Sobre

O Seminário de Pesquisa Qualimed: Condições de Saúde e Qualidade de Vida de Estudantes acontecerá entre os dias 08 e 09 de Maio de 2019 no Salão Nobre da Faculdade de Medicina da UFMG.

Tem como objetivo apresentar os resultados da primeira fase da pesquisa para a comunidade acadêmica e promover o debate sobre alguns temas relevantes em relação à saúde dos estudantes de medicina e às possibilidades de intervenção e manejo.

Além disso, o Seminário terá um componente relativo à formação dos alunos. Serão realizadas oficinas com temas voltados para estratégias de enfrentamento e/ou manejo de problemas relacionados aos estudantes, tais como Técnicas de estudo e gerenciamento de tempo; comunicação de más notícias entre outras.

O evento será aberto ao público acadêmico em geral, incluindo estudantes e professores internos e externos à UFMG, com um total de 400 vagas. Ao término das palestras será feita uma discussão com os participantes sobre os tópicos abordados.

Resumo estendido da pesquisa – Qualimed

Introdução

É consenso na literatura que o trabalho, e as formas como este é realizado, pode impactar na saúde dos indivíduos: ao mesmo tempo em que pode ser fonte geradora de saúde, pode também provocar doenças ou agravar doenças pré-existentes.

Algumas profissões acabam sendo mais susceptíveis a causar agravos que outras, pela forma ou condições em que o trabalho é realizado, como é o caso da medicina. Um extenso estudo realizado na década de 90 por Machado (1997) sobre a profissão médica e o exercício da medicina mostrou que 80% dos médicos consideram a atividade médica desgastante nutrindo sentimentos de incerteza e pessimismo quanto ao futuro da profissão. Entre os principais fatores de desgaste estão o excesso de trabalho/multiemprego (trabalham 15 horas por semana a mais que outros profissionais), baixa remuneração, más condições de trabalho, responsabilidade profissional, área de atuação/especialidade, relação médico-paciente, conflito/cobrança da população e perda da autonomia (Machado, 1997).

Além destes aspectos, a prática médica expõe o profissional a intensos estímulos emocionais que acompanham o adoecer: o contato íntimo e frequente com a dor e o sofrimento; ter que lidar com a intimidade corporal e emocional; atendimento a pacientes terminais; lidar com pacientes difíceis (queixosos, hostis, não aderentes ao tratamento, autodestrutivos, cronicamente deprimidos); lidar com as incertezas e limitações do conhecimento médico e do sistema assistencial que se contrapõem às demandas e expectativas dos pacientes e familiares que desejam certezas e garantias (Pitta, 1991).

Todo este cenário em que o trabalho médico é realizado tem produzido nos profissionais médicos transtornos mentais que, em maior ou menor medida, os incapacita para o exercício da profissão impactando também, sua qualidade de vida.

Cabe ressaltar que este perfil de adoecimento do profissional médico pode ter suas origens no curso de graduação e, por não ter sido tratado e/ou diagnosticado, se estender para os anos subsequentes de prática médica.

Um recente estudo de revisão de literatura realizado por Pacheco et al (2017) sobre prevalência de problemas de saúde mental em estudantes de medicina brasileiros apontou altas prevalências de depressão (30,6%), transtornos mentais comuns (31,5%), burnout (13,1%), uso abusivo de álcool (32,9%), estresse (49,9%), baixa qualidade do sono (51,5%), sonolência diária excessiva (46,1%) e ansiedade (32,9%) comparadas a outros estudantes de graduação.

É preocupante pensar, por exemplo, que estudantes de medicina brasileiros estão mais deprimidos que os demais estudantes de medicina pelo mundo. Rotenstein et al (2016), ao avaliar 195 estudos realizados em 47 países, identificou uma prevalência de depressão de 27,2%, entre os quais, apenas 15,7% fazia tratamento. Além da depressão, este estudo identificou ideação suicida durante o curso médico em 11,1% dos estudantes.

Durante a residência médica, a situação não é muito diferente. Estudo realizado com residentes (Mata et al, 2015) encontrou prevalência de depressão de 28,8%, valor muito próximo do encontrado com os estudantes (27,2%). Estes achados corroboram com a teoria de que a depressão e outros transtornos mentais podem ocorrer mais cedo na vida do médico e não apenas no exercício de sua profissão, impactando na sua saúde ao longo do tempo e na qualidade do cuidado ofertado ao paciente.

Além de mais deprimidos e estressados, estudantes de medicina apresentam baixo bem estar social quando comparados a seus pares da mesma idade e significativa queda da empatia com o passar dos anos (Magalhães et al, 2011; Pagnin e Queiroz, 2015; Rotenstein et al, 2016).

A empatia, entendida como a resposta de um indivíduo às experiências vivenciadas pelos outros (Formiga et al, 2011), tem um papel fundamental na qualidade do cuidado ofertado ao paciente. Além de contribuir para um melhor engajamento do paciente ao tratamento, a empatia pode auxiliar o médico em formação em suas relações sociais com os colegas, aspecto muito associado a uma melhor saúde mental e qualidade de vida.

Na literatura, encontramos muitas descrições de agravos ligados às atividades profissionais dos médicos que são observados também nos estudantes de medicina. Podemos citar a síndrome de “burnout” ou síndrome do estresse profissional, que envolve sintomas somáticos (exaustão, fadiga, cefaléia, distúrbios gastrointestinais, insônia e dispneia) psicológicos (humor depressivo, irritabilidade, ansiedade, rigidez, negativismo, ceticismo e desinteresse) e comportamentais (fazer consultas rápidas, colocar rótulos depreciativos, evitar os pacientes e o contato visual); uso de drogas e substâncias psicoativas, distúrbios conjugais, além de alta prevalência de suicídio e depressão como já dito anteriormente (Machado, 1997; Martins 1990).

O que estaria na gênese deste conjunto de problemas vivenciados pelos estudantes ainda não está muito claro. Existe uma corrente de estudiosos que apontam que o curso médico favorece o aparecimento destas doenças/comportamentos enquanto outros afirmam que os problemas são de personalidade dos candidatos ao curso médico, sendo, portanto, anterior à entrada no curso. Entre os fatores associados ao adoecimento mental dos estudantes estão: ambiente altamente estressante, carga de trabalho e competitividade excessivas, privação de sono, pressão dos pares, fatores curriculares e institucionais além de fatores pessoais e afetivos (Pacheco et al, 2017).

Associado a isso, os estudantes de medicina no Brasil encaram o desafio de conciliar o currículo médico voltado ao Sistema Único de Saúde (SUS) com suas próprias necessidades psicossociais num espaço de tempo de seis anos divididos em três ciclos: 1) básico ou pré-clínico, 2) clínico-teórico e 3) prático (internato).

Sendo assim, torna-se importante compreender como estes fatores (pessoais e relacionados ao currículo médico) se associam à prevalência e/ou incidência de problemas de saúde mental nos estudantes de medicina.

Objetivo da pesquisa Qualimed

Investigar as condições de saúde e a qualidade de vida de estudantes de graduação em medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e verificar os fatores associados.

Sobre a pesquisa

O estudo foi dividido em duas etapas:

  1. Estudo transversal: Todos os alunos matriculados no curso de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foram convidados a participar do estudo, independente do período que se encontravam no curso. Um total de 1470 alunos participou desta etapa.
  2. Estudo de coorte prospectivo com as quatro últimas turmas de alunos matriculados (ingressantes em 2017 e 2018). Aproximadamente 600 alunos serão acompanhados durante os seis anos do curso médico e suas condições de saúde mental e qualidade de vida serão analisadas.

Os estudantes responderam a um questionário composto predominantemente por questões fechadas contendo informações sobre dados socioeconômicos, informações sobre o curso, qualidade de vida, redes de apoio (confidentes, amigos e outros), empatia, uso de substâncias, violência, comportamentos e problemas de saúde geral e mental (depressão, burnout, ansiedade) e uma questão aberta ao final do questionário. Todos os instrumentos incluídos no questionário são validados para o Brasil ou estão em fase de validação pela própria pesquisa Qualimed.

O Qualimed está inscrito no Comité de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais. A participação foi voluntária e todos os estudantes que participaram do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

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