Ser humano não pode fugir da solidão, diz palestrante


21 de maio de 2014


“A solidão é quase um parasita, é da condição humana. Nascemos sós, vivemos administrando essa situação, e morreremos sós. O problema é quando ela traz sofrimento”. A definição foi feita pelo professor aposentado da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, Eudis Garcia, nesta quarta-feira, 21 de maio, na última edição do projeto “Quarta da saúde” do semestre – antes da pausa para o recesso escolar e a Copa do Mundo de Futebol.

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À frente, o palestrante Eudis Garcia fala para o público do projeto Quarta da Saúde sobre solidão.
Foto: Bruna Carvalho

Segundo Eudis Garcia, dentre outras coisas, a solidão pode causar angústia, sensação de vazio, tédio e perda da autoestima. Mas ela não é necessariamente ruim: pode-se estar bem só. A solitude, por sua vez, é um estado de reclusão voluntária de alguém que busca estar em paz consigo mesmo.

Saber conviver com a solidão é um indicador de maturidade emocional e de saúde mental. Para o professor, essa capacidade é desenvolvida desde a infância, com o convívio familiar. “Quando uma criança chora, e tem instantaneamente o que deseja, alguém para atendê-la, ela não aprende a ficar sozinha, e quando mais velha, não tolera a solidão”, explicou.

Idade

O professor brincou que, ao comentar o tema de sua palestra, foi questionado se, então, seria uma apresentação direcionada aos idosos. “Mas a idade não está relacionada à solidão. Muitas pessoas já idosas se sentem mais libertas, ligadas ao mundo, podendo viajar e aproveitando a vida”, ponderou.

“Os relacionamentos hoje, principalmente dos jovens, são muito virtuais e, por vezes, eles tem milhões de amigos nas redes sociais e pouca convivência com família e amigos”, comparou. O individualismo exarcebado, o exibicionismo e a descartabilidade das coisas tornam essas relações vazias, podendo alguém se sentir sozinho mesmo em meio a uma multidão.

Saídas

Algumas circunstâncias, como o desemprego, o luto, a saída dos filhos de casa, além de algumas doenças mentais, podem levar ao isolamento. O autismo, a esquizofrenia e a depressão, por exemplo, podem causar perda de energia para buscar pessoas, além de melancolia e desprazer. “A depressão gera a solidão, mas o contrário não acontece, necessariamente. Hoje, o tédio, a tristeza, o vazio, estão sendo nomeados como depressão, e tratados com remédios, ao invés do método correto, que é a conversa, a terapia para a reinserção social. Além disso, o apoio familiar e dos amigos é essencial para tal”, explicou.

É preciso elaborar saídas antes de cair em desespero. Algumas tentativas, porém, são ilusórias, como o uso de álcool e drogas, a necessidade de consumir, o excesso de trabalho, das redes sociais e até mesmo da leitura e música – quando a pessoa exagera desses passatempos, cria um mundo próprio e desligado do resto. “Esses são métodos que trazem prazer momentâneo, e jamais substituirão a convivência humana”.

Sobre o Quarta da Saúde

A próxima edição do projeto “Quarta da Saúde” será no dia 20 de agosto de 2014, às 12h30, na sala 150 da Faculdade de Medicina da UFMG. O projeto é realizado sempre na terceira quarta-feira do mês. Excepcionalmente, nos meses de junho e julho, não serão ministradas palestras do projeto.

A proposta é abordar temas sobre saúde de forma ampla e com linguagem acessível ao público em geral. A iniciativa é do Centro de Extensão (Cenex-MED) e da Assessoria de Comunicação Social (ACS) da Faculdade de Medicina da UFMG.