Problemas na vida sexual podem afetar qualidade de vida das mulheres

Especialista alerta que avaliação do comportamento sexual deve fazer parte de acompanhamento médico


17 de dezembro de 2018


Especialista alerta que avaliação do comportamento sexual deve fazer parte de acompanhamento médico

*Carol Prado

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde sexual é um bem estar físico, emocional, mental e social em relação à sexualidade. Além dos aspectos reprodutivos, o termo também engloba a possibilidade de ter uma vida sexual agradável e segura, livre de coerção, discriminação e violência. Segundo a sexóloga e professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, Fabiene Vale, diversos aspectos podem afetar negativamente a saúde sexual da mulher, e consequentemente, a qualidade de vida.

Fabiene explica que problemas na vida sexual são de causa multifatorial. “Fatores psicológicos, se ela teve alguma alteração e não tem um comportamento adequado; a crença, os tabus com os quais ela foi criada; A educação sexual, se ela teve ou não, no decorrer da vida”, enumera. “Além de fatores como hipertensão, diabetes, doenças autoimunes e alterações fisiológicas. Todas essas condições podem estar relacionadas com disfunção sexual”, acrescenta.

A sexóloga frisa que é importante que a saúde sexual seja levada em consideração por todas as especialidades médicas. “A saúde sexual tem que ser avaliada desde que a gente nasce até o nosso final de vida. Então toda especialidade médica, desde a pediatra, a que trabalha com infantopuberal, um médico generalista, um geriatra… todos esses tem que ter um conhecimento sobre saúde sexual. Tem que fazer parte da entrevista médica como está o comportamento sexual do individuo, claro, de acordo com a fase da vida”, afirma.

Prevenção de Infeções Sexualmente Transmissíveis

Somente duas a cada 100 lésbicas brasileiras se protegem durante o sexo, segundo levantamento da Secretaria de Saúde de São Paulo. O resultado é um número crescente de casos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) entre mulheres que fazem sexo com mulheres. Estudo da Revista Azmina aponta que 40 a 60% das mulheres que se relacionam com mulheres já tiveram alguma IST.

A professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, Sara de Pinho Cunha Paiva, afirma que o contato com fluidos vaginais ou saliva pode transmitir doenças como a sífilis. “Ao se relacionar com uma mulher que tem a presença de algum vírus, bactéria ou protozoário, ao ter contato com sexo oral, com mão, ou até com algum instrumento para penetração, ela pode receber esse vírus e transmiti-lo para outra pessoa”, explica.

Existe o mito de que, por não haver necessariamente penetração, não é preciso utilizar a camisinha durante o sexo entre mulheres. Sara desmente. “Tanto pode acontecer de homem para mulher, como de homem para homem, quanto de mulher para mulher. Por isso que é muito importante o cuidado e a prevenção”, alega.

Camisinha feminina

Atualmente, é possível adquirir camisinha feminina gratuitamente em unidades de saúde, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A professora Sara lembra a importância do uso do preservativo também nas relações homoafetivas, pois a barreira não protege apenas de gravidez indesejada, mas principalmente das ISTs.

Arte: CCS

“A camisinha feminina é colocada dentro da vagina e vai proteger aquela mulher, em uso do preservativo, de entrar em contato com saliva ou secreção que contenha algum microorganismo patógeno”, conta a ginecologista. “Se for utilizado um instrumento para penetração, ele pode ser coberto com a camisinha masculina”, completa. Além disso, a camisinha também é importante na prática do sexo oral. “Quando uma mulher faz o sexo oral e a outra está em uso do preservativo feminino, ela não vai ter o contato com a secreção vaginal”, conta a professora.

Sara Paiva revela que o vírus do HPV, já conhecido por causar o câncer de colo do útero, também está relacionado com outro tipo de câncer. “O HPV também é causador do câncer de laringe, língua e boca. Já foi demonstrado que a presença desse vírus nesse tipo de câncer está associada sim ao sexo oral desprotegido”, destaca.

Independente da orientação sexual, as mulheres heterossexuais, bi e lésbicas precisam fazer consultas regulares com ginecologista. A professora Sara Paiva afirma que a visita ao médico especialista e a realização de exames preventivos, como o Papanicolau, devem fazer parte do cuidado de todas as mulheres.

Sobre o programa de rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 187 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.

 

*Carol Prado– estagiária de Jornalismo

Edição: Maria Dulce Miranda