Robô trans é criada para engajar jovens na prevenção ao HIV

Criação é uma ação estratégica de estudo que promove a prevenção da infecção em jovens de 15 a 19 anos


12 de agosto de 2019


Amanda Selfie é o nome da primeira robô trans do país. Ela foi desenvolvida por pesquisadores da Faculdade de Medicina da UFMG, da USP e do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia como uma estratégia de comunicação direcionada a um público específico. Sua missão é interagir com jovens de 15 a 19 anos, sejam homens gays, mulheres trans ou travestis, potenciais participantes da pesquisa que visa acompanhar o uso da Profilaxia Pré-exposição ao HIV (PrEP), o tenofir+entricitabina, proteção combinada contra a infecção pelo vírus causador da aids.

“Os jovens têm uma linguagem típica, bem diferente do linguajar mais formal dos pesquisadores. Para chegar até eles, é preciso falar a mesma língua. Muitos se sentem mais à vontade para conversar sobre sexualidade e prevenção no ambiente virtual”, comenta o professor Unaí Tupinambás, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina e um dos coordenadores da pesquisa.

Assim, nascida na era digital como uma ferramenta característica da chamada geração Z, Amanda usa uma linguagem acessível, recheada de gírias e expressões em pajubá, dialeto de origem iorubá usado pela comunidade LGBTQI+. O bate-papo com a assistente virtual possibilita tirar dúvidas sobre sexo, prevenção contra as infecções sexualmente transmissíveis (IST), cultura LGBTQI+, gênero e orientação sexual, entre outros assuntos. Embora as expressões sejam segmentadas, as orientações da “roboa”, termo usado pela própria Amanda Selfie, servem para todos os públicos.

De acordo com Unaí, o público do estudo ainda é invisibilizado, “não ocupam os espaços de sociabilização, não frequentam os serviços de saúde, não se sentem bem acolhidos e sofrem com o rompimento de seus laços familiares em razão de sua orientação sexual”. E essa invisibilidade potencializa o risco de infecção, já que a falta de informação é um dos fatores que mais contribuem para a epidemia da doença: em dez anos, o índice de detecção de aids quase triplicou na faixa etária de 15 a 19 anos. De acordo com o Unaids, programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids, a chance de homens que fazem sexo com homens se infectarem é 27 vezes maior do que na população geral e as mulheres trans é de 13 vezes mais.

PrEP

A PreP é um medicamento usado como método complementar de prevenção ao HIV, que deve ser combinado com outros métodos, uma vez que não previne contra a transmissão das demais ISTs. Sua eficácia em adultos foi comprovada por outros estudos já publicados. A proposta atual é verificar se haverá adesão entre os jovens. O medicamento é disponibilizado no SUS para pessoas acima de 18 anos e que correm mais riscos de ser infectadas pelo HIV.

Os jovens que se apresentarem para o estudo podem escolher ou não usar a profilaxia pré-exposição, e todos terão acesso a vários outros métodos que compõem o leque da prevenção combinada: camisinha, lubrificante, aconselhamento, teste para diagnóstico de HIV e outras ISTs, tratamento ou encaminhamento para serviço especializado, autoteste para HIV e vacinação contra hepatite A e B.

Em Belo Horizonte, os interessados podem comparecer ao Centro de Referência da Juventude (Rua Guaicurus, 50, na região central). Os atendimentos são realizados às segundas-feiras, das 18h às 21h, e de terça a sexta-feira, das 14h às 17h. Interessados em participar da pesquisa devem entrar em contato pelo telefone (31) 99726-9307.