Sífilis tem aumento de casos associado à falta de diagnóstico e tabus
Programa de rádio é dedicado à sífilis e aborda principais sintomas, formas de contágio e tratamentos da doença, além do aumento de casos no país
25 de novembro de 2016
Programa de rádio é dedicado à sífilis e aborda principais sintomas, formas de contágio e tratamentos da doença, além do aumento de casos no país
Infecção sexualmente transmissível (IST) altamente contagiosa, a sífilis se espalhou em escala global durante o século XV e nunca mais desapareceu entre as populações. Apesar da evolução dos tratamentos médicos e a descoberta da cura da doença a partir da penicilina, além da eficácia do preservativo, método simples que evita todas as IST’s, o Brasil registra um aumento expressivo no número de casos de sífilis. Entre 2014 e 2015, houve um crescimento de quase 33%, segundo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde.
Existem diversos fatores associados ao aumento dos casos nos últimos anos. O primeiro deles está ligado à manifestação corporal da doença, que é causada pela bactéria Treponema Pallidum. Em sua primeira fase, pequenas úlceras podem ser encontradas na genitália, boca ou ânus da pessoa infectada. Tais lesões, porém, são indolores, não sendo percebidas com facilidade, principalmente no caso das mulheres – em alguns casos, as feridas ocorrem no interior da vagina, o que dificulta o diagnóstico. “Essa úlcera é cheia da bactéria, então, se ela tiver relação sexual com outro indivíduo, vai transmitir nessa fase”, afirma a ginecologista e professora aposentada da Faculdade de Medicina da UFMG, Edna Maria Lopes.
Caso não seja feito o diagnóstico, a sífilis pode evoluir para uma fase secundária, quando as lesões sifilíticas surgem em outras partes do corpo, principalmente nos pés e mãos do indivíduo. Se não tratada a tempo, pode surgir ainda uma forma terciária, conhecida como fase latente da doença. Nela, as feridas se espalham pelos órgãos do corpo, com a possibilidade de consequências cerebrais e cardiovasculares, além de convulsões. Nos casos de sífilis congênita, em que há transmissão vertical da mãe para o filho durante a gestação, a especialista alerta: “Em criança, pode levar à microcefalia e até ao óbito”.

Exame de sangue VDRL faz o diagnóstico da sífilis, saiba mais no Saúde com Ciência. Foto: Reprodução
Outro fator envolvido no aumento desses casos está relacionado às dificuldades em conversar sobre sexo e sexualidade. Para o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Dirceu Greco, há diversos estigmas que pairam na sociedade que impedem, principalmente a população jovem, de adquirir preservativos para a prevenção da doença, seja por timidez ou medo de repressão. “Na maior parte das vezes, as pessoas não puxam o assunto, é difícil de conversar”, avalia Greco. Ele acrescenta que o tabu é reforçado por uma cultura preconceituosa ainda presente na população. “A mulher tem mais dificuldade de falar sobre isso e, no caso dos homossexuais, é pior ainda”, diz.
Buscando solucionar o problema, o Conselho Federal de Medicina recomendou aos médicos, durante as consultas de rotina, para sugerirem ao paciente a realização de exames para detecção das IST’s. Um ponto positivo na realização da sorologia para essas doenças, segundo o infectologista, está ligado ao fato de que, na maioria das vezes, o indivíduo não está infectado. “O ‘dar negativo’ quebra, talvez, um tabu, que é a conversa sobre o risco”, opina Greco. Para ele, é importante que haja abertura para o profissional da saúde orientar o indivíduo sobre a prevenção da sífilis.
Sobre o programa de rádio
O Saúde com Ciência é produzido pela Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.
O programa também é veiculado em outras 180 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.
Redação: Bruna Leles | Edição: Lucas Rodrigues