Tecnologia que usa luz de LED para calcular idade gestacional de bebês tem acurácia superior a 90%

Dispositivo desenvolvido na Faculdade de Medicina há seis anos foi aprimorado com técnicas de inteligência artificial.


08 de setembro de 2022 - , ,


O Premiee-Test, dispositivo ótico com processamento digital, apresenta elevada acurácia em separar pré-maturos de bebês a termo
O Premiee-Test, dispositivo ótico com processamento digital, apresenta elevada acurácia para separar pré-maturos de bebês a termo. Foto: Zilma Reis | UFMG

Um bebê que nasce antes de completar 37 semanas de gestação é considerado prematuro e pode não estar preparado para enfrentar o mundo fora do útero sem suporte adequado. Ter em mãos a cronologia gestacional correta é fundamental para ajudar no cuidado necessário para que o recém-nascido consiga sobreviver. A cada ano, a prematuridade provoca a morte de 1 milhão de bebês em todo o mundo.

Uma tecnologia inédita inserida em um equipamento denominado Preemie-Test, desenvolvido pelo grupo de pesquisa Skinage, da Faculdade de Medicina, coordenado pela professora Zilma Reis, teve validação de acurácia concluída e está pronto para ser produzido e disponibilizado para ajudar na redução do índice de mortalidade neonatal, especialmente em países de média e baixa renda. Os resultados acabam de ser publicados no Journal of Medical Internet Research.

O dispositivo ótico com processamento digital, que calcula automaticamente a idade gestacional dos recém-nascidos, com o uso de luz de LED, gerou resultado de concordância do valor da idade gestacional comparado com a melhor idade gestacional de referência de 0,969 (coeficiente de correlação intraclasse). Além disso, mostrou elevada acurácia em separar o bebê prematuro do termo (aquele que está efetivamente pronto para nascer). Isso significa que, a cada 100 bebês prematuros, 91 foram classificados corretamente pelo Preemie-Test. O ensaio clínico foi patrocinado pelo Ministério da Saúde, com recursos do Fundo Nacional de Saúde.

Segundo a professora, o dispositivo traz a concordância da cronologia gestacional com margem de erro com média de 1,3 dia, podendo variar de 21 a 18 dias, nas 24 horas de vida, frente àquela calculada pela data da última menstruação (30 a 23 dias) e a estimada com base em ultrassom obstétrico feito no segundo trimestre da gravidez (25 a 29 dias).

“Com esses resultados, acreditamos que, em cenários de parto com recursos limitados e informação de pré-natal precária, o teste poderá ser útil para direcionar cuidados imediatos adequados, como equipamentos para ajudar na respiração ou controle da temperatura, ou a transferência do recém-nascido, quando necessário, para centros de referência”, avalia a professora Zilma Reis. O teste é indicado para bebês que nascem sem ter a idade gestacional conhecida ou quando ela não é confiável. 

Aprimoramento

Após seis anos em desenvolvimento, o modelo tecnológico foi aprimorado com técnicas de inteligência artificial, utilizadas por pesquisadores das áreas da saúde, física e computação. A segunda etapa de validação do dispositivo foi realizada de junho de 2020 a abril de 2021 com 305 bebês nascidos com peso inferior a 2,5 quilos, em Belo Horizonte (Hospital das Clínicas da UFMG e Maternidade Sofia Feldman), e no Hospital Central de Maputo, em Moçambique. Essa etapa recebeu financiamento da Fiocruz e do Grand Challenges Canadá. Os dados encontram-se em análise, mas os resultados são muito promissores, afirma a professora.

“Em cenários de nascimento em que não se sabe a idade gestacional ou ela é imprecisa, existem riscos de os bebês não serem adequadamente reconhecidos, colocando em perigo a sua sobrevivência. No maior hospital de Moçambique, apenas 23% dos bebês testados foram examinados por meio de ultrassom obstétrico”, informa a professora. 

Na maioria dos casos, a idade gestacional foi calculada com as informações sobre o calendário menstrual. No entanto, a margem de erro nestes casos é muito grande, seja em razão de gravidez, do uso de contraceptivos, da amamentação ou da irregularidade dos ciclos menstruais de muitas mulheres. “Assim, confirmamos que os problemas na identificação dos prematuros ainda acontecem em muitos locais por causa do acesso limitado às tecnologias essenciais em saúde, como o cuidado pré-natal precoce e a pouca disponibilidade de ultrassonografia obstétrica”, observa Zilma. 

A empresa BirthTec, licenciada pela UFMG, com sede no Brasil e em Portugal, foi criada para produzir e comercializar o dispositivo em todo mundo. A distribuição será feita pela Maternal Health and Neonatal Health Solutions (Maternova).


 Teresa Sanches – Centro de Comunicação da UFMG