Realização periódica da mamografia é a melhor forma de prevenção

Exame diminui em até 25% a mortalidade pela doença


19 de outubro de 2020 - , , , ,


O número de casos de câncer de mama cresce ano após ano. Para se ter uma ideia, o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a estimativa é de 66 mil casos novos no país em 2020. Em 2018, a estimativa foi de 58 mil casos. O câncer de mama é uma doença multifatorial, por isso, não é possível estabelecer estratégias da chamada prevenção primária, que impedem o desenvolvimento da doença. Os especialistas ouvidos pelo Saúde com Ciência apontam que a melhor forma é detectar precocemente a doença e, para isso, é utilizada a mamografia. O exame de imagem tem alta sensibilidade e permite identificar lesões menores de um centímetro de diâmetro, possibilitando um diagnóstico precoce e reduzindo em até 25% a mortalidade pela doença.

A mamografia é realizada em aparelhos de raio-x convencional e é feita de forma rápida e praticamente indolor. Além disso, não exige nenhuma preparação para o exame. A recomendação de quem deve fazer o exame, varia de acordo com guide lines: “Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o exame deve ser feito a cada dois anos, entre os 50 e os 69 anos. Já a Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda que seja feito anualmente, a partir dos quarenta anos até o fim da vida”, explica a professora do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, Débora Balabram.

“Tem benefícios fazer a mamografia entre os 40 e os 50 anos, mas são menores que a partir dos 50 anos, uma vez que o principal fator de risco para o câncer de mama é a idade”

Já nos casos de história familiar, ou seja, quando um parente de primeiro grau (pais, irmãos ou filhos) teve o câncer de mama, o rastreamento deve começar mais cedo: geralmente, a partir dos 35 anos. Mas, se a realização periódica é tão importante, por que não começa a ser feita mais cedo? A professora Débora explica que, antes dos 30 anos, as mamas costumam menos gordura, o que dificulta a identificação de alterações pela mamografia. Já a ultrassonografia nas mamas pode ser usada em pacientes jovens com queixas de alterações ou como um exame complementar à mamografia. Vale destacar que o exame não substitui a mamografia e nem deve ser utilizado como rastreamento do câncer de mama.

No autoexame, a mulher realiza, uma vez por mês, a apalpação das mamas. A observação deve ser feita em círculo, a partir do mamilo, e fazer todo o envoltório da mama. Mas não é o método mais eficaz: “Lesões mais profundas, mesmo se forem grandes, não são palpáveis. A mulher não deve se dedicar somente à apalpação para seu diagnóstico”, ressalta a professora do Departamento de Patologia e Medicina Legal, Cristiana Buzelin Nunes. Mas a professora Cristiana destaca que nem toda alteração é câncer de mama: “têm nódulos benignos, inflamações… Não quer dizer que, se a paciente apalpar um nódulo ou alguma área irregular na mama, que ela tem câncer. As lesões benignas são mais comuns do que o câncer”, explica.

Conhecer o próprio corpo e observar possíveis mudanças é importante, mas o autoexame não consegue identificar caroços ou alterações pequenas. Por isso, não substitui a mamografia! Realize o exame de acordo com a indicação do seu médico

A professora Débora Balabram chama atenção para a baixa eficácia da prática. “O autoexame foi recomendado durante muito tempo, na ideia de que se a paciente se examinasse frequentemente, ela conseguiria alterações e procuraria o médico nessa fase, além de só fazer o rastreamento uma vez por ano. Hoje, a gente sabe que a realização do autoexame não diminui o risco de a mulher morrer de câncer de mama”, destaca. “O que a gente recomenda é o autoconhecimento, que a mulher conheça a própria mama e consiga ver alterações mais grosseiras: por exemplo, se tiver alguma ferida na pele, se a mama tiver inchada”, recomenda.

“A maioria das alterações na mama não vão ser câncer. Mas, geralmente, quando a gente tem uma alteração clínica que nos leve a pensar no câncer de mama, a gente pensa em lesões mais avançadas do que aquelas que a gente só detecta na mamografia”.

Fatores de risco

Apesar de não ser possível apontar uma causa única para o desenvolvimento do câncer de mama, alguns fatores podem oferecer certa proteção ou risco. O professor do Departamento de Cirurgia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina e coordenador do setor de Mastologia do Hospital das Clínicas da UFMG, Clécio de Lucena, enumera:

  • A prática de atividades físicas, o combate à obesidade, controle do sobrepeso oferecem certa proteção;
  • A alimentação tem alguma interferência, mas ainda não se sabe exatamente o que de cada fator nutricional representa um fator de risco. Mas a alimentação saudável representa um fator protetor;
  • O consumo de álcool e o tabagismo são fatores de risco já reconhecidos;
  • O comportamento reprodutivo também pode impactar, mas não de uma maneira isolada: adiar a primeira gestação para uma idade mais avançada é um fator de risco para o desenvolvimento do câncer de mama, enquanto mulheres que são mães mais jovens têm certa proteção;
  • A amamentação também está ligada: mulheres que amamentam por mais tempo e de uma maneira efetiva estão mais protegidas;
  • O uso de terapias de reposição hormonal na pós-menopausa por um período de tempo muito prolongado também é um fator de risco.
  • Já as pílulas anticoncepcionais modernas não oferecem risco. Ao contrário das antigas, elas possuem menor taxa de hormônios e são seguras em relação ao câncer de mama.

Além disso, assim como em várias outras doenças, a questão hereditária também é importante no câncer de mama e é possível identificar um perfil de risco oncológico familiar. O professor Clécio explica que existem diferenças entre a influência genética e hereditária. “O fator hereditário está relacionado com o risco que todos nós temos em relação às doenças que podemos ter dos nossos familiares. A outra situação é a identificação de uma mutação de algum fator genético que represente a doença câncer de mama”, diferencia.

Inúmeros são os fatores genéticos relacionados à doença. Seja com baixa ou alta penetrância, que é a capacidade daquele gene ou da mutação desse gene de vir a fazer com que uma pessoa tenha um risco maior de ter determinada doença.  O professor usa o exemplo da atriz Angelina Jolie, que realizou cirurgia preventiva devido ao histórico familiar: “Os casos mais conhecidos sobre a questão da hereditariedade e o câncer de mama estão relacionados aos genes BRCA1 e BRCA2 – que é o caso da Angelina Jolie. Quando portadoras dessas mutações genéticas, as pessoas têm um risco muito alto para o desenvolvimento do câncer de mama”, destaca.

Mas é preciso destacar que a grande maioria – certa de 70% dos casos de câncer de mama – são os chamados esporádicos, que não tem fator hereditário e nem gênico estabelecido. É preciso avaliar caso a caso para saber quando o histórico familiar pode impactar, pode ser observado: quantas pessoas da mesma família tiveram o câncer, qual o grau de parentesco e a idade que as pessoas tinham quando desenvolveram a doença. O risco é aumentado se forem parentes de primeiro grau (pais, irmãos ou filhos) e que ocorrerem em pessoas mais jovens. Também é maior o risco quando há ocorrência em homens, tumores bilaterais ou os chamados triplo negativos, que é uma classificação baseada na biologia dos tumores.

Outubro rosa

Desde 1990, o mês de outubro é dedicado à conscientização ao câncer de mama, o outubro rosa. Esse é o tipo de câncer mais comum em mulheres no mundo: quase um a cada quatro casos de câncer em 2018. Por isso, o Saúde com Ciência dessa semana aborda as formas de diagnóstico, tratamento e prevenção ao câncer de mama. Confira:

:: Câncer de mama: por que tão comum?
:: É possível prevenir o câncer de mama?
:: Mamografia, autoexame, ultrassom: o papel de cada exame
:: Tratamentos para o câncer de mama
:: Um golpe na autoestima

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