhadas, passeios com o animal de estimação e brincadeiras com os filhos.

O estudo analisou dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, na qual 88 mil brasileiros, de todas as regiões do país, foram entrevistados. Dentre eles, 57,8% possuíam alguma doença crônica não transmissível e 5,8% classificaram sua saúde como ruim ou muito ruim.

A PNS é um inquérito domiciliar realizado pelo Ministério da Saúde em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que coleta informações sobre as condições de saúde dos brasileiros.

Pesquisadora utilizou dados de 88 mil brasileiros. Foto: Arquivo pessoal.

O questionário de 2019, analisado na dissertação de Rayssa Martins, possuía questões sobre o tempo despendido em telas como celular, tablet e computador, bem como uma pergunta específica sobre as horas gastas assistindo televisão.

A pesquisadora explica que fatores sociodemográficos, como idade e renda, impactaram os resultados do estudo, em especial, no que se refere ao tipo de tela utilizada pelos entrevistados. Por exemplo, indivíduos com 65 anos ou mais relataram passar mais tempo assistindo televisão do que pessoas de 18 a 24 anos. Do mesmo modo, o nível de escolaridade e renda dos entrevistados também afetou os resultados. “O acesso a melhores condições de educação e renda favorecem a escolha do conteúdo de entretenimento que será consumido e também as escolhas alimentares dos indivíduos”, afirmou.

Por fim, a nutricionista aponta algumas medidas que podem auxiliar na redução do tempo de tela e evitar o desenvolvimento de DCNT. “Retirar a televisão do quarto, monitorar o tempo sentado e substituí-lo por prática de atividades físicas, avaliar criticamente a publicidade de alimentos e realizar a leitura dos rótulos dos produtos alimentares”, concluiu.

Pesquisa: Tempo de tela e consumo alimentar de adultos no Brasil
Programa:
Programa de Pós-graduação em Saúde Pública
Autora: Rayssa Cristina de Oliveira Martins
Orientador: Rafael Moreira Claro
Data da defesa: 22 de julho de 2022

* Maria Eduarda Andrade Mendonça – estagiária de Jornalismo
Edição: Vitor Maia


Atualizado em 10 de outubro.