Trabalhadoras domésticas estão entre os grupos mais vulneráveis durante a pandemia

Professor dá dicas de como evitar o contágio durante o trabalho e a ida e volta para casa


01 de setembro de 2020 - , , , , ,


*Gabriela Meireles

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), em 2018, 6,23 milhões de pessoas ocupavam a categoria de trabalhadores domésticos, sendo que 92,7% eram mulheres. Durante a pandemia, o trabalho doméstico entrou no hall de atividades essenciais, impossibilitando que as empregadas pudessem fazer a quarentena. Em Belém, por exemplo, decreto que instituía o lockdown teve que ser modificado para retirar o trabalho doméstico da categoria dos serviços essenciais. Além disso, a grande maioria da categoria trabalha na informalidade – apenas 28% dessas trabalhadoras têm carteira assinada – e, por causa disso, temem demissão e diminuição dos salários. A soma de todos esses fatores é uma exposição maior e uma maior chance de contágio pelo coronavírus.

O professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade, Mateus Westin, explica que o risco acrescido de adquirir a infecção ocorre porque, ao trabalharem, as empregadas domésticas visitam as casas de outras pessoas. No caso de faxineiras e diaristas, a exposição é aumentada: “Quanto mais ambientes diferentes elas tiverem que atuar, maior será esse risco porque vão interagir com núcleos familiares diferentes e o risco está exatamente nessa interação, já que elas vão estabelecer algum grau de contato com pessoas com as quais essas trabalhadoras não estão convivendo em suas próprias casas”, avalia.  

Por isso, os cuidados são fundamentais para minimizar o risco de contágio no local de trabalho. “O ideal é que no dia do trabalho da empregada, os moradores não estejam ali. Mas, num contexto de quarentena, é muito improvável que os moradores não estejam em casa. Por isso, é preciso adotar as medidas mencionadas”, analisa.

Os cuidados são os mesmos que todo profissional em seu ambiente de trabalho deve observar: em primeiro lugar, manter um distanciamento social de uma pessoa para a outra, em todas as circunstâncias, de pelo menos dois metros. “Se precisar comunicar com as pessoas da casa, conversar, enfim, qualquer tipo de interação que seja, com dois metros de distância, com uso de máscara por todas as pessoas”, pontua Westin. “A gente sabe que, dentro da casa, as pessoas provavelmente não estarão usando máscaras, mas seria importante que, minimamente, todos usem máscara em momentos em que forem compartilhar o mesmo ambiente”, completa.

Apesar de ser importante, o uso da máscara não exclui os outros cuidados. Westin alerta: “É importante que as medidas fundamentais não sejam esquecidas pelo fato de as pessoas estarem usando máscara, seja a trabalhadora ou as outras pessoas que estão ali”. O uso da máscara vai dificultar que cada pessoa elimine as partículas respiratórias que possam conter o vírus e que a gente inale as partículas eliminadas por outras pessoas.  

“O uso da máscara é um método adicional da prevenção, mas ele não substitui os outros cuidados”

A higienização frequente das mãos também é muito importante. E deve ser feita com algum desinfetante, preferencialmente álcool em gel 70º ou mesmo com água e sabão. “A empregada vai entrar em contato com diversos objetos pessoais, roupas e superfícies que podem contar partículas respiratórias com o vírus infectante se uma das pessoas estiver com o coronavírus, mesmo que sem sintomas. Lembrando que a infecção pode ser transmitida por pessoas que eventualmente apresentarem pouco ou nenhum sintoma – que são os portadores assintomáticos”, explica. Além disso, é preciso evitar a comunicação verbal. Porque, ao falar, expelimos ar e, consequentemente, as gotículas respiratórias que podem conter o vírus.  

Outra medida é manter o ambiente o mais ventilado possível. “Com janelas abertas e o ar circulando, mesmo que as pessoas não estejam usando máscara, as partículas respiratórias eliminadas ao falar, respirar e tossir vão circular mais rapidamente e sair daquele ambiente, dada a circulação do vento”, sugere o professor.

Mas os cuidados não são restritos ao ambiente de trabalho. Segundo Westin, os transportes coletivos representam um maior risco de contágio, que aumenta ainda mais de acordo com a lotação do veículo. “Algumas medidas que podem ser realizadas é que se estabeleçam horários alternativos de chegada e saída do trabalho, para que eles e elas possam utilizar o transporte coletivo em horários em que haja menor quantidade de pessoas”, apresenta. Mas o ideal seria não utilizar o transporte público. “Quem puder ir e vir do trabalho por qualquer método alternativo seria o ideal, como ir a pé ou de bicicleta”, acrescenta.

Já que essa possibilidade não é razoável para a maior parte dos trabalhadores, a sugestão para quem anda de ônibus, metrô e até carros de aplicativo ou caronas é que esses veículos estejam bastante ventilados, com as janelas abertas e sem ar condicionado. Em casos dos carros de aplicativo ou caronas, você deve se sentar no banco de trás, no lado contralateral ao motorista.

O que é essencial?

O trabalho doméstico na pandemia é tema de série no programa Saúde com Ciência. Confira a programação:

:: Origens do trabalho doméstico no Brasil               
:: Exposição e risco ao coronavírus                  
:: Desemprego e subemprego na pandemia     
:: Condições de trabalho na pandemia            
:: Direitos e denúncias

Sobre o Programa de Rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.


*Gabriela Meireles – estagiária de jornalismo
Edição: Maria Dulce Miranda