Terapias complementares na promoção da saúde


11 de julho de 2017


Esta matéria faz parte de uma série sobre Terapias Complementares adotados como ações de promoção e prevenção em saúde no SUS

Neste ano de 2017, por meio da portaria nº 145/2017,  o Ministério da Saúde aumentou as opções de tratamentos complementares ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PICs) considera 19 terapias como “ações de promoção e prevenção em saúde”. Entre elas há a homeopatia, reiki, meditação, musicoterapia, Medicina Tradicional Chinesa/acupuntura, arteterapia, biodança, naturopatia, e yoga.

“Uma das ideias propostas por essas terapias é proporcionar ao indivíduo formas complementares de promoção da saúde, por exemplo, proporcionando uma ajuda mental, psicológica e espiritual para melhorar e prosseguir seu tratamento”, explica o professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, Rubens Tavares, pesquisador do grupo Terapias Complementares registrado na Pró-Reitoria de Pesquisa da UFMG. Tavares também é coordenador do Núcleo Avançado de Saúde, Ciência e Espiritualidade da UFMG (Nasce) da UFMG e da Liga Acadêmica de Saúde e Espiritualidade (Liase-UFMG).

A Yoga é uma das terapias complementares ofertadas pelo SUS. Foto: Banco de Imagens

Ele lembra que a decisão do Ministério da Saúde vai ao encontro da preconização da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o reconhecimento e a incorporação das medicinas complementares nos sistemas nacionais de saúde. “Nós que trabalhamos com essas terapias não pedimos que os pacientes deixem de tomar seus medicamentos alopáticos. Propomos que continuem com seu tratamento e, aos que têm interesse, complementem com essas terapias”, destaca Tavares. “Podemos propor yoga, por exemplo, para tentar diminuir o nível de estresse,  uma das doenças mais importantes da atualidade e muito frequente durante o tratamento médico”, completa.

Segundo o professor, em Belo Horizonte existem cerca de 28 Unidades Básicas de Saúde (UBS) que disponibilizam terapias complementares com homeopatia, acupuntura ou medicina antroposófica através do  Programa de Homeopatia, Acupuntura e Medicina Antroposófica da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (Prhoama), que existe desde 2006. “É um direito do cidadão ter esse tratamento. Mas, naturalmente, nossa visão acadêmica sempre vem acompanhada da dúvida. Eu não acredito na homeopatia friamente de olho fechado, assim como não acredito nos tratamentos convencionais sem questioná-los”, afirma. “O processo de estudo acadêmico deve ser contínuo para afirmar possíveis benefícios ou malefícios de tratamentos tanto alopáticos como complementares e esta é uma das funções da Universidade”, ressalta.

O diretor da Faculdade de Medicina da UFMG, Tarcizo Nunes, também professor do Departamento de Cirurgia da Instituição, concorda que a adesão desses métodos complementares pelo SUS irá ampliar as alternativas de tratamento e promoção à saúde. “Há espaço para todos, desde que não haja substituição de métodos alopáticos – como quimioterapia ou remédios de controle, por exemplo- e faça bem ao paciente”, lembra. “O que não pode, também, é confundir com o charlatanismo. É preciso se perguntar sobre o custo de determinadas opções alternativas que surgem”, acrescenta Nunes.

Papel da Universidade

“Ainda somos uma Faculdade muito tradicional, em que os conceitos de Medicina são antigos. Precisamos evoluir de fato para abrir a mente e os olhos para essas novas técnicas de tratamento, assim como nos abrimos para a Medicina de Família e Comunidade”, lembra o diretor da Faculdade. “Mas, efetivamente, não sei como e quando isso seria possível, tendo em vista que a grade curricular dos alunos de Medicina já é muito extensa, tendo muitas queixas sobre a falta de horários livres”, argumenta.

Segundo Tarcizo Nunes, seria necessário que os colegiados da Faculdade definissem uma comissão para estudar a viabilidade de incluir disciplinas com o tema no currículo. “Talvez com o Departamento de Medicina de Família e Comunidade haja essa abertura, já que é uma especialidade mais ampla sobre os temas que podem ser tratados, trabalhando tanto a prevenção da doença, como a promoção da saúde”, aponta Nunes.

O professor Rubens Tavares defende as novas adesões do SUS como mais um motivo para a Universidade promover o debate sobre o tema da medicina integrativa. “Acredito que as dúvidas sobre essa área seja maior do que na área acadêmica tradicional. Por isso, temos que promover seu estudo, avaliar se existe ou não eficácia, para inclusive alertar a população”, afirma.

Em 2015, mais de 30 mil consultas foram realizadas nas Unidades Básicas de Saúde por médicos do Prhoama, de acordo com Tavares. “Na época em que formei na UFMG, 1995, muitos professores tinham grande receio de indicar acupuntura. Hoje, já temos acupunturistas concursados no Ebserh – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, por exemplo. Então, vimos, nesse caso, que era uma questão de tempo e de maior estudo”, completa.

Ensino, Pesquisa e Extensão na Universidade

Para o professor Rubens Tavares, se “uma das missões da Universidade é trabalhar de forma indissociável o ensino, a pesquisa e a extensão, deve haver oportunidades para o aluno conhecer as terapias complementares”. Exemplificando com a existência do Instituto Confúcio da UFMG, que tem promovido cursos de Tai Chi Chuan, Tavares ressalta a importância da universidade abordar mais as terapias complementares em projetos de Ensino, Pesquisa e Extensão.

Estudos na Faculdade de Medicina da UFMG mostra benefícios da Homeopatia. Foto: Banco de Imagem

“Agora com essa questão legal da introdução das práticas integrativas pelo Ministério da Saúde, a Universidade tem mais um motivo para estudá-las”, conta. Em continuidade a sua justificativa, o professor lembra que a procura da população pelos métodos complementares existe e é alta, com isso há “certa obrigação acadêmica de estudar os efeitos dessas novas práticas na saúde das pessoas”.

Foi com a dúvida acadêmica sobre a veracidade dos efeito terapêutico dessas Terapias que criaram o grupo de pesquisa Terapias Complementares UFMG. O grupo, aprovado pela Câmara do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade, certificado pela Pró-Reitoria de Pesquisa da UFMG, tem estudado o tema e desenvolvido ensaios clínicos controlados.

“Há outros ensaios randomizados sendo feitos em outras universidades e aqui. Em um estudo recente, realizado pelo programa de Pós-Graduação em Oftalmologia e Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, percebeu-se que o medicamento homeopático mostrou-se eficaz no alivio de sintomas e nos sinais de ceratoconjuntivite primaveril”, exemplifica Tavares. Outra tese, da Natalia Champs, um ensaio clínico randomizado com orientação do Rubens, encontrou melhoria da qualidade de vida nas pacientes das UBSs que receberam tratamento homeopático, em comparação com o grupo que não recebeu.

“Também temos projetos de extensão em acupuntura, homeopatia, espiritualidade e toque terapêutico. Todos esses aprovados pela Câmara do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, pelos centros de extensão da Faculdade de Medicina e do Hospital das Clínicas da UFMG, seguindo as regras acadêmicas”, continua Tavares.

Em questão de ensino, como dito pelo diretor Tarcizo, a Faculdade de Medicina da UFMG ainda não oferece disciplinas na área. Mas há a opção de disciplinas optativas sobre Fitoterapia e Homeopatia. Nesta última, ministrada pelo professor Rubens Tavares, a estudante do oitavo período de Medicina, Clariana Contarini, é uma das discentes matriculadas. Ela conta que foi uma oportunidade de aprender a teoria daquilo que conhecia na prática, já que seus pais adotavam a Homeopatia desde sua infância.

“A disciplina é uma ótima oportunidade para os alunos conhecerem essa especialidade médica, seus princípios e suas técnicas, e, dessa maneira, saírem do senso comum preconceituoso que existe acerca desse assunto”, comenta Clariana. Sobre a iniciativa do SUS aderir práticas como essa para prevenção e promoção, a estudante considera um ganho para a população. “As práticas integrativas e complementares auxiliam no processo de recuperação da saúde e de desmedicalização. Também é uma forma de popularizar essas práticas, tornando seus benefícios conhecidos”, conclui.

Dentro das outras oportunidades na Universidade para debate e conhecimento sobre as práticas, Rubens Tavares convida os interessados para participar da mesa-redonda sobre práticas integrativas e complementares no 4º Congresso Nacional de Saúde. O evento terá a participação de um dos principais homeopatas do Brasil, Marcus Zulian Teixeira, professor da Universidade de São Paulo, no dia, 30 de agosto, das 8h às 9h30, no salão Nobre da Faculdade de Medicina da UFMG. Saiba mais no site do Congresso: www.medicina.ufmg.br/congressosaude/.

Homeopatia

O nome Homeopatia se refere a um sistema de terapia, fundada pelo médico alemão Samuel Hahnemann. Segundo a Associação Médica Homeopática de Minas Gerais, uma das sociedades reconhecidas pela Associação Médica de Minas Gerais, a Homeopatia utiliza o princípio do semelhante. Ou seja, busca tratar um indivíduo doente com uma substância (medicamento) capaz de provocar os mesmos sintomas da doença num indivíduo sadio. Por exemplo, em alguém com dor de cabeça ou enxaqueca, utiliza-se um remédio que tem a capacidade de produzir essa dor.

A Homeopatia utiliza o princípio do semelhante. Foto: Carol Morena

O professor Rubens Tavares lembra a questão “polêmica” sobre a presença ou não de matéria nos medicamentos homeopáticos, já que as substâncias são extremamente diluídas. “Do ponto de vista físico, praticamente não tem molécula. Esse é um dos principais motivos de desacreditação dentro da comunidade acadêmica”, informa.

“Sempre explicamos aos profissionais desta área que admiramos muito as Terapias Complementares mas temos muitas dúvidas acadêmicas. Temos conseguido trabalhar juntos em projetos de Ensino, Pesquisa e Extensão há vários anos com respeito mútuo. Assim, defendemos o diálogo e a construção conjunta de projetos”, enfatiza Tavares. Ele aponta que grandes centros de pesquisa no mundo e no Brasil (USP, Unifesp, UFMG) têm apoiado tais estudos e sociedades com peso científico, como a American Society for Reproductive Medicine, tem grupo de interesse especial em medicina complementar.

“Milhões de americanos utilizam a homeopatia, gerando um custo de cerca de 3 bilhões de dólares em medicamentos homeopáticos e 170 milhões de dólares para visitas médicas homeopáticas. Estima-se que um terço da população americana utilize medicina complementar. Esses dados por si só justificam a continuidade de pesquisas nesta área para justificar ou questionar seu uso”, completa o professor.

A homeopatia também é considerada uma especialidade médica, reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina, pela Associação Médica Brasileira e por vários conselhos da classe.

Leia mais:

Dossiê especial Evidências Científicas em Homeopatia

Espiritualidade e práticas integrativas serão abordadas em Congresso Nacional de Saúde