Sem campanhas preventivas, HIV cresce entre idosos

Desinformação e hábitos de vida também levam a maior incidência do vírus nessa população


02 de dezembro de 2019 - , , ,


*Antônio Paiva

O número de idosos com HIV (vírus da imunodeficiência humana e causador da Aids) cresceu 103% nos últimos dez anos, segundo o Ministério da Saúde. Em mulheres com mais de 60 anos, houve aumento de 21,2% dos casos entre 2007 e 2017, de acordo com dados do Boletim HIV/Aids de 2018. Essa é a única faixa etária em que a incidência de mulheres com o vírus aumentou. Já na população masculina, o mesmo Boletim mostra crescimento de mais de 30% de idosos com o HIV.

Para o geriatra e professor do Departamento de Clínica Médica da UFMG, Marco Túlio Gualberto Cintra, a falta de campanhas para prevenção com foco na terceira idade é um dos motivos para o aumento da incidência do HIV nessa população. Além disso, o próprio hábito de vida dos idosos, que negligenciam o uso de métodos de proteção como os preservativos, torna essas pessoas mais vulneráveis ao vírus.

 “Na prática, eles também não foram incluídos nas campanhas. O esclarecimento que a população idosa tem sobre algumas infecções é muito menor do que a população adulta e mais jovem. (…). Além disso, nós estamos lidando com uma população em que a gravidez não é uma preocupação tão grande, o que dificulta a questão de utilizar o preservativo, por exemplo”, comenta o geriatra.

Sexualmente ativos

Além de se exporem a situações de risco para a infecção pelo HIV, a população idosa pode ter um diagnóstico tardio da doença. Isso porque, segundo Cintra, existe um estigma do profissional de saúde, que não considera a possibilidade de o idoso ter relações sexuais. Assim, a doença só é cogitada tardiamente, o que atrasa o diagnóstico e traz complicações para a saúde.

Saúde com Ciência desta semana aborda os avanços no tratamento do HIV doença, como funciona a “pílula anti-HIV” e as ameaças na oferta do tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).  Ouça aqui.

HIV acelera envelhecimento

 Os dados de incidência do HIV no Brasil seguem uma tendência mundial de aumento. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), se os casos da doença continuarem crescendo na mesma constância, em 2030, 70% da população mundial com 60 anos ou mais estará com o vírus. E, em idosos, a doença pode ser ainda mais severa. Por exemplo, a presença do vírus nessa população acelera o processo de envelhecimento. Com isso, a imunidade, que costuma diminuir com o envelhecimento, pode ficar ainda mais baixa com a presença do vírus.

“É muito importante estar atento a saúde desse idoso, porque determinadas condições crônicas de saúde podem ocorrer com maior volume ou mais precocemente por causa de um processo de envelhecimento mais acelerado que ocorre nos pacientes de HIV positivo”, alerta o professor Marco Túlio. Entre os problemas crônicos, o especialista menciona condições como infarto, acidente vascular encefálico (AVE) e tumores.

Doenças crônicas

Ao mesmo tempo em que as doenças crônicas podem ser desencadeadas com o vírus, a presença delas também pode afetar a eficácia do tratamento contra o HIV.  Para o controle de enfermidades como diabetes, hipertensão e colesterol alto, é preciso tomar fármacos que podem dificultar o tratamento.

Por isso, o professor enfatiza a importância do farmacêutico clínico nos cuidados do idoso com HIV. Esse profissional pode indicar medicamentos que não provoquem interações medicamentosas. “Ter um farmacêutico clínico na equipe que cuida desse paciente idoso com HIV é muito importante para evitar que uma doença atrapalhe a outra“, comenta Marco Túlio.

Sobre o Programa de Rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.

*Antônio Paiva – estagiário de Jornalismo
Edição: Karla Scarmigliat