Professor José Renan da Cunha Melo recebe Medalha Cícero Ferreira

Homenagem é concedida aos servidores aposentados da Faculdade cuja atuação é considerada de grande relevância.


30 de março de 2022 - , , ,


Professor Humberto José Alves, presidente da Congregação e diretor da Faculdade de Medicina, entrega medalha Cícero Ferreira ao professor José Renan da Cunha Melo. Foto: Deborah Castro

Em sessão especial realizada nesta quarta-feira, 30 de março, a Congregação da Faculdade de Medicina da UFMG homenageou o professor Emérito José Renan da Cunha Melo com a Medalha Cícero Ferreira, em reconhecimento a sua contribuição ao ensino, pesquisa e extensão na Instituição.

Além do homenageado, participaram da mesa de honra o presidente da Instância e diretor da Unidade, professor Humberto José Alves; professora Eliane Gontijo, o professor Emérito Luiz Otávio Savassi Rocha e o professor Marco Antônio Gonçalves Rodrigues, chefe do Departamento de Cirurgia. A cerimônia também foi acompanhada pelos demais integrantes da Congregação, familiares e convidados do professor José Renan, bem como poderá ser assistida no Youtube. O diretor ressaltou a importância da medalha e a alegria em fazer parte desde momento histórico para a Faculdade e na vida do homenageado.

“Essa homenagem é demais para um único José Renan. Eu precisaria ser muitos para suportar o peso dessa alegria”

Declarou emocionado o professor Emérito José Renan

Convidado a saudar ao José Renan, o professor Luiz Otávio pontuou que diante do forte vínculo entre eles, os elogios seriam contaminados pelo viés da amizade, que dura há mais de 60 anos, desde quando eram colegas de turma no Colégio Estadual. Por isso, ele replicou as palavras dos professores Umberto Perrotta e Jaime Arturo Ramirez proferidas ao José Renan, em diferentes ocasiões, que permanecem gravadas em sua memória. O primeiro disse “o senhor é um patrimônio nacional. O senhor não se pertence mais”. O segundo, por sua vez, “referiu-se ao professor José Renan como alguém que não precisava de adornos, por aliar uma notória simplicidade a uma irremovível inquietação intelectual e uma indiscutível competência como cirurgião, docente e pesquisador em ciência básica”.

Mesa de honra. Foto: Deborah Castro

Reforçando as descrições, Luiz Otávio lembrou da cerimônia em que José Renan recebeu o título de Emérito, na qual Cunha Melo propôs um minuto de silêncio em homenagem a três pacientes que “ao longo da sua carreira como cirurgião geral, teria involuntariamente prejudicado por excesso de autoconfiança e limitação técnica não percebida a tempo”. Também contou sobre o mutirão de cirurgias promovido em Araçuaí-MG, cidade natal de José Renan, com duração de quatro dias, realizando gratuitamente 62 cirurgias em pessoas que já esperavam até por anos. E ele ainda ficou por mais 15 dias para acompanhar o progresso dos pacientes. “Para quem conhece nosso homenageado, semelhante iniciativa não surpreende”, declarou Luiz Otavio.

“Deixei o Vale [do Jequitinhonha], mas ele não me deixou”, afirmou José Renan, que, orgulhoso da sua origem, conta que procura sempre contribuir com Araçuaí quando pode. “No meu confuso entender, imaginar que alguém como eu finque sua bandeira no cume da Faculdade de Medicina, pertencente à universidade pública do porte da UFMG não se justifica pelo mérito”, defende o homenageado, acreditando que não fez mais do que sua obrigação. “Ressalto que não me esquivo de ser um dos representantes do meu povo. Pois acredito que para viver em equilíbrio não podemos ter vergonha de quem somos, do que fazemos, de onde viemos”, completou.

“Estou muito feliz e emocionado com o prêmio. Da Faculdade, esse é o maior prêmio que eu poderia receber. Nunca almejei e imaginaria que receberia. Mas agora não abro mão dele. As pessoas que não recebem essa medalha, ou que não são indicadas, não imaginam o que significa isso. E que pena não ter conhecido o professor Cícero Ferreira”

José Renan da Cunha

Sorte e mérito

José Renan da Cunha Melo é professor aposentado do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina e recebeu o título de Emérito da UFMG em 2016. Mesmo após mais de 50 anos como docente da Instituição, ele continua com sua rotina de chegar antes das 7h e permanecer até a noite. “Aqui é a extensão da minha casa. Vivi aqui minha vida inteira. Até ia sair quando me aposentei. Mas após me concederam o título de Emérito, ofereceram a oportunidade de continuar e aceitei”, contou completando que ficar em casa não o traz paz e prefere estar na Faculdade.

Hoje ele não leciona mais, a não ser quando é convidado, como cobrir um colega, por exemplo. Mas continua realizando cirurgias e acompanhando seus pacientes no Hospital das Clínicas da UFMG. E eventualmente aceita os convites para bancas de concurso, cursos, comissões, entre outras representações. Ainda que sejam diversas atuações, sem contar o atual desenvolvimento da sua tese de doutorado com o tema “O direito à saúde baseado em evidências”, ele considera que já foi muito mais atuante. “Na realidade, eu fiz pouca coisa. O que fiz foi uma obrigação de quem entra para a Universidade e se dispõe a ocupar um cargo aqui dentro. Meu mérito é pequeno por isso. Inclusive acredito que a meritocracia é falha”, explicou.

“A Universidade me deu tudo que eu tenho do ponto de vista profissional”

José Renan da Cunha
Porfessor José Renan em agradecimento à homenagem. Foto: Deborah Castro

“Eu ganhei o Prêmio Fundep, que poucos ganharam, o título de Emérito da UFMG, fui coordenador no CNPQ, trabalhei na CAPS por muitos anos, participei de concursos de grandes universidades pelo Brasil. Isso é uma consequência lógica do que a gente desenvolve”, acrescentou o professor. Em seu discurso, ele comentou ter dificuldade de justificar a homenagem recebida e tenta associá-la ao trabalho duro, diuturno, intenso e sagrado, motivado pela felicidade de fazer o que gosta. Ele disse estar “leve, feliz, orgulhoso e vaidoso” e admitiu que o esforço possa ter contribuído para a medalha, mas não afastava a possibilidade de ter alcançado por sorte.

“Eu sou uma pessoa de sorte”, defendeu. “Tive sorte de nascer em uma família humilde, mas muito coesa e com princípios éticos e morais. Minha mãe, professora primária, e meu pai, funcionário público, me disseram aos 11 anos de idade que eu precisava ir embora”, afirmou. “Então vim para o Internato do Colégio Batista, aqui em Belo Horizonte, onde fiquei por três anos. Como meus pais não eram ricos, fui estudar no Colégio Estadual, que era a melhor escola da época na capital. Também tive sorte de entrar na Universidade, com professores espetaculares, que foram verdadeiros faróis em minha vida”, continuou o professor:

“Tive sorte de gostar do que eu escolhi fazer. Tive sorte de ter abertura, tanto na pesquisa básica quanto no Hospital, de exercer a vida acadêmica plenamente. Para mim, a maior sorte é fazer o que eu gosto em uma instituição que eu gosto. Por isso acho que não mereço nenhum prêmio que ganhei. Tive sorte e cumpri a minha obrigação”

José Renan da Cunha Melo

Finalizando, o professor José Renan destacou a frase do seu memorial: “Coragem nas derrotas para não esmorecer. Humildade nas vitórias para não envaidecer”.

Medalha

A Medalha Cícero Ferreira foi criada em 2011, o ano do Centenário da Faculdade de Medicina da UFMG, e é destinada a realçar o mérito profissional de servidor aposentado do corpo docente ou do técnico-administrativo em educação cuja atuação seja considerada de grande relevância. Ela é entregue uma única vez a cada gestão da Diretoria da Unidade.

O processo da escolha e votação é de responsabilidade da Congregação da Faculdade, que primeiro escolhe os membros que irão compor a comissão responsável por escolher quem concorre à medalha, com base nas indicações dos departamentos e demais setores. Na segunda parte, a Congregação indica os nomes que concorrerão à medalha. Os cinco mais bem votados são levados à Comissão, a qual escolhe o homenageado.

Essa comissão é dirigida pelo próprio diretor da Instituição e composta por dois professores Eméritos, dois Titulares e um servidor técnico-administrativo em educação. Nesta edição, além do do professor Humberto José Alves, participaram os professores Eméritos José Penna, diretor da Faculdade nas gestões 2006-2010 e 2010-2014, e Paulo Roberto Savassi Rocha; os professores Titulares Teresa Cristina de Abreu Ferrari e Ênio Roberto Pietra Pedroso; e o servidor Cleverson de Oliveira Pena.

A medalha Cícero Ferreira já foi entregue aos professores Ennio Leão, Nassim da Silveira Calixto, Alcino Lázaro Silva e à servidora Emely Salazar.