Produção de leite e amamentação: mitos, verdades e incentivos


02 de outubro de 2018


Professora explica fatores que influenciam na produção do leite materno, esclarece mitos e ressalta a importância do aleitamento materno

A produção do leite materno é um processo continuo que acontece em diferentes ciclos. Muitas mulheres têm dúvidas quanto a recomendações médicas e cuidados durante a gestação e amamentação para o sucesso desse importante elo entre mãe e filho. A médica e professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Maria Cândida Ferrarez Bouzada Viana, explica o processo de produção de leite e desvenda mitos e fatores associados à amamentação bem sucedida.

“O leite materno é produzido em dois ciclos chamados lactogênese I e lactogênese II. A lactogênese I começa assim que a mulher engravida e inicia processos hormonais que vão preparar essa mulher para a produção do leite. Já a lactogênese II, que é a descida do leite, acontece no período pós-parto”, afirma a médica. “A produção de leite materno é um processo continuo e quanto mais estímulo tiver, principalmente através da sucção do neném, maior a sua produção”, completa.

Amamentação e alimentação 

O consumo de determinados alimentos ou refeições é, algumas vezes, associado ao aumento ou à qualidade do leite materno. No entanto, a professora Maria Cândida desmistifica essa associação. Para ela, uma alimentação saudável é importante para qualquer pessoa, em todos os momentos de sua vida. Na gestação não é diferente. “A verdade é que a alimentação durante a lactação não altera substancialmente o leite materno”, informa. De acordo com a professora, o que pode variar, dependendo da dieta alimentar, são fatores menores e que não são tão importantes. “Mas, questões relacionadas a proteínas, lipídios ou à qualidade e quantidade do leite não são afetadas”, continua.

A médica alerta quanto a associações entre o consumo de álcool e o aumento da produção de leite. Há uma crença, por exemplo, de que o consumo de cerveja preta aumenta a quantidade de leite materno. “Isso é mentira, a cerveja com certeza não vai aumentar a produção de leite. O consumo de álcool é contra indicado tanto na gestação quanto na lactação, porque este vai estar presente no leite materno por até duas horas após o seu consumo. Na verdade, o seu consumo pode até reduzir a produção de leite”, explica a professora.

Porém, algumas relações entre alimentos e aumento da produção de leite podem ser verdadeiras. Você já ouviu falar que canja de galinha ajuda na amamentação? “Acredita-se que exista uma relação psicológica, a canja de galinha, por exemplo, é uma refeição que é relacionada ao aumento do leite. O que se supõe é que a refeição sirva como uma demonstração de aconchego e carinho que pode mexer com o hormônio do prazer, fazendo com que a mãe fique mais calma, tranquila. Essa sensação de tranquilidade pode estar relacionada ao aumento da produção de leite, não o alimento propriamente dito”, argumenta a especialista.

Amamentação bem sucedida necessita de políticas públicas

A professora Maria Cândida reforça que a mulher precisa ter liberdade para decidir se quer ou não amamentar. Porém, cabe ao Sistema Único de Saúde (SUS) orientar adequadamente a mãe. “Nosso pré-natal ainda é deficiente quanto à educação para o aleitamento. Ações como a do Hospital Amigo da Criança que utilizam os dez passos de apoio e promoção do aleitamento para levar o aleitamento adiante são muito importantes. Precisamos que os profissionais de saúde não incentivem o desmame, mas sim que propiciem o suporte ao aleitamento”, diz.

Incentivar a autoconfiança da mulher é essencial, de acordo com a professora. “A mulher que amamenta é super poderosa. Ela produz um alimento ideal, perfeito para o seu próprio filho, não tem poder maior que este”,  destaca. “Então, é preciso que a comunidade e os profissionais de saúde conscientizem essas mães da importância que elas têm. Infelizmente não é isso que se ver, vemos a mídia desencorajando as mães, vemos propagandas de crianças com bicos e mamadeiras e praticamente nenhum com crianças mamando no peito”, comenta.

Prevenção do câncer de mama, câncer de ovário, redução do peso são apontados pela especialista como os principais benefícios do aleitamento para a mãe. Já para a saúde dos recém-nascidos, o não aleitamento ou desmame precoce pode implicar em consequências graves. “Os nenéns podem ter diversas infecções em sítios como ouvidos e pulmão. Além de aumentar a chance de obesidade”, argumenta.

Segundo a professora Maria Cândida, seria muito importante, já na educação infantil, abordar o aleitamento materno para que as novas gerações entendam seus benefícios. “A criança estuda na escola alimentação, mas desconheço uma escola que fale do aleitamento que é o nosso primeiro alimento”, aponta. “A amamentação deveria ser uma prioridade no Brasil, o incentivo encarado como uma luta”, conclui a médica.