Vigilância pode contribuir para reduzir acidentes de trabalho

No Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes de Trabalho, professor fala sobre a saúde do trabalhador


28 de abril de 2016


No Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes de Trabalho, professor fala sobre a saúde do trabalhador

28 de abril marca o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes de Trabalho. A data, estabelecida em 2003 pela Organização Internacional do Trabalho, foi escolhida devido a um acidente que matou 78 trabalhadores em uma mina no estado da Virgínia, Estados Unidos, em 1969. Segundo o professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG e coordenador do Observatório de Saúde do Trabalhador (Osat), Tarcísio Pinheiro, a data serve como um momento de reflexão. “Ela tem vários significados, mas acho que o mais importante é deixar vivo na nossa mente e na nossa memória, que precisamos enfrentar esse problema. Precisamos pensar sobre o que tem sido feito no sentido de modificar esse quadro trágico dos acidentes de trabalho”, explica.

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A falta de equipamentos de proteção é uma das causas de acidentes de trabalho. Imagem: reprodução/internet

Os acidentes de trabalho fazem parte da rotina de muitos trabalhadores e podem ocorrer por devidos fatores: lesões ocasionadas por esforço repetitivo; falta de equipamentos de proteção; máquinas com mau funcionamento; assim como episódios de estresse, ansiedade e depressão. De acordo com Tarcísio, as causas desses acidentes são complexas e precisam ser avaliadas com atenção. “Temos que ter em mente as causas estruturais para um acidente de trabalho: como esse trabalho é organizado, como ele é desenvolvido e como que entra o trabalhador nessa história. Temos que ter uma análise global de um acidente, que passa pelo processo de trabalho, pelo gerenciamento do trabalho, pelo trabalhador, pelo empregador e pelo estado, que faz a regulamentação de tudo isso. Cada caso merece uma analise profunda dos seus determinantes mais singulares e desses fatores mais gerais”, destaca.

O professor explica, ainda, que a saúde do trabalhador deve ser abordada do ponto de vista de vários setores do governo e da sociedade. “No Brasil, normalmente, essa parte de saúde e segurança no trabalho é conduzida por vários setores. Tradicionalmente, você tem o setor do trabalho, da previdência e o da saúde. Temos um conjunto de órgãos públicos que deveriam cuidar dessa situação. Chamamos isso de ações concorrentes, quando um problema de saúde do trabalhador é abordado por diversos setores de áreas diferentes”, esclarece.

Vigilância

Com a intenção de diminuir os casos de acidente de trabalho, vigilâncias são realizadas para verificar o ambiente de trabalho e possíveis locais ou fatores de risco. A visita dos profissionais também contribui para a identificação de trabalhadores que precisam ser afastados por doenças ou acidentes decorrentes das atividades exercidas. “Temos que pensar nas raízes sociais e macroeconômicas ligadas ao processo de trabalho. Temos que pensar nos riscos que podemos evitar, como é a organização do trabalho e como podemos atuar e intervir nesses processos de forma a evitar e prevenir os acidentes”, explica Tarcísio.

Segundo dados divulgados pela Previdência Social, em 2013 foram registrados 717.911 acidentes de trabalho no Brasil. Porém, o professor alerta que esses dados são parciais e limitados e os números de acidentes podem ser maiores do que são divulgados. “Precisamos ter em mente que esses dados, de certa forma, são subestimados. A realidade, certamente, é muito maior do que aparece. Os dados da Previdência Social refletem só a população formal do mercado de trabalho e nós temos um contingente muito importante da população que tem um vínculo informal com trabalho, que não aparece nas estatísticas”, afirma.

Ambulatório de Saúde do Trabalhador

Desde 1983, o Hospital das Clínicas da UFMG conta com o Ambulatório de Saúde do Trabalhador, que hoje é integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS). O ambulatório recebe pacientes de todo o estado de Minas Gerais, encaminhados pelo SUS e outros setores especializados. O espaço também tem como foco a formação, já que estudantes de Medicina, Fisioterapia e Terapia Ocupacional e residentes do Hospital das Clínicas, ajudam nos atendimentos.

“Atendemos, fundamentalmente, trabalhadores com suspeitas de doenças ou exposições em ambientes de trabalho. O ambulatório atende a todos os trabalhadores, independentemente se ele tem um vínculo formal ou informal, se ele é do meio urbano ou rural. Temos a pretensão de fazer uma abordagem coletiva, em uma perspectiva de não só fazer o diagnóstico e tratamento daquele caso, mas também de desenvolver ações de vigilância”, destaca.

Observatório de Saúde do Trabalhador

Além do ambulatório, a Faculdade também tem o Observatório de Saúde de Trabalhador de Belo Horizonte (Osat-BH), coordenado pelo professor Tarcísio Pinheiro. O ambulatório é fruto de um termo de cooperação técnica estabelecido com a Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. O Osat é um espaço institucional que visa desenvolver atividades técnico-científicas de extensão, pesquisa e ensino.