Por que tantos tratamentos que funcionam em animais falham em humanos?
CNPQ acaba de liberar financiamento de quase R$ 2 milhões para projeto sediado na Faculdade de Medicina da UFMG que vai tentar responder a essa pergunta e acelerar diagnósticos e tratamentos de transtornos mentais e doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e autismo.
11 de dezembro de 2024 - abordagem co-clínica, NeuroTec-R
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) aprovou financiamento de R$ 1.957.200 para uma pesquisa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (NeuroTec-R), escolhida pela chamada nº 32/2024, voltada para estudos estratégicos no Sistema Único de Saúde (SUS).
“Nossa proposta é criar uma nova abordagem, que possa otimizar testes, reduzir custos e acelerar o diagnóstico e o acesso a tratamentos eficazes, de transtornos como TDAH e autismo, e de doenças como Alzheimer, Parkinson”, esclarece o professor Marco Aurélio Romano-Silva, coordenador do projeto aprovado.
Com uso de tecnologia touchscreen, a proposta envolve criar uma plataforma de testes cognitivos automatizados, aplicáveis tanto em humanos quanto em animais. “Esses testes medem funções como memória, atenção e aprendizado, e são altamente reprodutíveis”, explica o professor Marco Aurélio Romano-Silva, coordenador do projeto.
Essa abordagem, chamada de co-clínica, já é usada em estudos sobre câncer. Ela permite estudar uma doença simultaneamente em modelos animais e humanos, economizando tempo, dinheiro e sofrimento. Os testes vão avaliar funções como memória e atenção, com foco em resultados comparáveis entre as espécies. Além disso, o projeto buscará identificar biomarcadores – substâncias que indicam a presença ou estágio de uma doença.
Ciência aberta e colaboração global
Outra parte importante da pesquisa será a criação de um banco de dados global, onde pesquisadores poderão compartilhar informações e colaborar. Conhecido como Ciência Aberta, esse movimento colaborativo propõe mudar a forma como o conhecimento científico é produzido, compartilhado e reutilizado, incentivando também a transparência.
Dentre as práticas éticas adotadas, a pesquisa também adota compromisso com a redução do uso de animais em experimentos. Com a combinação de todos esses aspectos, espera-se alcançar diagnósticos mais rápidos e mais precisos, ajustar terapias para torná-las mais eficazes, assim como acelerar o início dos tratamentos para transtornos mentais e para doenças neurodegenerativas. Tudo isso com menor custo e maior acesso da sociedade.
O que é a abordagem co-clínica?
A abordagem co-clínica usa métodos comparáveis que permitem estudar doenças tanto em modelos animais quanto em humanos, ao mesmo tempo. Isso cria uma “ponte” entre a ciência básica e a prática clínica. Com a co-clínica, é possível testar e ajustar tratamentos de forma mais ágil, sem precisar de grandes ensaios clínicos.
Segundo Marco Romano-Silva, “essa sincronia facilita a tradução dos resultados dos estudos pré-clínicos para a prática clínica, garantindo maior precisão e reduzindo a lacuna entre pesquisa e ensaios clínicos”.
E o impacto para os pacientes e a sociedade?
Doenças neurodegenerativas e transtornos mentais são uma das principais causas de incapacidade no mundo. Só no Brasil, 1,2 milhão de pessoas vivem com Alzheimer, e cerca de 200 mil têm Parkinson.
A dificuldade em traduzir descobertas científicas para soluções clínicas eficazes é um grande desafio. Muitos tratamentos que funcionam em animais falham nos humanos devido a diferenças biológicas e metodológicas, o que gera desperdício de recursos e atraso nas terapias.
“Este é um momento crucial para a neurociência. Com tecnologia avançada e ciência colaborativa, podemos superar as limitações históricas e oferecer respostas mais rápidas e acessíveis para os pacientes”, declara Romano-Silva.
Sobre o NeuroTec-R
O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (NeuroTec-R) segue os princípios da Pesquisa e Inovação Responsáveis (PIR), que incluem seis grandes agendas públicas como princípios metodológicos: Engajamento Público, Ética, Igualdade de Gênero, Educação em Ciência, Acesso Aberto e Governança.
Sediado no Centro de Tecnologia em Medicina Molecular (CTMM) da Faculdade de Medicina da UFMG, o NeuroTec-R reúne pesquisadores do Brasil e do exterior, focados no estudo do cérebro e no desenvolvimento responsável.
Marcus Vinicius dos Santos – Jornalista CTMM Medicina / UFMG