Pesquisa estima pelo menos 18% de subnotificação de óbitos por covid-19 no país

Análise criteriosa de declarações de óbito por causas relacionadas com a covid-19 no início da pandemia apontou subnotificação importante devido à imprecisão na definição da causa básica


12 de maio de 2022


Uma análise dos atestados de óbito de causas relacionadas à covid-19 no início da pandemia estimou a subnotificação de pelo menos 18% no número de mortes no país. Esse é um estudo coordenado pelo Grupo de Pesquisas em Epidemiologia e Avaliação em Saúde (GPEAS), ligado ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG. Os resultados foram publicados na revista internacional PLOS Global Public Health na última quinta-feira, dia 5 de maio.

Foram analisados 1.365 casos de óbitos ocorridos entre fevereiro e junho de 2020 nas cidades de Belo Horizonte (MG), Salvador (BA) e Natal (RN), assinalados nos registros oficiais como por síndrome respiratória aguda grave (SRAG), pneumonia não especificada, sepse, insuficiência respiratória e causas mal definidas. Após cruzamento das bases de dados sobre mortalidade, a equipe de pesquisa coletou dados de prontuários médicos, exames e outras informações sobre cada caso e analisou se a causa básica deveria ser assinalada como covid-19.

“Muitas vezes o óbito ocorreu antes dos exames ficarem prontos, de forma que o médico assistente declarou como causa básica uma causa mal definida ou uma doença que, na verdade, foi uma intermediária no processo mórbido. Em outros casos, a demanda de trabalho para as equipes de saúde era tão grande que ocorreram erros no registro, como a inversão de causas intermediárias com a causa básica”, explica a professora da Faculdade de Medicina da UFMG, Elisabeth França, que coordenou o estudo. 

Quase um quarto das mortes investigadas foram, de fato, casos de covid. “Esse cenário tem implicações para as estatísticas vitais do país, pois temos um número importante de óbitos por causas garbage em cada estado que pode ocultar essa doença. A partir dos resultados da pesquisa, estimamos que o número de óbitos pela doença no Brasil em 2020 está subestimado em pelo menos 18%”, afirma Elisabeth. Dessa forma, somente em 2020 a subnotificação de óbitos por covid foi de 37.163 casos, sendo a maior subnotificação entre idosos (25,5%) nas cidades estudadas.

A equipe entende que os dados chamam a atenção para o fato de a pandemia ter sido ainda mais grave no país, além de evidenciar a importância dos registros adequados para a formulação de políticas de saúde pública. Também defendem a importância de investir na infraestrutura dos serviços de saúde e na melhor capacitação dos profissionais, desde a formação, em relação às estatísticas, para que compreendam sua importância na saúde pública e preencham adequadamente as declarações de óbito.

Esse estudo também teve colaboração da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Norte e das secretarias municipais de saúde de Belo Horizonte e de Salvador, com financiamento da Vital Strategies. 

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