Pesquisa aponta novas evidências sobre organismo de ex-fumantes

Pesquisa identificou que marcadores de inflamação podem se equiparar aos de quem nunca fumou após um ano do término do tabagismo


29 de agosto de 2016


Pesquisa identificou que marcadores de inflamação podem se equiparar aos de quem nunca fumou após um ano do término do tabagismo

*Carol Morena

O dia 29 de agosto é marcado como o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Atualmente, o tabagismo é considerado, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), uma das principais causas de mortalidade prematura por doenças crônicas não transmissíveis no mundo. Os surgimentos dessas doenças podem ser implicados pelas respostas inflamatórias do organismo, induzidas pelo tabaco. No entanto, alguns efeitos danosos do cigarro, como o aumento dos marcadores inflamatórios, podem ser reversíveis após a cessação do tabagismo.

Flavia Peres

Flávia Soares Peres analisou os marcadores de inflamação no organismo de ex-fumantes e não fumantes

Esses são alguns apontamentos da dissertação de mestrado da enfermeira Flávia Soares Peres, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG. Utilizando a contagem dos leucócitos e a proteína C-Reativa (PCR) como marcadores de inflamação do organismo, foi analisado o tempo necessário para que seus níveis, em ex-fumantes, se tornassem equiparáveis aos encontrados em pessoas que nunca fumaram.

Ela explica que a PCR é uma proteína produzida pelo fígado em resposta à maioria dos danos dos tecidos que ocorrem no corpo humano e é medida no sangue. Os leucócitos, por sua vez, são derivados de células da medula óssea e também são mensurados no sangue, através de hemograma.

“Os valores dos marcadores de inflamação podem ser úteis para indicar o estado inflamatório geral e podem estar relacionados com várias doenças, entre as quais as doenças cardiovasculares”, explica Flávia. Segundo ela, a redução desses marcadores após cessar o consumo de tabaco indica melhoria da inflamação crônica atribuída ao tabagismo, o que pode diminuir o risco para essas enfermidades.

Perfil analisado

O estudo foi realizado com base em dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), referentes ao período entre 2008 e 2010. “Para as nossas análises, foram incluídos participantes que realizaram coleta de sangue e que nos informaram sobre tabagismo e outros dados de relevância”, diz Flávia. Ao todo, foram incluídos 12 mil pessoas, aproximadamente. “Empregamos modelagens estatísticas para estimarmos a associação entre tempo de cessação de tabagismo e marcadores inflamatórios”, continua.

Segundo a enfermeira, os resultados indicam que indivíduos que pararam de fumar apresentaram diminuição da inflamação pouco tempo após o fim do tabagismo, variando de acordo com o marcador inflamatório observado.

“Na população que avaliamos, os níveis de Proteína C-reativa se equiparam aos de nunca fumantes após o primeiro ano de cessação”, conta. Já os níveis de leucócitos levam cerca de dez anos para se compararem aos de quem nunca fumou. Ela ressalta que esses tempos foram inferiores aos observados em estudos realizados em outros países. Entretanto, afirma que os resultados devem ser interpretados com cautela já que não resultaram de análises longitudinais.

Parar de fumar o quanto antes

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Foto: Banco de Imagem

Flávia defende que os resultados do seu estudo apontam a reversibilidade da inflamação após o término do tabagismo. Além disso, corroboram com a importância das políticas públicas intersetoriais que, além de prevenir esse comportamento, favorecem o ato de parar de fumar e da atuação da equipe de saúde no encorajamento dessa suspensão.

Por fim, alerta que ainda é preciso desenvolver novos estudos brasileiros que avaliem a cessação de tabagismo e os marcadores inflamatórios. De acordo com ela, apesar da grande amostra e a quantidade de ajustes cautelosos de sua análise, a PCR e os leucócitos são marcadores inespecíficos de inflamação. “Seria interessante que outros marcadores de inflamação fossem utilizados, bem como futuras análises longitudinais, que seriam resultado do acompanhamento dos ex-fumantes a partir do momento que interromperam o hábito de fumar”, conclui.

Título: Anos de cessação de tabagismo, tabagismo passivo e marcadores de inflamação: novas evidências do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil)

Nível: Mestrado

Autora: Flávia Soares Peres

Orientadora: Luana Giatti Gonçalves

Programa: Saúde Pública

Defesa: 29 de fevereiro de 2016

*Redação: Carol Morena – estagiária de jornalismo
Edição: Deborah Castro