Temperaturas extremas são responsáveis por quase 6% das mortes em cidades, mostra estudo

Pesquisa com participação da Faculdade de Medicina analisou mais de 15 milhões de óbitos na América Latina.


01 de julho de 2022 - , , , , ,


As mudanças climáticas e a urbanização estão aumentando rapidamente a exposição humana a temperaturas ambientais extremas, com importantes impactos na mortalidade. Estudo do Salud Urbana en América Latina (Salurbal), com participação da professora da Faculdade de Medicina da UFMG, Waleska Teixeira Caiaffa, analisou a relação entre dias quentes e frios e mortalidade em 326 cidades de nove países da América Latina e descobriu que quase 6% de todas as mortes podem ser atribuídas às temperaturas extremas. Os dados foram publicados na revista Nature Medicine.

O estudo fez uma análise das temperaturas ambientais diárias e mortalidade nas cidades entre 2002 e 2015. O estudo incluiu mais 15 milhões de óbitos e as principais descobertas incluem a relação das temperaturas extremas com mortalidade por doenças cardiovasculares e respiratórias, além dos grupos mais vulneráveis.

Segundo os pesquisadores, idosos e crianças são especialmente vulneráveis às temperaturas extremas. Em dias muito quentes, o aumento de 1° Celsius na temperatura esteve relacionado ao aumento de 5,7% nas mortes. Outro dado que chamou atenção da equipe foi o fato de mais de 10% das mortes por infecções respiratórias poderem ser atribuídas ao frio extremo.

“Nossas descobertas ressaltam a necessidade premente das cidades se prepararem para as temperaturas extremas, cada vez mais frequentes e graves previstas para as próximas décadas. Devemos agir para identificar populações vulneráveis, adaptar a infraestrutura e melhorar nossa capacidade de responder prontamente às emergências que salvarão vidas à medida que enfrentamos as consequências das mudanças climáticas”, diz Josiah Kephart, da Drexel Urban Health Collaborative, principal autor do estudo.

Essas descobertas estão de acordo com as evidências que apoiam a necessidade de uma mitigação drástica das emissões de gases de efeito estufa para evitar os efeitos mais extremos das mudanças climáticas e proteger a saúde humana.

“A América Latina tem uma população urbana imensa em risco de exposição ao calor. No entanto, até agora poucos estudos documentaram as interligações entre temperaturas extremas e saúde nas cidades da região. A maior exposição ao calor é apenas um dos muitos impactos adversos das mudanças climáticas na saúde. Nossas descobertas se somam às evidências que mostram que é necessária uma ação urgente para lidar com as mudanças climáticas”, diz Ana Diez Roux, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Drexel e pesquisadora do Salurbal.

Além disso, acrescenta Daniel Rodríguez, professor e pesquisador da equipe da UC Berkeley que participou do projeto, “as tendências demográficas na América Latina – incluindo o envelhecimento da população, e a incessante busca do viver em áreas urbanas – tornam ainda mais críticos o entendimento dos riscos à saúde pública representados pelas mudanças climáticas na região. Precisamos buscar estratégias de adaptação próprias, conformadas ao contexto latino-americano”.

Além de Kephart, Diez Roux e Rodríguez, os autores do estudo incluem Brisa N. Sánchez (Drexel), Jeffrey Moore (Drexel), Leah H. Schinasi (Drexel), Maryia Bakhtsiyarava (Berkeley), Yang Ju (Berkeley), Nelson Gouveia (Universidade de São Paulo, Brasil), Waleska T Caiaffa (Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil), Iryna Dronova (Berkeley) e Saravanan Arunachalam (Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill).

Salurbal
O projeto Saúde Urbana na América Latina é um projeto de investigação que visa estudar como as políticas urbanas e o ambiente afetam a saúde das pessoas habitantes das cidades da América Latina. Os resultados deste projeto servirão de referência para informar futuras políticas e intervenções para tornar as cidades mais saudáveis, mais equitativas, e sustentáveis em todo o mundo. O Salurbal é financiado pela Wellcome Trust.

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Com informações da equipe do Salurbal e Nature Medicine.

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