Professor da Faculdade recebe medalha do Exército Brasileiro

Homenagem foi concedida pelo trabalho pioneiro sobre prevenção ao suicídio


04 de maio de 2017


Homenagem foi concedida pelo trabalho pioneiro do professor Humberto Correa sobre prevenção ao suicídio

Ives Teixeira Souza*

O chefe do Departamento de Saúde Mental e presidente da Associação Latino-Americana de Suicidologia, professor Humberto Correa recebeu, em abril, a Medalha do Exército Brasileiro. O professor idealizou um projeto, pioneiro na América Latina, que busca prevenir o autoextermínio e minimizar a possibilidade de ocorrência de suicídios por membros de instituições militares e de segurança.

De acordo com Humberto, a proposta foi realizar um levantamento sobre as condições de saúde dos trabalhadores, com o objetivo de estabelecer metodologias para prevenir o suicídio.

A Faculdade de Medicina da UFMG, por meio de um acordo de cooperação, oferece a sua capacidade técnica para treinar os profissionais de saúde das organizações militares, como exército, polícia rodoviária federal, bombeiros, entre outros, em um método de autópsia psicológica, em que são feitas entrevistas com familiares, amigos, colegas de trabalho.

Prevenção do suicídio
Com mais de 12 mil casos anuais no Brasil, segundo os números do DataSus (2012), o número de suicídios no país vem aumentando. Apesar disso, ao contrário de diversos outros países, o país ainda não elaborou a sua estratégia nacional de prevenção.

Correa lembra que essas estratégias precisam ser adotadas de acordo com as especificidades de cada país, mas uma das alternativas é restringir o acesso aos meios para o autoextermínio. “As pessoas se matam utilizando os meios de mais fácil acesso. O médico se mata injetando uma substância. O militar se mata utilizando uma arma de fogo. E isso vale também para o restante da população. Na Ásia, por exemplo, a principal causa de morte em alguns países era o uso de pesticidas letais para seres humanos. Então, eles proibiram a comercialização desses produtos e isso foi suficiente pra diminuir o índice”, explica o professor.

Mas para isso acontecer, antes, é preciso diagnosticar o modo como isso acontece no Brasil, de modo semelhante ao que está sendo feito nas instituições militares. Em um estudo realizado na Região Metropolitana de Belo Horizonte foram identificados, segundo Correa, alguns meios. “Entre homens, metade do índice de suicídio foi por enforcamento e outros 20% por arma de fogo. Entre as mulheres, o principal método foi a ingestão de substâncias, e em segundo lugar o enforcamento”.

Como abordar
Diante da recente exposição do tema, o professor alerta para as formas adequadas de se discutir sobre o suicídio. A mídia, por exemplo, para ele, nunca deve descrever os métodos de suicídio, como acontece na série 13 Reasons Why, já que as pessoas podem se colocar na mesma situação da outra e achar que é a solução para si também. “O seriado além de demonstrar o suicídio comete outro erro que é glamourizar o suicídio, e ainda ficar apontando os eventuais culpados pela morte da personagem”, opina o professor.

Como exemplo de um método eficaz de abordagem do assunto, Correa destaca um método realizado em uma escola europeia, onde os alunos foram submetidos, durante um mês, a uma série de atividades sobre saúde mental, como ansiedade e depressão. “Foi o suficiente para reduzir a idealização suicida e a tentativa de suicídio ao longo de um ano. É um programa relativamente simples, que não envolve muito recurso, e eficaz na prevenção da população jovem”,declara.

“O debate tem que ser feito  de maneira clara, porque se nós não debatermos com eles, eles vão procurar outros meios de fazer isso”, aconselha o professor, para que os pais, inclusive, assistam às séries e filmes sobre o assunto com os filhos.

 

*Redação: Ives Teixeira Souza – estagiário de jornalismo
Edição: Mariana Pires