Tabus e preconceito podem contribuir para a propagação de ISTs

É importante que pais e filhos conversem sobre sexualidade dentro dos lares. Falta de informação aumenta o risco de infecção


22 de fevereiro de 2022 - , , , , , , , ,


*Maria Beatriz Aquino


Mesmo com os avanços tecnológicos dos últimos anos, que ampliaram o debate sobre diferentes temas antes restritos a alguns locais ou grupos, temas relacionados à saúde sexual ainda são um tabu nos lares brasileiros. Uma pesquisa publicada pela Sociedade Brasileira de Urologia, em 2020, mostra que entre os entrevistados de 12 a 18 anos, apenas 30% afirmaram já ter conversado sobre sexo com a família. E uma das consequências de não conversar sobre esse assunto é a falta de informações sobre como se prevenir, o que tem contribuído para o aumento de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), especialmente entre os jovens.   

Para o infectologista e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Mateus Westin, o tema é estigmatizado principalmente entre os pais. Por não terem recebido educação sexual quando jovens, ainda existe uma dificuldade de se conversar sobre o tema com os filhos.

“Conversar sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis envolve falar de sexo. E as pessoas confundem a discussão de sexualidade com falar de sexo. [Elas] acham, equivocadamente, que tratar da temática nas escolas significa incentivar a prática sexual precoce por adolescentes, quando na verdade não é”

pondera Westin.

O professor complementa que estudos científicos ao redor do mundo mostram que os países que tratam a temática no ambiente escolar de forma adequada, apropriada para a idade e com base científica, tem a idade de início sexual postergada. A informação adequada sobre sexualidade também ajuda na prevenção da gravidez na adolescência. De acordo com dados do relatório do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), o Brasil está acima da média mundial quanto ao número de casos de gravidez precoce, com mais de 19 mil nascidos vivos por ano de mães com idade entre 10 e 14 anos. 

Tipos e prevenção

Embora algumas infecções sejam mais conhecidas e temidas, como o HIV, existem muitas outras, que podem ser dividas em dois grupos: aquelas que provocam úlceras e as que provocam corrimentos

No primeiro caso, o professor Mateus Westin cita como exemplo o HPV (vírus do papiloma humano), a sífilis e o herpes. É possível identificar sintomas nas regiões orais, genitais e anais, como a presença de feridas e pequenas bolhas que podem ou não causar dor. No segundo caso, dos corrimentos, a atenção deve ser com a clamídia e a gonorreia. Essas duas infecções são causadas por bactérias, que ficam presentes no corrimento uretral masculino e no colo uterino feminino e provocam dor ao urinar. 

O professor alerta também para infecções que podem permanecer assintomáticas, como o caso da tricomoníase, mais comum entre as mulheres. As hepatites virais A, B e C também são classificadas como ISTs. O tipo “B” é o que apresenta maior transmissibilidade por relações sexuais, principalmente anal. Já o tipo “C” é transmitidos por meio de objetos perfuro cortantes ou transfusão de sangue. 

A boa notícia é que já existem vacinas para as hepatites A e B e alguns subtipos mais graves do HPV, como aqueles que podem desenvolver câncer de colo uterino ou genital. Por isso, é fundamental se vacinar para manter a prevenção. Para as outras ISTs, o uso de métodos como preservativos femininos e masculinos segue como a melhor opção para a prevenção. 

O professor Mateus Westin esclarece, ainda, que as taxas de infecção por sífilis e HIV têm sido maiores entre o público jovem e já se manifestam como uma epidemia concentrada. Para se ter uma ideia, dados das estatísticas globais do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre AIDS apontam que, desde a década de 1980, o vírus já fez 36,3 milhões de vítimas no mundo. Por isso, é preciso que sejam direcionadas estratégias mais intensivas e específicas para que alcancem a adequada prevenção. 

“Apesar de numericamente ela estar presente em todos os segmentos da população, proporcionalmente há uma concentração da epidemia na população LGBTQIA+, entre profissionais do sexo, pessoas que usam drogas, privadas de liberdade ou com sofrimento mental” 

relata o especialista

Tratamentos 

Em 2015, o Brasil foi reconhecido como referência mundial no controle da epidemia de HIV pelo Programa Conjunto da ONU sobre AIDS, a Unaids. De acordo com o Ministério da saúde, 694 mil pacientes iniciaram o tratamento contra a infecção no ano passado no país. Mas falar sobre saúde sexual é, também, falar sobre acessibilidade. Por isso, é preciso lembrar que, apesar do aumento do número de pessoas com HIV que recebem tratamentos, há ainda 290 milhões de pessoas conviveram com hepatites virais em 2021 sem ao menos ter o conhecimento de que estavam contaminadas. 

Diante dessa situação, Mateus Westin ressalta a importância do diagnóstico. Por isso, caso surjam sintomas, é preciso procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e realizar testes rápidos, que estão disponíveis para hepatites, sífilis e HIV.

Para o tratamento, automedicação não é uma opção, já que os tratamentos podem variar de acordo com a infecção, desde pílulas e injeções, até cauterização de verrugas. Por isso, é imprescindível a orientação médica de um profissional. Além disso, o diagnóstico precoce pode ajudar no tratamento e combate de forma mais eficaz. Para saber mais detalhes sobre os tratamentos para ISTs, confira o programa “Saúde com Ciência” desta semana. Entenda, também, as probabilidades de aumento de casos nas possíveis comemorações de carnaval deste ano. 

Saúde com Ciência

Saúde com Ciência”  é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a quinta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.

*Maria Beatriz Aquino – estagiária de Jornalismo
Edição: Karla Scarmigliat