Quem são os alunos da Faculdade de Medicina?


16 de maio de 2013


*Notícia publicada no Saúde Informa

No curso de Medicina, prevalecem alunos brancos, oriundos de escolas privadas. Nos cursos de Fonoaudiologia e Tecnologia em Radiologia, pardos e negros e egressos de escolas públicas já são maioria.

Pessoas do sexo feminino, belo-horizontinas, brancas e que estudaram integralmente na rede privada de ensino. Estas são as características da maioria dos aprovados em 2013 para o curso de Medicina da UFMG, segundo dados da Comissão Permanente do Vestibular da UFMG (Copeve).

O perfil está longe de espelhar a sociedade na qual a Faculdade de Medicina está inserida. “A imagem refletida pelo perfil dos ingressantes não é a de nossa sociedade e constituiu-se em grupo seleto de alunos que, mesmo tendo tido ótimas oportunidades, certamente ainda renunciaram de boa parte da adolescência para se dedicarem ao vestibular,” analisa o pró-reitor adjunto de Graduação da Universidade Federal de Minas Gerais, André Cabral. Ele lembra que políticas de inclusão, a exemplo da Lei das Cotas, foram adotadas por várias universidades. Entretanto, em cursos concorridos, como o de Medicina, os efeitos ainda não foram percebidos.

Gabriela Marques, do 1º período de Medicina. Foto: Bruna Carvalho

Gabriela Marques, aluna do primeiro período de Medicina, se enquadra no perfil predominante. Além de ter estudado em escola particular, ela é de Belo Horizonte e se autodeclarou branca. Para Gabriela, a tão sonhada vaga na UFMG não veio fácil. “Desde pequena, me preparei muito bem e consegui passar no vestibular assim que saí do ensino médio. Às vezes, não basta você estudar um ou dois anos, já que o que é cobrado vem de uma preparação que exige ensinamentos de uma vida inteira”, diz.

A coordenadora do Colegiado de Medicina, professora Alamanda Kfoury, pensa de maneira semelhante. “Eu percebo que o aluno que entra na Universidade batalhou muito por essa vaga, teve que se preparar e estudar bastante. E para conseguir passar no vestibular ele foi selecionado com diferença de décimos entre outros candidatos”, ressalta.

Mudanças

Rafael Greco saiu de São Paulo para estudar na UFMG. Foto: Bruna Carvalho.

Nos próximos anos, espera-se que haja uma mudança efetiva no perfil do estudante da UFMG como um todo, em decorrência do fim do vestibular tradicional. Em 2011, a Universidade substituiu a primeira etapa do concurso pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Já para o processo seletivo de 2014, a instituição decidiu aderir ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) do Ministério da Educação, no qual os estudantes fazem o Enem como única fase do vestibular e se inscrevem nos cursos com base na nota obtida no exame.

Com a adesão ao Sisu, a segunda etapa do processo seletivo da UFMG também foi abolida. Em tese, isso poderia facilitar a vinda de estudantes de outras cidades e estados, já que a seleção deixa de ser presencial. Mas, para o pró-reitor adjunto de Graduação, André Cabral, com a implantação desse sistema, haverá menos estudantes de outros estados para cursos mais concorridos. Isso porque, com o Sisu, o estudante só pode escolher duas universidades ou dois cursos. “Quem é de outro estado possivelmente irá escolher uma do seu próprio Estado natal. Antes ele podia optar por essas duas faculdades e ainda fazer a prova da segunda etapa da UFMG. Podíamos supor que nos cursos mais concorridos, o nosso vestibular era nacionalizado. Agora, essa nacionalização tende a cair, embora, é fato, que o bom aluno irá poder escolher onde quer estudar”, explica.

Atualmente, 24% dos estudantes que cursam o primeiro período de Medicina na UFMG vieram de outros estados. Rafael Greco é um deles. Natural de São Paulo, ele prestou vários vestibulares em sua cidade, além de outros municípios e estados. “Em São Paulo passei apenas em particulares. Eu e meus pais decidimos que seria mais vantagem vir estudar na UFMG, por ser uma Universidade de renome no mercado”, conta.

 

Mais homens na Fono

Gustavo Mattiello é um dos sete homens do primeiro período de Fonoaudiologia. Foto: Bruna Carvalho.

O curso de Fonoaudiologia costuma chamar a atenção pelo grande número de mulheres nas salas de aula. De acordo com a Copeve, dos 50 alunos que ingressaram no início de 2013, 43 são mulheres e sete são homens.“Ter sete homens cursando fonoaudiologia é quase um recorde”, destaca Érica Couto, coordenadora do Colegiado. Gustavo Mattiello, do primeiro período, representa essa minoria e não vê problemas de convívio. “Todos os homens se dão muito bem com as mulheres, não há essa diferença dentro da sala de aula”, afirma.Na nova turma de Fonoaudiologia, grande parte se autodeclarou “preta” ou “parda”. São 23 alunos pardos, o equivalente a 46% do total, e nove negros, o que representa 18%. Érica Couto lembra que há apenas uma aluna negra na turma que se forma neste semestre, por isso, esses números são bastante significativos.

Experiência na Tecnologia em Radiologia

Roberto Oliveira já tem formação técnica em outras áreas. Foto: Arquivo pessoal.

O curso superior de Tecnologia em Radiologia parece agradar todas as gerações. No último vestibular, foram selecionados estudantes entre 16 e 53 anos. Segundo o sub-coordenador do Colegiado de Tecnologia em Radiologia, Rodrigo Gadelha, alguns alunos já têm outras graduações e, por isso, a faixa etária é mais alta. “Há estudantes formados em Odontologia ou Medicina Veterinária que vêm cursar Tecnologia em Radiologia com o intuito de se especializarem nessa área que tem crescido cada vez mais. Esses estudantes mais velhos já chegam com um foco na formação”, explica.Aos 42 anos,o estudante do primeiro período, Roberto de Oliveira, já tem formação técnica em eletrônica e desenho projetivo. “Tomei conhecimento do curso de Tecnologia em Radiologia e ele tem muito a ver com minhas outras formações. O curso está superando minhas expectativas e estudar na UFMG engrandece o currículo de qualquer um”, avalia.

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