Psicoterapia e medicamentos são aliados no tratamento da depressão

De acordo com a OMS, 322 milhões de pessoas no mundo têm depressão.


09 de março de 2018


De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 322 milhões de pessoas no mundo, de diferentes idades, têm depressão. No Brasil, o país com a maior prevalência de depressão da América Latina, a estimativa é que 11,5 milhões de brasileiros sofrem com a doença, ou seja, 5,8% da população.

Na tentativa de diminuir este quadro, diversos tratamentos são utilizados para amenizar os sintomas da doença. Dentre eles, estão a psicoterapia e a utilização de psicofármacos, os remédios antidepressivos. Mas os tratamentos têm mais eficácia quando psicoterapia e remédio são aliados.

Tratamentos têm mais eficácia quando psicoterapia e remédio são aliados. Foto: Carol Morena.

De acordo com a psiquiatra e professora do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, Tatiana Mourão Lourenço, uma pessoa deprimida tem o humor rebaixado e ansiedade. “Quando trata essa pessoa com a farmacoterapia, ela terá melhora nestes dois sintomas: terá energia para fazer as atividades de antes e terá menos ansiedade. Mas, muitas vezes, ela teve inúmeros fatores estressores, que não vão mudar apenas com a medicação”, explica.

Da mesma forma, o psicólogo do Núcleo de Apoio Psicopedagógico aos Estudantes da Faculdade de Medicina (Napem), Gilmar Fidelis, acredita que a medicação é um suporte, um ganho para o paciente transitar e caminhar com bem-estar. “Os gatilhos que levam a essas situações, por mais que usem de uma ancoragem biológica, eles são existenciais. É preciso um acompanhamento psicoterápico, para que a gente trabalhe esses gatilhos, reorganize esses padrões”, comenta.

Gilmar comenta, ainda, sobre a importância da relação entre os profissionais que atuam no mesmo caso, inclusive, porque o psicólogo não pode prescrever medicação. “O diálogo entre os profissionais que atuam nessas áreas é essencial. Eu vejo o paciente semanalmente, eu o vejo evoluindo, vivendo as suas questões e os seus ciclos. Eu posso entrar em contato com o psiquiatra e falar se ele está respondendo bem à medicação ou à dosagem”, avalia.

A depressão

De acordo com Tatiana Mourão, a depressão é uma doença multifatorial, ou seja, tem fatores químicos, biológicos, genéticos e ambientais. “Existem várias teorias para tentar entender e explicar a depressão. Uma delas está relacionada a estressores psicossociais, aqueles fatores que pesam na vida da pessoa, trazendo uma sobrecarga emocional maior do que essa pessoa pode aguentar”, explica. Além disso, algumas pessoas já nascem com uma predisposição genética para desenvolver a depressão. Desta forma, um fator estressor psíquico ou estressor biológico, como uma doença clínica, ajudam no desenvolvimento da doença.

“A gente entende que, independentemente de como essa depressão se instala, seja ela por uma questão biológica ou de forma reativa, inquestionavelmente, ela está ancorada numa questão existencial do indivíduo”, avalia Gilmar.

Entre os sintomas da depressão estão: tristeza persistente, sensação de vazio, insônia ou muito sono, fadiga, dificuldade de concentração, dentre outros. “A pessoa fica com autoestima baixa, relata preguiça de levantar de manhã e tomar banho, por exemplo. Esses pequenos sinais mostram que a pessoa já está tendo um rebaixamento de humor. Se não é visto precocemente, vai caminhar para um quadro mais grave, com pensamentos suicidas”, afirma Tatiana.

Ainda de acordo com a OMS, em 2015, 788 mil pessoas morreram por suicídio, o que representa 1,5% de todas as mortes no mundo.

Uma característica da depressão é que as pessoas não sentem prazer em nada e, por isso, se isolam. A atividade física é um aliado ao tratamento, além de atividades que a pessoa sinta prazer e se socialize, como uma dança ou um curso de culinária, por exemplo.

Antidepressivos

De acordo com a professora Tatiana, atualmente, é antiético se tratar uma depressão de moderada a grave sem os remédios. Foto: Carol Morena.

Os remédios antidepressivos agem no cérebro aumentando a atividade de substâncias químicas, que são reguladoras do humor. De acordo com a professora Tatiana, atualmente, é antiético se tratar uma depressão de moderada a grave sem os remédios.

Segundo a psiquiatra, os remédios mais conhecidos para o tratamento da depressão são: os inibidores da monoamina oxidase, os tricíclicos e os inibidores seletivos de recaptação de serotonina. Entretanto, existem as especificidades de cada um: menos ou mais efeitos colaterais, eficácia, tempo para começar a fazer efeito, além daqueles que são distribuídos pelo Sistema Único de Saúde.

Entre os efeitos colaterais dos remédios antidepressivos estão: boca seca, constipação, fraqueza, tremores, náusea, arritmia cardíaca, falta de libido, dentre outros. Por isso, esses remédios precisam de receita médica e o psiquiatra escolhe o mais indicado de acordo com cada paciente.

“A depressão é uma doença grave. A recomendação é que se trate rapidamente, não fique postergando, inclusive o tratamento farmacológico”, afirma Tatiana.

Psicoterapias

Segundo a Associação Norte-Americana de Psicologia, atualmente, existem mais de 500 linhas ou técnicas psicoterapêuticas, como linhas humanísticas, comportamentais ou psicanálise. Entretanto, há uma adaptação dessas linhas para cada pessoa, inclusive, na periodicidade do tratamento.

O cenário mais clássico de atendimento é o semanal e, pacientes em manutenção, já podem comparecer a psicoterapia de 15 em 15 dias. Em situações muito extremas, como a de autoextermínio ou abuso de drogas, o acompanhamento deve ser feito em mais vezes durante a semana.

Para o psicólogo Gilmar Fidelis, o grande desafio é fazer uma leitura do quadro clínico do paciente: entender suas peculiaridades, seus limites, além de saber se vem de uma família com conflitos, se é dependente de alguma droga ou dependente afetivo. Para, em seguida, adaptar o seu repertório de conduta e repertório técnico para aquela situação.

Ainda de acordo com Gilmar, o tempo de tratamento é mais extenso. “Não podemos ser rápidos nas nossas inserções, essas pessoas querem ser acolhidas, precisamos escutá-las. Além disso, é preciso criar confiança durante o processo, elas não se entregam rapidamente”, argumenta.

O psicólogo conta que é recorrente que as pessoas se sintam envergonhadas pelo motivo no qual procuraram tratamento. “Quando a pessoa fala que está com vergonha, ela está fazendo uma comparação com cenários externos e deixando de respeitar a sua questão interna”, avalia. Para Gilmar, o psicólogo serve para que o paciente tenha um espaço para dialogar sobre suas questões e para ter outros tipos de percepções.

Além de auxiliar a pessoa que está em tratamento de depressão, as psicoterapias também auxiliam como prevenção. De acordo com Gilmar, isso acontece com pessoas que não estão ancoradas em uma patologia, mas que tem um acompanhamento profissional com o objetivo de autoconhecimento. “O profissional tem condição de perceber sinais da depressão, por mais tênues que sejam e prevenir isso. Os casos mais bem-sucedidos no tratamento da depressão são aqueles que são diagnosticados previamente ou em tempo inicial”, finaliza.