Stock Car desrespeita ciência, UFMG, pessoas e animais, afirmam Sandra Goulart e Beatriz Cerqueira

Reitora e deputada estadual falaram hoje em coletiva na Assembleia; a parlamentar anunciou nova ação popular e expectativa por liminar que suspenda a prova.


15 de agosto de 2024 - , , , , ,


Sandra Goulart falou à imprensa ao lado da deputada Beatriz Cerqueira, do professor Vítor Mourthé e da ativista Raquel Werneck
Sandra Goulart falou à imprensa ao lado da deputada Beatriz Cerqueira, do professor Vítor Mourthé e da ativista Raquel Werneck. Foto: @luizrochabh | Comunicação Mandato Beatriz Cerqueira

“Hoje, 14 de agosto, ainda véspera do evento da Stock Car, já acontece muito do que a UFMG previu há muito tempo sobre prejuízos para o ensino, a pesquisa e a extensão na Universidade”, afirmou, na manhã desta quarta-feira, a reitora Sandra Goulart Almeida, em entrevista coletiva na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Sandra reiterou que “não temos nada contra a Stock Car, mas as imediações da UFMG e do Mineirão não são lugar para um evento dessa natureza”.

A entrevista foi convocada pela deputada Beatriz Cerqueira, presidente da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da ALMG, que também está à frente do movimento que pretende impedir a realização do evento, marcado para o período de 15 a 18 de agosto (quinta a domingo). Participaram também o professor Vítor Mourthé Valadares, da Escola de Arquitetura da UFMG, e a ativista Raquel Werneck, do movimento Stock Car no Mineirão Não.

Segundo Sandra Goulart, não há nada que se possa fazer para mitigar os efeitos do ruído que será provocado pela corrida. “Estamos baseados em pareceres de especialistas da UFMG e do Conselho de Arquitetura e Urbanismo. A Justiça chegou a determinar ações de mitigação, mas nada foi feito pelos organizadores”, disse.

Frustração e revolta
Sandra lembrou que o Hospital Veterinário está a uma distância de 50 metros da pista. “Retiramos alguns animais, mas outros não podem ser deslocados, por causa dos enormes riscos para a saúde e para a vida deles. No Biotério Central e nos do Instituto de Ciências Biológicas, que são os locais apropriados para criação de roedores para pesquisa, o estresse causado pelo barulho muito acima do suportável pode causar mortes, abortos e mudanças que inviabilizam o prosseguimento de diversos estudos”, afirmou a reitora, acrescentando que foi acionada pelo Conselho de Ética do governo federal para fazer todos os esforços para reduzir os efeitos nocivos do evento. Essa também é a determinação do Conselho Universitário.

“Estamos fazendo tudo a nosso alcance, mas sabemos que não há como obter os resultados necessários. O sentimento da comunidade universitária é de frustração e revolta. Nós avisamos desde a primeira notícia sobre a realização da prova, e até podíamos ter ajudado de diversas formas a encontrar um lugar adequado para o evento. Não houve diálogo, o que recebemos foi a omissão do poder público e o descaso dos organizadores”, disse a reitora da UFMG, mencionando também prejuízos para a estrutura de prédios, decorrentes das obras para o evento, e problemas para acesso aos Centro Esportivo Universitário e ao Centro de Treinamento Esportivo da UFMG. Sandra Goulart revelou que foi criado um grupo na Universidade para acompanhar a situação em diversas frentes.

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Barreiras acústicas montadas na frente do Hospital Veterinário não conseguem reduzir nem metade do impacto sonoro necessário para cumprir os limites legais. Foto: Redes Sociais | UFMG

Limites e impactos
Beatriz Cerqueira anunciou que entrou com nova ação popular, na Justiça estadual, com base, principalmente, na legislação que determina licenciamento prévio para eventos do porte e da complexidade da Stock Car. “Estamos aguardando uma liminar que suspenda a prova, que está para acontecer de forma ilegal, causando prejuízos que não poderão ser reparados”, disse a parlamentar.

Cerqueira lembrou que houve duas audiências públicas – iniciativas das comissões de Educação e de Meio Ambiente – às quais não compareceram representantes da organização para ouvir e apresentar argumentos. “Nenhum estudo foi feito para a realização do evento em outro lugar. E antes da decisão por fazer a corrida no entorno da UFMG, seria preciso identificar, tecnicamente, limites e impactos. O evento está acontecendo sem limites nem contrapartidas”, afirmou. Ela anunciou que, se houver o evento, vai conduzir, já na segunda-feira, 19, uma nova visita técnica para apurar e relatar os danos para os animais e para as estruturas da Universidade.   

Vitor Valadares disse que, da forma que o assunto foi conduzido, o evento estará inevitavelmente fora da lei, já que as barreiras acústicas anunciadas não são capazes de reduzir nem metade do que é preciso para se chegar aos 55 decibéis determinados pela norma legal (o nível estimado de ruído é de 100 decibéis, isso a apenas 50 metros das instalações do Hospital Veterinário). Ele ressaltou ainda que a área reservada ao evento é protegida pelos órgãos de proteção do patrimônio.

A ativista Raquel Werneck também manifestou indignação. “A população da cidade se sente abandonada e desrespeitada. Os organizadores não estão preocupados com os moradores nem com o ecossistema e os animais. Nunca entregam dados e comprovações que confrontem os nossos dados”.

A  entrevista coletiva foi acompanhada pela TV UFMG. Assista à reportagem:


Centro de Comunicação da UFMG (CEDECOM)