‘Presente!: UFMG homenageia estudantes mortos e professores e técnicos perseguidos pela ditadura
Sessão solene do Conselho Universitário realizada nesta terça-feira promoveu reparação histórica e reafirmou importância de ações de salvaguarda da memória do período autoritário
25 de setembro de 2024 - Ditadura, Homenagem, UFMG
Em uma cerimônia emocionante realizada em um auditório lotado por pessoas de diferentes gerações, o Conselho Universitário da UFMG outorgou, com diplomas póstumos, quatro discentes mortos pela ditadura militar (1964-1985) e homenageou dois docentes e dois servidores técnicos-administrativos que tiveram suas carreiras interrompidas pelo regime. O ato de reparação histórica, realizado na noite desta terça-feira, dia 24, no auditório da Reitoria, salientou a importância de não se esquecer a ditadura para que regimes de exceção não voltem mais a ser instaurados no Brasil.
Por meio de seus familiares, receberam os diplomas póstumos os estudantes Gildo Macedo Lacerda, estudante de Economia, Idalísio Soares Aranha Filho, que cursava Psicologia, Walkíria Afonso Costa, de Pedagogia, e José Carlos Novais da Mata Machado, discente do curso de Direito. Os quatro membros da comunidade acadêmica homenageados foram Elza Pereira e Irany Campos, servidores técnico-administrativos em educação, e Marcos Magalhães Rubinger (in memoriam) e João Batista dos Mares Guia, docentes da UFMG.
Todos os homenageados foram citados no relatório final da Comissão da Verdade de Minas Gerais (Covemg), criada para auxiliar e dar suporte ao processo de investigação da Comissão Nacional da Verdade.
Irany: ‘Sabia que voltaria à UFMG’
Durante a cerimônia, alguns homenageados e seus familiares relembraram os momentos de perseguição e tortura sofridos durante o regime miltar. Irany Campos, que representou os servidores técnico-administrativos, dedicou seu pronunciamento aos companheiros que estiveram ao seu lado na luta pela democracia entre os anos de 1964 e 1985.
“Muitos dos meus colegas dados como desaparecidos naquela época foram torturados e assassinados. Quando eu estava fora do Brasil, no exílio, sempre dizia que ia conseguir voltar ao país e à UFMG, lugar que eu sempre vi como a minha casa. Ninguém ama mais esta Universidade do que eu. Estou muito emocionado de ver que o Conselho Universitário está cumprindo um grande papel. Precisamos de uma UFMG que ajude a sociedade a se libertar”, disse.
Mares Guia: ‘Triunfo da memória sobre a desmemória’
O professor homenageado João Batista dos Mares Guia afirmou que a cerimônia era um ato de civismo democrático e reparação da Universidade. “Foram quatro décadas de silêncio sobre o assunto, hoje a coragem moral torna presente aquilo que a desmemória ocultou. A democracia caiu sem resistência à monstruosidade da ditadura e, sob o signo da paixão, caminhamos e fomos militarmente aniquilados”, desabafou.
O professor acrescentou que seu amigo que também estava sendo homenageado, o professor Marcos Magalhães Rubinger, faleceu bem antes do fim do regime militar. Por isso, Rubinger não pôde sentir a emoção do ato de reparação histórica.
“Habitava em mim e no professor Rubinger o progressismo e a ideia de que um mundo melhor dependia da união. Meu rosto tem assinalado o rosto daquele revolucionário dos tempos da juventude, e hoje a UFMG diploma profetas do humaníssimo impossível. O que vemos aqui é um ato de triunfo da memória sobre a desmemória, da coragem moral, da verdade e da consciência. A reparação simbólica é o reconhecimento de que fui professor de sociologia aqui e daqui fui excluído devido à ditadura”.
Luana Macieira – Cedecom