Stock Car: duas semanas após a prova, acesso ao Hospital Veterinário segue prejudicado
Morosidade na desmontagem das instalações sobrecarrega tráfego na região, traz riscos para motoristas e impede que a rotina na unidade de saúde volte à normalidade
30 de agosto de 2024
A primeira edição da Stock Car em Belo Horizonte foi realizada há quase duas semanas, mas seus efeitos negativos seguem sendo sentidos por toda a região da Pampulha – em especial, nas vias que dão acesso ao Hospital Veterinário da UFMG. Ainda hoje, o acesso a essa unidade de saúde segue, na prática, interditado.
“Desde que a prova acabou, o trânsito tem sido liberado e interditado em horários aleatórios, sem aviso nem programação, para a desmontagem das estruturas da prova. São interdições alternadas, feitas todo dia, sem informação prévia e por tempo indeterminado, o que nos deixa completamente no escuro. Na prática, não é possível programar nada”, informa o professor Afonso de Liguori, diretor da Escola de Veterinária.
Em depoimento dado às 16h30 desta quinta-feira, 29 de agosto, Liguori ilustra o problema com uma imagem nítida. “Neste exato momento em que nos falamos, o trânsito na via que dá acesso ao hospital está completamente obstruído nos dois sentidos, por exemplo, sem que tenha havido qualquer aviso de que isso iria ser feito hoje. Em suma: de repente, mesmo que já esteja a caminho, nenhum paciente consegue chegar aqui”.
Segundo o diretor, a retirada do material está sendo feita em claro descompasso com o interesse público. “Para a desmontagem, não está sendo feito o mesmo esforço que fizeram para montar todas essas estruturas. Há uma morosidade, um descaso. Como já realizaram a corrida, parece que não há mais interesse em resolver o problema”, destaca.
Riscos
Essa morosidade nos trabalhos de desmontagem das estruturas da Stock Car tem chamado a atenção não apenas dos profissionais do Hospital Veterinário, mas de toda a comunidade da Universidade que passa pelas redondezas do Mineirão para acessar diariamente o campus Pampulha e sofre com os riscos causados pelas estruturas da prova automobilística. Em vários pontos da avenida Carlos Luz, por exemplo, em razão dessa retirada morosa e não sistematizada, acabaram restando bloquetes de concreto avulsos nas margens das pistas centrais da avenida. Em meio ao trânsito intenso do horário de pico, os motoristas que circulam na região são surpreendidos por essas estruturas e precisam fazer mudanças bruscas de faixa para escapar do risco de um acidente.
O problema se acentua particularmente em dias de jogos, como foi o caso desta quarta-feira, 28, em que o Cruzeiro jogou contra o Internacional no Mineirão. Sem ter como estacionar com segurança nas imediações do estádio por causa das estruturas da Stock Car, os torcedores acabam improvisando estacionamentos irregulares nas calçadas dos bairros adjacentes ao estádio.
Sem coordenação
Para Liguori, o número de pessoas trabalhando na desmontagem e recolhimento das estruturas é o mais perfeito exemplo do descaso demonstrado pelo poder público e pelos organizadores da corrida em relação ao interesse da sociedade. “A Escola de Veterinária fica em frente ao circuito, e daqui é possível ver que a equipe mobilizada para a desmontagem das estruturas de aço e concreto das provas é mínima; são pouquíssimas pessoas. Eles fecham a cada hora uma via aleatória, sem muita coordenação ou clareza, e recolhem uma pequena quantidade de materiais por duas, três horas. Na sequência, vão embora, para só voltar a mexer na coisa toda no dia seguinte. Não há um esforço concentrado para retirar tudo de uma vez”, destaca.
Em dias normais, o Hospital Veterinário atende de 70 a 100 animais por dia. Com a interdição alternada das vias (ora parcial, ora total), mas sempre sem aviso ou coordenação, essa média de atendimentos não foi restabelecida após o término da prova. Nos dias de realização da corrida, quando o trânsito ficou oficialmente impedido por completo na região, cerca de 400 animais deixaram de ser atendidos no hospital, conforme estimativa feita pela unidade. A mensuração objetiva de todos esses prejuízos – objetivos e subjetivos, financeiros e de saúde – causados pela Stock Car está sendo feita pelos técnicos da Unidade para um relatório que será remetido ao Ministério Público.
Enquanto isso, pessoas que precisam do atendimento do Hospital Veterinário da UFMG seguem parcialmente desassistidas, sem segurança para levar seus animais para a unidade de saúde, por não saberem se, no momento que alcançarem suas imediações, vão conseguir acessá-lo. “Está um verdadeiro caos”, resume o diretor. “Em suma, praticamente duas semanas após a realização do evento, estamos vivendo um nível de interdição semelhante ao dos dias de prova, em que tudo ficou completamente fechado. Na prática, o impacto é idêntico, pois ninguém consegue chegar com segurança aqui”, desabafa.
Aviso prévio
Há alguns meses, o diretor da Escola de Veterinária e a vice-diretora, Eliane Gonçalves, concederam entrevista à Rádio UFMG Educativa em que detalhavam as diversas implicações que a realização da Stock Car no entorno do Hospital Universitário teria para a unidade. A entrevista pode ser ouvida no link abaixo:
Ewerton Martins Ribeiro – Cedecom