Professor da Faculdade de Medicina desvenda mitos sobre câncer de próstata

Por dia, 42 homens morrem devido à doença no país


16 de novembro de 2020 - , , , ,


O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, ficando atrás somente do câncer de pele não melanoma, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). A próstata é uma glândula do sexo masculino, que se localiza abaixo da bexiga e à frente do reto. Em formato de maçã, o órgão produz parte do sêmen. A cada quatro casos de câncer de próstata, três ocorrem em homens acima de 65 anos. O mês de novembro é dedicado à conscientização desse tipo de câncer e à saúde do homem. Por isso, o Saúde com Ciência conversou com o médico urologista e professor do Departamento de Cirurgia, Daniel Silva Xavier, sobre a doença. Confira:

Saúde com Ciência: O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens e a estimativa, segundo o INCA, é de mais de 65 mil casos novos em 2020. Por que esse tipo de câncer é tão comum?

Daniel Silva Xavier: A gente não consegue achar uma razão única que possa explicar o fato de o câncer de próstata ser tão comum. O que a gente sabe é que existem muitos fatores genéticos envolvidos, embora não sejam muitas as famílias acometidas pelas síndromes genéticas que tornam o de próstata mais comum. A história familiar é um fator importante, mas, as causas genéticas específicas e ambientais não estão ainda bem definidas.

SCC: É possível prevenir o câncer de próstata? Existem notícias que falam de determinados alimentos, como o tomate, como forma de proteção à doença. O que é verdade nisso?

DSX: Não se tem uma forma específica de prevenção ao câncer da próstata, ou seja, para se evitar ter o câncer não há nenhuma medida. Acreditava-se que a dieta mediterrânea [que privilegia alimentos frescos e in natura em relação aos industrializados] e fatores de ingestão alimentar, como o licopeno, que está biodisponível no tomate cozido, poderiam estar implicados como forma de prevenção, mas nada foi bem estabelecido ainda a esse respeito. Então, o que se recomenda em termos de prevenção é uma alimentação saudável – que envolve proteção a praticamente todos os tipos de câncer – e evitar excesso de gordura, carnes e açúcar, que é um fator implicado para vários tipos de tumor.

Especificamente em relação ao câncer da próstata, não há nada específico do ponto de vista ambiental que, sem sombra de dúvidas, possa causar um efeito protetor.

SCC: Quais as diferenças entre os exames de toque ou de sangue para a detecção do câncer de próstata?

DSX: Os exames que são utilizados para avaliar a presença ou não do câncer de próstata não são medidas de proteção contra a ocorrência da doença, mas, sim, uma forma de se tentar diagnosticar o câncer numa fase mais precoce. Então, se não é possível evitar que a doença ocorra, ao menos é possível detectá-la no início. Esse tipo de câncer só é curável quando ele ainda está localizado dentro da glândula. Quando ele acomete outras regiões do corpo, muito dificilmente o paciente vai conseguir um controle adequado dessa doença em médio e longo prazo, especialmente. Então, um dos exames que a gente utiliza é exame de sangue, que é a dosagem do antígeno prostático específico (PSA). Esse exame precisa ser visto com muita cautela, porque ele não dá o diagnóstico do câncer, mas um marcador tumoral que tem que ser interpretado com base em muitos estudos das formas de avaliação da flutuação.

Não é qualquer alteração do PSA que significa que a pessoa está com câncer na próstata. É preciso que o exame seja interpretado por um médico que esteja habituado nesse tipo de análise, preferencialmente, uma análise de médio a longo prazo. O paciente que sempre segue, especialmente a partir dos 50 anos, fazendo exames anualmente, vai ter vários exames ao longo do tempo, o que torna a análise mais fidedigna

Já o exame físico da próstata é feito pelo toque retal. É um exame que, embora tenha uma aura de preconceito, esse preconceito vem diminuindo com o tempo porque a conscientização a respeito do câncer de próstata é muito grande. Esse exame dura menos de cinco segundos e é feito no consultório sem necessidade de preparo algum. O que a gente vê na prática é que não causa tanto sofrimento, é uma coisa bem tranquila, bem conversada e, a pessoa estando motivada e entendendo a importância do exame, o paciente relata que o dia do exame é de tranquilidade, por saber que está tudo bem com ele ou que precisa tomar alguma providência sobre a sua saúde.

SCC: E quando esses exames devem começar a ser feitos?

DSX: Esse ainda é motivo de debate. Internacionalmente, a gente sabe que, em torno dos 50 anos, é uma idade que é interessante que o homem já comece a fazer avaliação periódica com seu urologista. Porém, pessoas que têm história familiar é desejável que procurem mais precocemente, em torno dos 45 anos. Muitas vezes, os pacientes nos procuram a partir dos 40 anos. Realmente, uma conversa franca sobre os riscos da doença, das vantagens do rastreamento e das preferências do paciente pode fazer com que os pacientes nos procurem mais cedo. Como idade limite, a gente considera os 75 anos como referência muito boa. A gente sabe que, se o paciente tem uma expectativa de vida inferior a 10 anos, normalmente essa avaliação do câncer de próstata, se o homem estiver assintomático, não deve ser feita porque não vai ser benéfica.

SCC: Quais são os tratamentos utilizados hoje? Eles são eficazes?

DSX: O câncer de próstata tem diversas formas de tratamento e cada uma delas é bem indicada para determinadas situações. O ideal é que o paciente receba o tratamento com a doença localizada, mas a gente tem que lembrar que existem situações com doença localizada que o tratamento é não realizar nenhuma intervenção. Pacientes com muito baixo risco, com doença bem localizada e com alguns tipos de tumor que chamamos de indolentes [com menor tendência de progredir], sabe-se que a gente pode acompanhar, o que a gente chama de vigilância ativa.

Esse paciente não vai ser submetido a nenhum tratamento, mas vai ser acompanhado com frequência, vai repetir exames de sangue e de imagens a intervalos periódicos. Apenas se esse tumor mostrar sinais de maior agressividade é que a conduta vai ser intervencionista

Quando a conduta é intervencionista, nos casos de doença localizada, a cirurgia, que é a prostectomia radical ou a retirada da próstata, é necessária. Como alternativa, temos a radioterapia, que se presta também para os casos de recidiva da doença após a cirurgia. A hormonioterapia é indicada nos casos em que a radioterapia é feita e também em casos de doença avançada. Existem, também, tratamentos quimioterápicos mais modernos para situações mais complexas, em que o tumor já se apresenta com metástases ósseas múltiplas. Então, as formas de tratamento vão desde aquele caso que é inicial, até os casos mais avançados. A medicina não tem resposta para todas as situações, mas a gente vai buscando – especialmente, a questão da qualidade de vida – que o paciente seja atendido em todas essas situações.

As chances de cura têm uma relação muito grande com o estado da doença, ou seja, se é numa fase restrita à próstata ou com metástase. E também quanto ao grau de diferenciação do tumor, se é indolente ou mais agressivo. Nesse último caso, pode ter uma tendência maior a metástases ou prolongamentos. A cura é muito mais frequente quando o tumor está localizado na próstata e não tem um grau de agressividade grande. Nesses casos, a cura pode chegar a 100%

De olho na saúde do homem

Além do câncer de próstata, série do Saúde com Ciência aborda outras questões relacionadas à saúde masculina, como a baixa frequência em médicos, criação violenta, falta de higiene e sexualidade. Confira a programação:

:: Saúde do homem: por que é um tabu?
:: Câncer de próstata
:: Homens e covid-19
:: Saúde e sexualidade
:: Violência

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